Dólar abaixo de R$ 4,50? Gestora diz que cenário é possível ainda em 2022

Persevera avalia que a guerra no Leste Europeu e as eleições presidenciais brasileiras não devem barrar a tendência de queda da moeda americana

A tendência de queda do dólar observada nos últimos meses e intensificada nos últimos dias, após a moeda furar a barreira dos R$ 5, não deve parar tão cedo, empurrando a divisa americana para níveis ainda mais baixos. A visão é defendida por Guilherme Abbud, sócio-fundador da Persevera, que vê uma forte tendência de valorização do real ao longo de 2022 e dos próximos anos. “Não demora muito para o dólar estar na casa dos R$ 4,70. É possível que vá abaixo dos R$ 4,50 ainda nesse ano”.

Abbud acredita, ainda, que o dólar pode chegar a R$ 4 em 2023 e que deve cair ainda mais nos próximos anos. O sócio da Persevera explica que sua expectativa se deve a alguns motivos, como a forte desvalorização que o real sofreu nos últimos anos, além da mudança da percepção da situação fiscal do país e, também, do próprio movimento pendular das moedas.

“O câmbio tende a se desvalorizar muito em períodos ruins, se afastando bastante de um valor de referência justo. Depois de um tempo, é normal que ele volte com força”, comenta. Na visão de Abbud, houve no país um “exagero de temor sobre um descontrole fiscal no Brasil”, que se somou às sinalizações do Banco Central de que não interveria no câmbio, o que afastou investidores estrangeiros do país. “Todo mundo saiu vendendo real e comprando dólar.”

Entretanto, a desvalorização da moeda brasileira gerou uma balança comercial superavitária e, além disso, simultaneamente, o país viu sua taxa de juros atingindo níveis muito altos, o que voltou a atrair os investidores que haviam saído anteriormente. “Quando você tem essas coisas alinhadas, como o câmbio longe do ponto de equilíbrio, que seria R$ 4,50, e um ‘carry’ gigantesco, esse é o resultado.”

Mesmo eventos que podem trazer mais volatilidade, como a guerra entre Ucrânia e a Rússia, que permanece indefinida, e as eleições presidenciais brasileiras, não devem barrar a tendência de queda do dólar. “O movimento pendular é mais forte. Ele não vai ser unidirecional, pode dar uma parada e voltar, mas a massa vai ser vendedora de dólar”, diz Abbud.

O gestor comenta que o real é uma das posições mais importantes para a Persevera no momento e revela que a casa está com posições compradas em real e vendidas em dólar. “Não estamos com nenhuma vontade de reduzir porque chegou a hora da devolução do pêndulo”, afirma o profissional.