Campos Neto: Mercado quer saber como vamos pagar a conta da pandemia

Presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que Brasil não gastou muito para baixar a inflação e que país está melhor que a média

O contexto global de aumento da dívida dos países após a pandemia de covid-19 faz com que os investidores procurem mais clareza e, assim, os planos fiscais têm importância ainda maior neste momento, afirmou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento na manhã desta sexta-feira (18).

“O mercado tem dado sinais de ansiedade para encontrar respostas sobre como vamos pagar a conta que cresceu durante a pandemia globalmente. Estamos na situação de como vamos converter a dívida no longo prazo”, disse Campos Neto.

A resposta até o momento, segundo Campos, tem sido a de os países aumentarem impostos sobre capital, o que, por sua vez, reduz ainda mais a produtividade.

“Temos visto os países lutarem contra altos preços de energia e comida com impostos maiores sobre capital. Vimos as primeiras rachaduras deste ciclo aparecendo exatamente devido à produtividade baixa. E o jeito de pagar a conta tem sido aumento de impostos sobre capital, o que faz a produtividade ser ainda mais baixa. O desafio é pagar a conta de uma forma que cause maior produtividade”, afirmou Campos.

As declarações foram dadas, em inglês, na manhã desta sexta-feira, em evento organizado pela Bloomberg, em São Paulo.

Mudança na precificação da política monetária

As incertezas fiscais levaram a uma mudança importante na precificação para o caminho da política monetária no Brasil, segundo o presidente do Banco Central.

Segundo ele, o mercado precificava o início da reversão do ciclo de aperto monetário entre fevereiro e junho, o que acabou alterado pelos episódios recentes.

“Agora a precificação é de alta no curto prazo em função de incertezas fiscais. De acordo com as expectativas do mercado, ainda há trabalho a ser feito no curto prazo”, afirmou, em inglês, durante evento da Bloomberg em São Paulo.

O presidente do BC voltou a citar a sensibilidade dos mercados globais aos temas fiscais, dando como exemplo o episódio no Reino Unido.

“Quando olhamos a reação do Reino Unido, isso mostra que o mercado agora está pedindo soluções para a convergência da dívida e tentando entender como cuidamos do social com responsabilidade fiscal ao mesmo tempo”, afirmou.

Campos também ressaltou que há sinais positivos na inflação, mas que não é momento para celebrar. “Ainda não há razão para celebrar a melhora da inflação. Vemos bons sinais nos núcleos, mas temos que persistir”, afirmou.

Inflação

O presidente do Banco Central afirmou que a inflação recente no Brasil não foi fabricada dentro do país, como ocorreu em episódios no passado. “Vamos continuar persistindo na estratégia, mas já vemos resultados. Em 2023 prevemos desaceleração da atividade por motivos como o efeito do aperto monetário”, afirmou.

Ele vê sinais de melhora na parte qualitativa da inflação no Brasil e destacou que, no país, o cenário parece melhor se comparado ao resto do mundo.

“Não é verdade que o Brasil gastou mais para baixar a inflação artificialmente. O Brasil mostra cenário melhor que o resto do mundo e foi rápido em subir juros”, avaliou Campos Neto, em inglês, durante evento da Bloomberg em São Paulo.

Políticas fiscal e monetária

Em meio às incertezas fiscais que vêm crescendo no país, Campos Neto afirmou que é importante haver coordenação entre as políticas fiscal e monetária. “Não fazemos política fiscal, mas reforçamos que deve haver coordenação entre políticas fiscal e monetária”, afirmou a autoridade do BC.

Segundo ele, a dívida brasileira está em níveis semelhantes aos observados no início da pandemia, mas muitos dos programas assistenciais que o país criou nos últimos anos parecem estar se tornando permanentes.

“O mercado está com dificuldade de entender o novo arcabouço fiscal”, afirmou Campos Neto.