Powell reconhece que patamar dos juros nos EUA pode estar no limite máximo

Fed anunciou nesta quarta aumento de 0,25 p.p. na taxa de juros
Pontos-chave:
  • O Fed aprovou seu décimo aumento da taxa de juros em pouco mais de um ano e deu um leve indício de que o atual ciclo de aperto está chegando ao fim

O presidente do Fed, Jerome Powell, se pronunciou sobre a decisão do Fed de aumentar os juros novamente. Powell destacou que ainda não é possível enxergar o fim da política de aperto monetário nos Estados Unidos, embora reconheça que o atual estágio pode, sim, estar no limite máximo.

“Achamos que chegamos a esse ponto (de fim da alta dos juros), mas não é possível dizer isso com certeza agora”, diz o presidente. “Antes de realmente declararmos isso, teremos que ver os dados se acumulando”, completa.

O discurso foi feito na tarde desta quarta-feira (3), logo depois de o Fed anunciar aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de juros nos EUA, em alinha com as projeções do mercado. Com isso, o intervalo anual passa de 4,75% a 5% para 5% a 5,25%.

Ele avalia que a inflação, que tem dados sinais contraditórios nos últimos meses, ainda é uma preocupação.

“Portanto, nós do comitê, temos uma visão de que a inflação não cairá tão rapidamente. Vai levar algum tempo. E nesse mundo, se essa previsão estiver certa, não seria apropriado cortar as taxas. Não vamos cortar taxas”, arremata.

Powell relembra que o resumo das projeções econômicas da reunião de março mostrou que, naquele momento, o Fomc pensou que o nível dos juros ali definido era o máximo necessário para controlar a inflação, o que não se confirmou.

Recessão

Powell destacou a função do Fed de controlar a inflação, ainda que correndo o risco de desacelerar demais a atividade econômica. Porém, ele avalia que “é possível que o cenário seja diferente” do imaginado por analistas, que enxergam recessão no horizonte.

“E a razão é que há demanda em excesso no mercado de trabalho. A taxa de desemprego é de 3,5 por cento. Praticamente onde estava, mais baixo do que quando começamos”, avalia.

Emprego

Os Estados Unidos possuem hoje 1,6 vaga de emprego para cada desempregado.  Além disso, segundo Powell, há “uma nova oferta de mão de obra chegando”, o que torna ainda mais complexo o cenário, com o mercado de trabalho americano acumulando mais vagas de trabalho do que trabalhadores para ocupá-las.

Isso significa, na visão do Fed, que, ainda que a política de juros se mantenha restritiva, ela afetaria as vagas em excesso, e não os postos de trabalho já consolidados.

“O mercado de trabalho está muito, muito forte. Considerando que a inflação está em alta. Bem acima do nosso objetivo. E agora precisamos nos concentrar em reduzir a inflação. Até agora, conseguimos fazer isso sem que o desemprego aumentasse”, comemora Powell.

“Me parece que é possível continuarmos a ter um arrefecimento no mercado de trabalho sem ter os grandes aumentos do desemprego que ocorreram em muitos episódios anteriores. Agora, isso seria contra a história”, acrescenta.

Salários

Outra questão que mostra o cenário ainda pressionado é o aumento anual do salário no país, de 5%. “Aumentos salariais mais próximos de 3%, aproximadamente, é o que seria necessário para conseguir ser consistente com a inflação por um período mais longo de tempo”, diz.

Apesar disso, Powell ressalta que não acha que os salários sejam o principal impulsionador da inflação. “Eles tendem a se mover juntos e é muito difícil dizer o que está causando o quê. Eu nunca disse que os salários são realmente o principal impulsionador porque não acho que isso seja realmente certo”, destaca.