Jackson Hole: o que esperar do discurso de Jerome Powell nesta sexta-feira?

Tradicional simpósio anual realizado nos EUA reúne banqueiros centrais, formuladores de políticas, acadêmicos e economistas de todo o mundo

As atenções dos investidores globais estão concentradas neste semana no Simpósio de Jackson Hole, em Wyoming, nos Estados Unidos.

Realizado pelo Federal Reserve (Fed) de Kansas City, o tradicional evento no oeste americano reúne banqueiros centrais, formuladores de políticas, acadêmicos e economistas de todo o mundo.

A 46ª edição tem como tema “Mudanças Estruturais na Economia Global”, com as discussões avaliando principalmente os efeitos das medidas no pós-pandemia.

“Os banqueiros centrais devem enfatizar que a atual perspectiva de política monetária é altamente dependente de dados econômicos. E provavelmente relutarão em se comprometer previamente com um determinado caminho”, avalia David Kohl, economista-chefe do Julius Baer, em relatório.

Powell, a grande estrela

Assim, dentro de toda a agenda de debates, o momento mais esperado em Jackson Hole será o discurso do presidente do Fed (o banco central dos EUA), Jerome Powell. Esse, aliás, está previsto para esta sexta-feira (25), às 11h05 (horário de Brasília).

Você poderá acompanhar pelo canal do Fed Kansas no YouTube.

A fala de Powell ocorre em um momento em que o mundo quer saber o rumo dos juros americanos. Afinal, depois de elevar a taxa em 0,25 ponto percentual na reunião de junho, para o intervalo de 5,25% a 5,50%, o Fed não sinalizou qual a tendência para o encontro de setembro.

“Qualquer pista sobre o caminho futuro da política monetária nos EUA será o foco dos mercados financeiros”, afirma David Kohl.

Aqui no Brasil, por exemplo, a chance de o Fed aumentar mais os juros até o fim de 2023 foi um dos fatores que contribuíram para azedar o humor na bolsa.

O Ibovespa, principal índice do mercado de ações doméstico, emendou uma sequência histórica de 13 perdas seguidas em agosto.

Isso mesmo após, na direção oposta de parte do mundo, o BC local ter começado a cortar a taxa básica de juros do país.

Aperto monetário até quando?

Mas, voltando ao aguardado discurso de Jerome Powell, que influenciará o desempenho dos ativos brasileiros, o economista-chefe do Julius Baer escreve que os principais dados mostram que, apesar das leituras de inflação ainda altas, as pressões de preços e salários estão se dissipando.

Isso, na visão dele, fornece suporte para uma desaceleração no ritmo de subida dos juros.

Ao mesmo tempo, considera o especialista, apesar de um aperto monetário global recorde, a economia tem sido muito mais resiliente e parece capaz de crescer apesar das altas taxas de juros.

“Em tal situação, o pré-compromisso do banco central com uma política futura pode ser enganoso para os mercados financeiros. E, assim, fornecer um incentivo para ignorar a incerteza embutida nas perspectivas atuais de crescimento e inflação”, alerta o economista.

“A discussão deve fornecer pistas importantes sobre quão permanente será o atual nível elevado das taxas de juros e quão relutante o Fed está em cortar as taxas no futuro se os índices de inflação continuarem caindo”, completa.

Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities e colunista da Inteligência Financeira, o mercado irá prestar atenção no cenário traçado por Powell.

Pausa dos juros?

Os agentes financeiros buscam capturar detalhes de até onde pode ir a (momentânea) pausa dos juros.

“O foco ou objetivo de Powell é entregar um discurso com um tom equilibrado indicando o progresso alcançado até agora, mas sem ser mal interpretado pelos mercado como um sinal de cortes nas taxas de juros”, afirma.

O estrategista da Avenue prossegue e diz que o chefe do BC americano tende a seguir salientando os efeitos retardados do impacto da política monetária na economia.

Além disso, ressaltar a necessidade de se manter os juros elevados, reiterando o compromisso de levar a inflação à meta, que é de 2%.

“Não devemos ver uma direção clara dos juros para o encontro de setembro, uma vez que ainda tem um mês para a definição. Powell deve seguir adotando a ideia da dependência dos dados para definição dos juros sem dar um orientação futura mais concreta”, completa William Castro Alves.