Análise: Assassinato de petista faz Lula potencializar campanha por “voto útil”

PT e aliados se mobilizam por "pacificação na política" e esperam efeito cascata com declaração de voto de Anitta, escreve Fábio Zambeli, do JOTA

A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja usar os episódios recentes de violência envolvendo preferências eleitorais para engrossar o movimento pelo “voto útil” no petista ainda no primeiro turno.

A coligação que dá suporte à candidatura do ex-presidente iniciou a mobilização pela “pacificação na política” na plenária de partidos nesta segunda-feira.

A ideia é provocar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para uma resposta institucional aos casos de crimes relacionados com a pré-campanha e angariar apoios em segmentos específicos da sociedade civil, em especial na classe artística e no meio acadêmico.

A declaração pública da cantora Anitta, uma das maiores influenciadoras do público jovem na América Latina, de que votará em Lula para presidente por ter ficado chocada com o assassinato de um militante do PT em Foz do Iguaçu, foi interpretada pelos operadores petistas como um primeiro resultado positivo dessa ofensiva recém-deflagrada.

Anitta, dizem assessores do ex-presidente, estava inclinada a apoiar um nome da chamada “terceira via”, mas se antecipou no “voto útil” ainda na primeira fase do pleito, o que poderia levar a um efeito cascata.

Esses mesmos operadores lembram da bem-sucedida convocação liderada pela cantora para alistamento eleitoral de jovens de 16 a 18 anos até o mês de maio, estimulada pela Justiça Eleitoral.

Em paralelo, o estafe de Lula deseja maximizar a exposição de peças de comunicação que remetam à disputa presidencial de 2002, durante a qual o então marqueteiro Duda Mendonça criou a figura do “Lulinha Paz & Amor”, substituindo a predominância vermelha dos materiais publicitários da campanha pelo branco.

Em privado, dirigentes do PT admitem que a preocupação com os sucessivos casos de agressões nas atividades de rua de Lula levou a um reforço na estrutura de segurança dos principais nomes da campanha. Mas em público a ordem é manter a agenda prevista de eventos públicos.

Os dois episódios mais marcantes em que há suspeita de motivação política em ataques foram o do drone que lançou defensivos agrícolas sobre militantes petistas em Uberlândia e o de artefatos que explodiram próximo ao ato liderado por Lula na Cinelândia (RJ) na última quinta-feira.

Facada

Para o QG político do presidente Jair Bolsonaro (PL), não há como estabelecer relação entre o presidente e os atos de violência citados pelo PT. A campanha governista defende que a principal vítima de atentados políticos no Brasil foi o então candidato Bolsonaro, em 2018, quando foi atingido por uma facada em pleno ato público numa praça de Juiz de Fora (MG).

Aliados do presidente sustentam ainda que os atos públicos realizados com apoio de Bolsonaro, inclusive o de 7 de Setembro do ano passado, foram “pacíficos e ordeiros”.

A ordem no comitê de partidos que sustentam a candidatura de Bolsonaro é focar em investigações rigorosas e na punição dos responsáveis por quaisquer atos de agressão durante a campanha.

A equipe de Bolsonaro, contudo, pretende reforçar os posicionamentos públicos dele contrários à violência, a fim de evitar o que chamam de “criminalização” de campanha pela reeleição.

Os apoiadores do presidente reiteram que coube a Lula, em discurso no sábado, a exaltação de um militante petista que agrediu um homem em frente ao Instituto Lula, em São Paulo, ferindo-o gravemente em 2018.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)