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Análise: Campanha de Lula resiste a antecipar pauta econômica e opta por guerra religiosa
Iniciando o segundo turno com apoios dos candidatos do centro que tiveram melhor resultado nas urnas, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) optou por radicalizar na guerra religiosa nas redes sociais em resposta à mobilização evangélica em favor do presidente Jair Bolsonaro (PL) na reta final de setembro.
O núcleo de campanha do PT preferiu postergar qualquer movimento que dê mais previsibilidade às suas diretrizes econômicas e até a eventuais nomes da área, caso o ex-presidente seja eleito.
O entendimento majoritário no QG lulista é o de que somente uma redução substantiva da vantagem para o rival levaria o candidato petista a acelerar indicações nesse sentido.
Chegaram ao entorno de Lula mensagens do empresariado cobrando mais clareza no seu programa, em especial no campo do equilíbrio fiscal, e sugestões de potenciais ministros da Fazenda como sinalizações de relevo para a segunda fase do pleito.
Segundo apurou o JOTA, os apelos reiterados ainda não convenceram o petista, que segue com o plano de driblar as polêmicas na área econômica, apostando na ampliação dos apoios de expoentes políticos centristas, sobretudo do PSDB e do MDB, além do protagonismo do vice Geraldo Alckmin, ex-tucano, como credenciais de moderação.
O que se discute no comitê petista, por ora, é uma articulação para reunir banqueiros e economistas que apoiam Lula num grande evento que simbolizaria aval de uma parcela expressiva do sistema financeiro à sua candidatura.
Entre eles estariam Armínio Fraga, Pérsio Arida e André Lara Rezende, todos prováveis componentes de um conselho consultivo que seria liderado por Alckmin para estudar soluções e fórmulas para subsidiar a equipe econômica de um futuro governo.
Setores mais moderados do PT têm defendido gestos mais robustos, como a produção de um documento com conceitos relacionados à gestão das contas públicas e até mesmo a apresentação de um candidato a assumir a Economia, com o figurino de Henrique Meirelles, por exemplo.
Ocorre que na cabeça do ex-presidente a hipótese de guindar seu ex-presidente do Banco Central para o cargo ainda é vista com reservas. Sobretudo porque o petista insiste que não pode cometer um “estelionato eleitoral”, depois de prometer colocar os “pobres no orçamento e os ricos no Imposto de Renda”.
Meirelles é o pai do teto de gastos e teria um perfil que não dialogaria com a perspectiva de expansão de investimentos públicos no principal reduto lulista, o Nordeste.
Interlocutores da campanha afirmam ainda que os rumos da política fiscal, monetária, do papel dos bancos públicos, da geração de emprego e renda já foram explicados “minuciosamente” em rodas de conversa com segmentos do mercado e do empresariado.
Há quem espere que a aliança “programática” firmada com Simone Tebet (MDB) ajude na tarefa de incorporar pontos de seu plano econômico, formulado pelo que a senadora chama de “melhor time de economistas liberais do país”, e possa viabilizar os acenos que o mercado deseja.
Fé e política
Na linha de frente da campanha de Lula, contudo, a ênfase estratégica está na ofensiva para rebater as notícias falsas que atribuem ao petista uma suposta perseguição a igrejas, padres e pastores. A avaliação do QG lulista é a de que foi o front religioso que impediu o ex-presidente de vencer a eleição no primeiro turno.
Além de montar um time de multiplicadores e influenciadores digitais para apresentar um discurso de contraponto, expondo imagens de Lula com lideranças de variadas denominações religiosas, a campanha quer levar o petista a solenidades como a Festa de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo, e o Círio de Nazaré, em Belém, ambas previstas para a próxima semana.
(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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