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O que esperar da bolsa de valores em dezembro?
Empresas citadas na reportagem:
A Bolsa de Valores sofreu baixas acima dos ganhos em novembro. O principal índice da B3, o Ibovespa, teve queda acumulada de 3,06%, enquanto o índice de small caps (SMLL33) — ações de empresas com market cap de R$ 300 milhões a R$ 2 bilhões — caiu algo em torno de 11%. Mas, o que esperar da bolsa de valores em dezembro?
O Ibovespa pode ter surpresas positivas guardadas para o investidor no último mês do ano, puxadas pelo cenário externo. Ao mesmo tempo, a incerteza do desenho de arcabouço fiscal no novo governo Lula, somado à expectativa de que o Banco Central não deve mais baixar os juros no segundo semestre de 2023, pode jogar contra o índice.
Apesar da queda em novembro, o Ibovespa continua com saldo positivo em 2022. Ao longo deste ano, o índice valorizou em 7,31%, encerrando o mês de novembro em 112.486,01 pontos.
Em geral, os gestores avaliam o mês passado como sendo “extremamente negativo” para a bolsa, principalmente levando em conta que o índice brasileiro perdeu fôlego em momentos cruciais de avanço nos índices internacionais, como o americano.
Bolsa de valores pode ensaiar alta em dezembro?
A queda na bolsa não foi o único indício de um mercado mais pessimista. A curva de juros futuros, como aponta o estrategista-chefe e CEO da SaraInvest, Marco Saravalle, também foi uma pista de que a Faria Lima espera um BC mais rígido com a taxa Selic.
A taxa de juros futuros para 2025 subiu cerca de 14% ao final de novembro. “O que isso quer dizer? Que, com todo o cenário de incerteza fiscal, o mercado está entendendo que não tem um espaço para derrubar os juros tão cedo”, diz Saravalle.
A curva de juros, na reta final do mês, cedeu em 1 ponto percentual, o que mostra que também há margem para uma possível queda do Ibovespa neste mês. Essa é a boa notícia que pode “impulsionar as ações um pouco” da Bolsa de Valores em dezembro.
O cenário incerto sobre a Selic pode, inclusive, ser minimizado em caso de avanços significativos na PEC de Transição, diz o estrategista da SaraInvest. O mercado espera que a proposta de retirar gastos com o Bolsa Família de R$ 600 por 4 anos seja desidratada durante a tramitação no Congresso. A licença do governo para gastar retira R$ 198 bilhões das despesas previstas no teto.
Governo de Transição
“Agora, o governo de transição vem soltando várias pílulas que preocupam. O anúncio de Haddad como ministro da Fazenda seria muito mal recebido pelo mercado”, explica o estrategista da RB Investimentos. “A parte interna não parece estar colaborando muito. Mas o cenário externo sim. Por isso, o investidor vai ter que decidir se vai preferir olhar para fora ou para dentro”, completa.
Apesar de ter uma margem para o crescimento, a postura do novo governo de não anunciar uma nova âncora fiscal é classificada como “preocupante”. A volatilidade do Ibovespa, nesse caso, dependerá da equipe de transição de Lula.
China e Fed podem ajudar na alta da bolsa de valores?
Em comparação com bolsas internacionais, o Ibovespa continua “extremamente barato” para o estrangeiro, com altos múltiplos de preços sobre o lucro.
“De certa forma, a aversão a risco vem diminuindo um pouco”, afirma Saravalle. “Existe uma certa sazonalidade. Acho que podemos ter sim um mês positivo para a bolsa. Sem muita correria, porque todos — inclusive o investidor estrangeiro — terão uma dose de cautela”, completa.
O anúncio de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (FED), de que o banco central dos EUA poderia diminuir o ritmo de escalada da taxa de juros trouxe alívio ao mercado. Caso a autoridade monetária americana confirme a alta projetada de 0,5 ponto percentual nos juros em dezembro, o mercado reagirá ainda melhor em dezembro, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
O último mês do ano costuma ser um mês de maior IED (Investimento Estrangeiro Direto), até pela remessa de companhias internacionais às subsidiárias brasileiras. A decisão do Fed caminha favorece as alocações estrangeiras na bolsa de valores em dezembro.
Quais ações para ficar atento no Ibovespa em dezembro?
“Este final de ano tende a ser mais tranquilo. Estamos vendo a China mudando sua política de ‘covid-zero’ e isso vem impactando nas ações de algumas companhias brasileiras”, pontua Cruz. Empresas com intensa taxa de exportação de commodities, como mineradoras e petrolíferas, tendem a ter bom desempenho, nesse caso.
Pedro Queiroz, especialista em renda variável da SVN Investimentos, explica que o setor de commodities pode ser uma boa aposta na Bolsa para dezembro. A mudança de políticas sanitárias na China pode ser o trampolim de mineradoras e empresas do setor de materiais brutos, como Vale (VALE3) ou CSN (CMIN3).
Como também destaca Felipe Cima, operador da Manchester Investimentos, as petrolíferas menores, conhecidas como ‘junior oils’ podem aproveitar possíveis avanços no preço do barril de Petróleo Brent. Na Bolsa, as junior oils são PetroRio (PRIO3) e Enauta (ENAT3).
“O setor financeiro, na nossa avaliação, está barato. Mas também vemos um possível aumento no ciclo de inadimplência que pode atrapalhar provisões dos bancos no último trimestre”, diz Cima.
“A Bolsa hoje negocia ativos baratos de players altamente resilientes e com boa visibilidade de caixa negociado. Não são apenas valores atrativos, mas com carrego interessante. O setor de energia deve continuar no radar do investidor, por exemplo”, afirma Queiroz.
Quanto às ações mais sensíveis aos juros, o analista explica que o investidor pode aproveitar uma posição com liquidez de médio a longo prazo, mas pede cautela ao negociar a posição.
De olho no Copom
O resultado do PIB de 0,4% positivo no 3º trimestre demonstrou aos analistas que a economia brasileira está desacelerando. Na comparação trimestral, a retração do produto interno bruto foi de 0,8 ponto percentual. Diante do cenário de incerteza no ambiente nacional e de maior tranquilidade no exterior, o mercado volta sua atenção para o Banco Central.
Os analistas e estrategistas que falaram à Inteligência Financeira estão à espera da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Um bom mês de dezembro para a Bolsa de Valores dependerá principalmente da postura do comitê de subir ou manter a atual taxa Selic de 13,75%.
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