Índice FipeZap+, que acompanha preços de imóveis em 50 cidades, tem maior alta em sete anos

Reajuste em 2022 vem acima da inflação, com juros e custos mais altos
Pontos-chave:
  • Selic subiu de 2% a 11,75% em menos de um ano. Guerra na Urânia impacta valor das matérias-primas da construção civil

Realizar o sonho da casa própria ficou mais difícil em 2022. O preço dos imóveis deve ser reajustado acima da inflação este ano, segundo especialistas, com o aumento da taxa básica de juros (Selic), que encareceu o financiamento ao consumidor e às incorporadoras.

Os custos da construção civil subiram, pressionados também pela guerra na Ucrânia. A alta será mais concentrada no segmento de alto padrão, que tem mais condição de absorver o impacto, e em cidades e regiões em que o estoque de unidades prontas foi reduzido nos últimos dois anos.

“Em 2021, houve cidades em que o preço subiu acima da inflação. Foi um ano bom em lançamentos e vendas. Com mais venda do que lançamentos. Isso reduz o estoque de imóveis prontos e a tendência é que os novos cheguem ao mercado com preço maior”, prevê Claudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio.

Ele diz que não dá para repassar todo aumento de custo sob risco de não vender. “O ajuste será onde há maior demanda e no alto padrão.”

Em 2021, lançamentos e vendas de imóveis residenciais bateram recordes. Cresceram 27% e 4%, respectivamente, segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e Fipe em pesquisa com 18 incorporadoras.

Também no ano passado, o índice FipeZap+, que acompanha preços em 50 cidades, subiu 5,29%, a maior alta em sete anos. Os preços tiveram ajuste abaixo da inflação, que foi de 10,06% em 2021.

A economista Larissa Gonçalves, do DataZAP+, fez um recorte com dados do Índice FipeZap+ mapeando a variação para residenciais em São Paulo, Rio, Curitiba, Florianópolis, Goiânia e Recife, em imóveis novos e usados de dois e três quartos em 2021. Houve alta em todas as cidades. Para ela, o aumento segue este ano.

“As vendas ainda estão altas como reflexo do aquecimento do ano passado. A tendência é que os preços continuem a subir, porém menos, em razão da queda na demanda, com o aumento da Selic.”

Os juros têm papel central no mercado imobiliário. Até meados de 2021, a Selic estava no seu patamar mais baixo, em 2% ao ano, o que deu impulso às vendas.

Depois disso, para frear a inflação, o Banco Central elevou os juros nove vezes seguidas, chegando agora a 11,75%. Mas o mercado espera que alcance 13,75%, com a inflação em 11,3% no acumulado em 12 meses até março.

“Ninguém esperava, no início de 2021, a inflação acima de 10%. Este ano, as incorporadoras não terão mais como segurar o repasse. O reajuste, sobretudo nos lançamentos, será superior à inflação, com a alta dos materiais de construção — diz Paulo Pôrto, professor de Negócios Imobiliários da FGV.”

Para ele, imóveis populares e até de médio padrão tendem a ser afetados porque a margem de negociação é estreita. Segundo ele, a conjuntura favorece o aluguel — já que muitos adiam o sonho da casa própria com preços mais altos — e o mercado de usados e de compra de imóveis remanescentes das construtoras (estoque), nos quais há mais espaço para barganhar.

O empresário Alan Victor Sales, de Araruama, na Região dos Lagos, pesquisava desde 2021 com a intenção de se mudar para o Rio, onde ficam seus clientes. Para fugir das idas e vindas, optou por um imóvel usado, em Copacabana, e teve desconto de R$ 40 mil:

“A ideia era comprar à vista, mas isso levaria mais uns três anos. E como eu queria para logo, acabei comprando.”