Por que o Wells Fargo avalia que a valorização do real não deve prosseguir

Banco projeta 'período de elevada volatilidade' após as eleições e dólar a R$ 5,10 no fim de 2022

O fortalecimento do real observado nos últimos dias não deve ter prosseguimento e os riscos ligados à eleição presidencial, além de um ciclo maduro de aperto monetário, podem gerar uma fraqueza da moeda brasileira no longo prazo, avalia o estrategista Brendan McKenna, do Wells Fargo. O banco espera que o dólar encerre a primeira metade do ano em R$ 4,90 e que chegue a R$ 5,00 no fim do terceiro trimestre e a R$ 5,10 no fim deste ano.

“O desempenho e a resiliência do real foram impressionantes neste ano, mas continuamos acreditando que os desdobramentos da política monetária e os riscos políticos devem resultar em pressão de desvalorização da moeda brasileira no médio e no longo prazo”, afirma McKenna em relatório enviado a clientes. “No período que antecede a eleição, continuamos a acreditar que o presidente Jair Bolsonaro irá procurar estender os estímulos fiscais, em um esforço para reunir apoio eleitoral. Esse apoio deve prejudicar as finanças públicas do Brasil, que, dada a situação frágil, podem contribuir para suavizar o sentimento em relação ao país”, avalia.

Para ele, na medida em que haja uma piora nas contas públicas, o sentimento do mercado em relação ao Brasil pode se tornar mais negativo, o que deve enfraquecer o real. “Estímulos fiscais adicionais devem pesar sobre a divisa brasileira à medida que os mercados se preocupam com a sustentabilidade da trajetória da dívida pública. No momento em que essas preocupações aumentarem, a pressão de venda deve aumentar sobre o real”, afirma o estrategista. Para ele, em um cenário de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as preocupações fiscais podem estar no foco dos participantes do mercado “e esperaríamos um período de elevada volatilidade do real após a eleição”.

Quanto à política monetária, o Wells Fargo espera que o Banco Central efetue um aumento final de 0,5 ponto na Selic em junho, o que levará a taxa para 13,25% no fim do ciclo. “Os riscos em torno de nossa previsão estão inclinados para mais aperto e uma alta de 0,5 ponto em agosto ainda é possível”, ressalta McKenna. Para ele, leituras de inflação acima do consenso do mercado em maio e em junho poderiam resultar em um novo aumento na Selic em agosto.

“Independentemente de quando o ciclo de aperto terminar, acreditamos que o BC do Brasil pode ser um dos primeiros bancos centrais sistemicamente significativos a começar a reduzir as taxas de juros”, diz o estrategista. Ele avalia que até meados do próximo ano a autoridade monetária brasileira pode começar a relaxar o aperto e reduzir a Selic para dar apoio ao crescimeno. “Como o Fed provavelmente aumentará as taxas de juros no próximo ano, trajetórias divergentes para a política monetária também podem contribuir para a pressão de depreciação de longo prazo sobre o real brasileiro”, ressalta McKenna.