XP Asset espera juros ainda mais altos nos EUA e vê pouca assimetria nos mercados no Brasil

Gestora vê caminho longo até que principais bancos centrais do mundo consigam trazer a inflação de volta às metas

O quadro disseminado de pressões globais de preços e desequilíbrio entre a demanda e oferta de commodities, especialmente o petróleo, ainda deve gerar dificuldade para que os principais bancos centrais do mundo consigam trazer a inflação de volta às metas. Assim, os profissionais da XP Asset enxergam níveis de taxas de juros ainda mais altos nos Estados Unidos, o que se traduz em posições tomadas (que apostam na alta) na curva americana.

“Mantemos posições apostando na alta de juros nos Estados Unidos. Muitas pessoas perguntam qual é o nível que as taxas podem chegar e o que podemos fazer é procurar analogias históricas. Em 2005 e 2006, com uma economia muito mais alavancada, o Federal Reserve precisou de um juro superior a 5%”, lembra o sócio e gestor de multimercados da XP Asset, Bruno Marques, em evento organizado pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).

Hoje em dia, segundo ele, há muito mais poupança do que crédito na economia americana, o que, em tese, deveria fazer com que a necessidade de aperto fosse ainda maior. Por outro lado, pondera Marques, as condições financeiras da economia passam por um processo de aperto significativo devido à queda nas bolsas e alta dos juros, o que serve como um atenuante para níveis ainda maiores de taxas à frente.

“Temos muita dificuldade em ver os Fed Funds abaixo de 3,5% no fim do ciclo. Acreditamos que poderia superar esse patamar, mas não por uma margem muito grande”, afirma.

Assim, o gestor aponta que, desde meados de dezembro de 2021, os fundos da XP Asset carregavam posições vendidas em bolsa americana, estratégia que foi zerada com a convergência dos múltiplos do S&P 500 para níveis mais semelhantes aos da média histórica.

“Nas últimas semanas, a bolsa americana foi para um patamar condizente com a média histórica, com o P/E (múltiplo de preços sobre lucros) voltando para a casa de 16,5 vezes. Optamos por zerar a posição vendida”, conta Marques, que ainda revela pequenas posições vendidas em bolsas europeias já que, em sua visão, a zona do euro deve sofrer, para além do cenário de aperto monetário, com os efeitos da guerra da Ucrânia e de sua proximidade comercial com a China.

No Brasil, por outro lado, o cenário é de menor visibilidade e, segundo o gestor, “não há prova fácil”. Marques observa que, nos últimos anos, em um ambiente de maior controle das contas públicas e taxas de juros em queda, a XP Asset esteve comprada em bolsa brasileira, em posições que surtiram retornos bastante positivos.

“Bolsa, na minha visão, é um ativo bom quando o país está crescendo ou quando o juro está caindo. Apesar do crescimento deste ano, há perspectivas ruins para o ano que vem e temos muita dificuldade em enxergar os juros caindo”, diz o gestor.

Marques afirma que, até recentemente, as maiores posições no Brasil eram compradas em inflação implícita, que foram reduzidas devido a receios de “canetadas do governo”. “Temos pequenas posições compradas em dólar e vendidas em bolsa. Não vemos grandes assimetrias positivas no Brasil e, atualmente, nossas posições são pequenas e com um viés um pouco mais pessimista”, conclui o profissional.