Cogna? Touro da B3? Não, a última polêmica na fintwit é sobre português; veja quem acertou

"Sobrou para MIM fazer o almoço" ou "sobrou para EU fazer o almoço"?, eis a questão

A chamada fintwit, a bolha de investidores no mercado financeiro que troca ideias no Twitter, toda semana escolhe uma polêmica para chamar de sua. Podem ser as possibilidades de valorização da ação da empresa de educação Cogna – que está cotada a 12% do seu preço no auge, em 2017 – ou a instalação de uma escultura de um touro dourado, símbolo universal da pujança do mercado acionário, em frente à Bolsa de Valores brasileira, a B3. Mas, desta vez, a discussão é diferente: trata de uma regra da Língua Portuguesa.

O debate envolveu, primeiramente, o investidor profissional Hégler Henrique, fundador da comunidade de investidores Investfy, que tem 19 mil seguidores no Twitter, e o trader de dólar Leo Nonato, com quase o mesmo número de seguidores. Confira a troca de mensagens:

Twitter/Reprodução

E agora, quem está certo? Com a palavra, Thaís Nicoleti de Camargo, consultora de língua portuguesa da Folha de S. Paulo:

A construção correta é “sobrou para mim”. A forma oblíqua “mim” é usada como complemento do verbo “sobrar” (sobrar para alguém), não como sujeito do infinitivo “preparar”. Na verdade, “preparar o almoço” é uma oração que exerce a função de sujeito do verbo “sobrar” (alguma coisa sobrou para mim). Como o sujeito (preparar o almoço) está depois do predicado (sobrou para mim), surgiu a confusão. É provável que a pessoa que tentou corrigir o que estava certo tenha pensado na sequência “para eu preparar”, que pode estar correta em outro contexto. Por exemplo: “Para eu preparar o almoço, vou precisar de ajuda” – nesse caso, “eu” é sujeito do infinitivo “preparar”; numa frase como essa, no entanto, esse pronome pode ser omitido: “Para preparar o almoço, vou precisar de ajuda”; outra possibilidade seria esta: “Traga o polvo para eu preparar o almoço na minha casa”, que equivale a “Traga o polvo para que eu prepare o almoço na minha casa”. Em suma, não é o fato de haver a preposição que leva ao uso de “mim” ou de “eu” (“para mim” e “para eu” existem em contextos diferentes). O que distingue uma forma de outra é a sua função sintática: se for sujeito do verbo, o pronome será do caso reto (para eu preparar); se for complemento do verbo, o pronome será do caso oblíquo (sobrou para mim).

Podemos voltar a falar da Cogna ou do Touro de Ouro?