Haddad: ‘Esforço fiscal daria segurança para iniciar queda da Selic’

Sem criticar diretamente o Banco Central, o ministro da Fazenda voltou a cobrar corte do juros

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou nesta sexta-feira, em entrevista à rádio CBN, que já seria possível iniciar a “recalibragem da taxa de juros”, iniciando o ciclo de cortes.

“Hoje li no Valor Econômico, um veículo que se dedica à economia, uma crítica à decisão [do Copom]. Honestamente, acho que já poderíamos iniciar a recalibragem da taxa de juros”, afirmou.

“A projeção da inflação para o ano que vem está muito moderada, por causa de todo esse esforço que o Banco Central fez e que agora o governo está fazendo de debelar a crise fiscal herdada do governo passado”, analisou.

O ministro ponderou que, com o “esforço [fiscal] que foi feito nesses quatro meses” e com indicadores econômicos recentes mais favoráveis “daria segurança de começar um ciclo de queda da Selic”. “Mas eu respeito o BC, tem uma institucionalidade. O BC tem técnicos extremamente qualificados”, elogiou.

“Mas não podemos cair no erro de que tudo que coloca um ponto de reflexão sobre a atuação da autoridade monetária é político. Não é político, estou falando tecnicamente, o jornal Valor Econômico está falando tecnicamente”, complementou.

Haddad usou o exemplo do setor de automóveis. “Se tivéssemos vendendo carros mais rápido, gerando mais empregos, iria gerar inflação, se tem 50% de capacidade ociosa [no setor]?” “Mas a decisão não é minha [sobre juros]. Mas estou, de boa-fé, colocando uma reflexão para a sociedade”.

Meta inflação

Fernando Haddad, defendeu também, na entrevista à rádio CBN, a meta de inflação contínua. Atualmente no Brasil, o objetivo deve ser perseguido por ano-calendário.

“Penso que a meta contínua é muito melhor que a meta-calendário. Meta calendário é quando se diz que a inflação em 2024 tem que ser de 3%. A meta contínua é que a inflação brasileira tem que ser de 3% e o Banco Central desenha a trajetória de atingir esses 3%, que pode ser em 2025, por exemplo. Você não tem o calendário gregoriano, mas tem a trajetória que vai fazer chegar a 3% sem desorganizar a economia”, detalhou.

Segundo ele, esse debate da meta está ocorrendo em outros países, mas que o governo vai anunciar “depois de tomada de decisão”.

Haddad falou, ainda, sobre o alto grau de indexação da economia brasileira.

“Temos um segundo problema que já pedi para estudar que é a indexação da economia brasileira. O Brasil é mais indexado que os demais países. Talvez a gente ajude muito a autoridade monetária resolvendo esse problema, mas tem que saber como. É um problema que está há 20 anos aí. Temos que estudar isso porque as trajetórias se tornam mais suaves e menos onerosas do ponto de vista social”, ponderou.