ANÁLISE: Ofensiva do governo e do centrão na Petrobras visa a dar fôlego para novo comando da empresa

Com cerco e renúncia de presidente, Planalto e Congresso esperam criar condições para medidas de controle de preços

Mais que derrubar o já demissionário José Mauro Coelho, a pressão do governo e do Congresso sobre a Petrobras visa criar, na avaliação de integrantes do centrão, condições políticas para que a nova gestão da empresa atue na contenção do preço dos combustíveis ao menos até outubro.

A ordem no Planalto é dar musculatura para Caio Paes de Andrade, nome da confiança do ministro Paulo Guedes (Economia), enfrentar as divergências internas na governança da estatal, assegurando ao governo de Jair Bolsonaro (PL) alguma voz de comando sobre as decisões relativas aos reajustes de diesel, gasolina e gás de cozinha nos próximos três meses.

Todas as articulações governistas são no sentido de acelerar a posse de Andrade, que tem uma relação direta com Bolsonaro. À frente do Serpro, o ex-secretário da Economia se aproximou do presidente ao defender a adoção de medidas que deixassem um legado digital para o governo, sempre mencionando que a eleição de 2018 havia sido a primeira decidida pelos meios digitais.

Ainda que Guedes tenha submergido no ápice da tensão em Brasília na semana passada, o ministro é visto como um avalista de Andrade e do recém-empossado ministro das Minas e Energia, Adolfo Sachsida, ambos seus ex-subordinados.

Roteiro esperado

Aliados do presidente começaram a semana festejando a renúncia de Coelho, responsável pela autorização do último reajuste, que entrou em vigor no sábado. No entendimento de ministros, a operação política liderada por Bolsonaro e Arthur Lira produziu um “culpado”, ao menos para aliviar o desgaste sobre a atual gestão.

O núcleo de campanha bolsonarista trabalha com o final deste mês como data “definitiva” para uma virada na crise dos combustíveis.

Já que não será mais possível finalizar o pacote de medidas legislativas para baratear o litro na bomba ainda nesta semana, Bolsonaro quer ao menos viabilizar uma nova diretriz na Petrobras e não medirá esforços para conseguir algo parecido com um congelamento temporário.

Além das ameaças de CPI, taxação extra e hostilidades de toda sorte contra os acionistas minoritários, agora o governo cogita acionar os caminhoneiros que são alinhados a Bolsonaro. A ideia em gestação no Planalto prevê o engajamento da categoria numa espécie de cerco físico à companhia, com concentração de veículos no entorno de refinarias, o que poderia inclusive criar um nó logístico de proporções nacionais.

Efeito bumerangue

O risco de medidas tomadas de improviso e no calor das pressões sobre Bolsonaro é o presidente perder o controle sobre esse movimento de caminhoneiros, dada a resistência da categoria em politizar suas reivindicações.

Líderes que tradicionalmente se aliaram a Bolsonaro questionam os ganhos concretos caso acatem as sugestões do presidente, a três meses da eleição e a seis meses do término do atual mandato.

Hoje, dizem esses representantes, o cenário mais provável é o de que a classe não se engaje majoritariamente nas pautas defendidas por Bolsonaro. “O governo perdeu a interlocução com quem realmente decide na categoria. Os autônomos não vão seguir ordens de Bolsonaro. Se houver paralisação, será contra o governo também”, afirma ao JOTA uma liderança do segmento sob a condição do anonimato.

Ocorre que setores do bolsonarismo até torcem para uma greve geral dos caminhoneiros, pois avaliam que esse tipo de insurreição poderia abrir brechas para adoção de medidas excepcionais para a garantia da ordem, o que agradaria Bolsonaro durante a campanha eleitoral.

Esses mesmos aliados do presidente citam o estado de exceção decretado no Equador para frear as manifestações contra o aumento dos combustíveis naquele país.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)