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Análise: Com apoio de Marina, Lula abre mutirão pelo “voto útil” mirando eleitores de Ciro
Em esforço para conquistar o voto útil, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) espera transformar a adesão da ex-ministra Marina Silva (Rede) num fato político com potencial para dar à sua candidatura um verniz de movimento suprapartidário contra o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com isso, o ex-presidente quer acenar sobretudo ao eleitorado de outro ex-ministro, Ciro Gomes, hoje candidato do PDT ao Planalto, com quase 10% das intenções de voto na média das pesquisas ao Planalto.
Embora tenha terminado a eleição de 2018 com 1% dos votos, em oitavo lugar, Marina obteve cerca de 20% dos votos em duas eleições nacionais — 2010 e 2014 —, ambas sem ter conseguido chegar ao segundo turno. Foram mais de 20 milhões de eleitores que seguiram fiéis à ambientalista nos dois pleitos.
Durante esse período, era Marina quem representava a “terceira via”. Estando no PV ou no PSB, a ex-ministra do Meio Ambiente se apresentava como porta-voz de uma parcela expressiva dos brasileiros que queriam evitar a polarização entre PT e PSDB.
Como Lula já conseguiu o respaldo de Geraldo Alckmin, um ex-tucano que tinha papel central nesse antagonismo com os petistas nos últimos 24 anos, a recém-anunciada aliança com Marina visa isolar Ciro, que desejou tê-la como vice na chapa e chegou a receber declarações veladas de apoio entre 2020 e 2021. Isso antes da criação da federação partidária que agregou ao núcleo do projeto lulista a Rede Sustentabilidade, sigla fundada por Marina.
Desde a formalização da federação, o PT e a vitória de Lula passaram a ser relevantes para a sobrevivência do projeto político dos “marineiros”.
Foram dadas, assim, as condições para a reaproximação consumada em evento festivo nesta segunda-feira, em São Paulo, novo domicílio eleitoral da ex-ministra, que busca agora uma vaga na Câmara dos Deputados, exatamente para manter vivas as aspirações de sua legenda.
Mais do que superar antigas e profundas divergências para se alinhar ao ex-presidente, Marina topou emprestar à candidatura do petista um verniz na área de sustentabilidade, que tem impacto eleitoral reduzido no Brasil, mas significado simbólico para a comunidade internacional. A ex-ministra é vista por atores relevantes da diplomacia global como uma porta-voz genuína da defesa da Amazônia e do combate ao desmatamento.
A sua imagem está associada no mundo todo ao ativista e líder seringueiro Chico Mendes, que foi assassinado no quintal da sua casa no dia 22 de dezembro de 1988. Morto com tiros de espingarda a mando de um fazendeiro local, Mendes virou um mártir da agenda ambiental brasileira e foi um amigo próximo de Marina, que o conheceu quando tinha apenas 17 anos no Acre, onde ambos viviam.
Veja bem
Se abre frentes importantes no campo político para Lula, Marina Silva fecha algumas portas para a campanha do petista, especialmente no agronegócio, onde Alckmin foi escalado para dirimir tensões, participando de uma série de reuniões no interior de Minas Gerais e São Paulo.
A ex-ministra perdeu o cargo no governo Lula exatamente por exigir mais rigor nos licenciamentos ambientais, tema que ainda provoca inquietação em ruralistas, alinhados majoritariamente ao governo Jair Bolsonaro.
(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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