Inflação em queda: veja as ações que se beneficiam com o novo cenário
Levantamento mostra quais papéis são valorizados com a deflação
A deflação apontada pelo IPCA 15 para agosto, informada pelo IBGE nesta quarta-feira (24), só veio confirmar o que o mercado já sabia. Tanto que as projeções para a inflação oficial brasileira são de queda, como mostra o Boletim Focus.
E nessa toada de queda da inflação, além de uma estabilização da taxa de juros, as empresas de varejo, que sofreram nos últimos meses, tendem a apresentar um bom desempenho na Bolsa brasileira.
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É o que mostra um estudo feito pela equipe da Jennie Li, estrategista de ações da XP, que buscou identificar os papéis que se dão bem em períodos de baixa e de alta da inflação a partir da relação entre retorno e IPCA.
O levantamento considerou as rentabilidades mensais dos ativos que fazem parte do Ibovespa, o principal índice da Bolsa, nos últimos 10 anos.
Quais ações dão lucro com a queda da inflação?
Veja abaixo as ações com histórico de desempenho positivo em momentos de inflação baixa são do setor de varejo:
Empresa | Código | Setor | Beta vs. IPCA |
Americanas | AMER3 | Varejo | -12,0 |
Magazine Luiza | MGLU3 | Varejo | -11,9 |
Petz | PETZ3 | Varejo | -11,5 |
Via | VIIA3 | Varejo | -10,4 |
Natura | NTCO3 | Varejo | -3,8 |
Para chegar a esses resultados, o levantamento partiu da análise da rentabilidade de uma ação em relação ao mercado em geral (beta) perante a variação do IPCA, que dá uma visão mais clara sobre como o papel caminha frente ao índice que mede a inflação oficial.
Um beta entre -1 e 1 indica que a dinâmica de preços não interfere tanto nos retornos das ações.
Quando o beta está muito longe desse intervalo, seja para cima ou para baixo, sugere que os papéis acompanham a variação do IPCA. Um beta positivo significa que o ativo sobe conforme a inflação aumenta, enquanto um beta negativo mostra que a ação avança quando o IPCA cai.
Por que as ações sobem quando a inflação cai?
A lógica é a seguinte: se esses papéis são os que mais sofrem quando a inflação aumenta, o movimento contrário também acontece em um momento de queda de preços.
Como pontua a equipe liderada por Jennie Li, em um cenário de inflação alta, as empresas do varejo discricionário (bens não essenciais) tendem a sofrer mais por causa do menor poder de compra dos consumidores, que passam a priorizar só o necessário quanto a situação aperta.
Inflação prejudica os financiamentos
Outro ponto é que, como o panorama de disparada de preços está ligado ao ciclo de aumento de juros, explicam os analistas, os custos de financiamento sobem e dificultam a expansão das empresas de varejo.
Essa dinâmica impacta diretamente as ações do setor na bolsa, uma vez que o valor de mercado dessas companhias é projetado para o futuro.
“Portanto, em um cenário em que o oposto ocorre – de inflação em queda e, consequentemente, juros também – as empresas de varejo tendem a mostrar os maiores sinais de recuperação”, afirma a equipe.
O impacto da globalização
Por outro lado, não tem como fechar os olhos para o que acontece lá fora. O mundo ainda está rodeado de incertezas, com risco crescente de recessão na Europa e nos Estados Unidos, guerra na Ucrânia e, de sobra, um problema inflacionário global.
Por aqui, a inflação já mostrou um recuo em julho e deve indicar outro em agosto, mas a dúvida é por quanto tempo deve durar, já que, com um IPCA de 10,07% no acumulado em 12 meses, ainda há uma extensa caminhada para levar o índice de preços para a meta, de 3,50% neste ano, e de 3,25% em 2023.
Quais empresas ganham com a inflação?
Mas há quem colha bons frutos na Bolsa em momentos de inflação alta, e aí também estão os papéis do setor de varejo, como mostra o estudo da XP.
Se, de um lado, um IPCA mais baixo beneficia as ações de empresas mais discricionárias do segmento, do outro, a disparada de preços favorece as varejistas de alimentos.
Ações que se beneficiam da alta da inflação
Veja abaixo os papéis que se dão bem com o aumento dos preços:
Empresa | Código | Setor | Beta vs. IPCA |
Assaí | ASAI3 | Varejo | 6,4 |
Iguatemi | IGTI11 | Shoppings | 3,4 |
Atacadão | CRFB3 | Varejo | 2,8 |
Santander | SANB11 | Bancos | 2,5 |
Alimentação é a última categoria a ser reduzida pelos consumidores, já que comer é uma necessidade básica de todos. E, pelo lado das empresas, elas conseguem repassar a alta de preços dos produtos integralmente, o que reflete no valor das ações na bolsa.
A equipe liderada por Jennie Li destaca ainda que o formato atacarejo é o mais defensivo entre os outros modelos de varejo alimentício, dado que, por oferecer o melhor custo/benefício, ganha participação nas compras de consumidores que buscam os menores preços.
Como ficam os shoppings?
Em relação ao setor de shoppings, os analistas chamam atenção para os papéis do Iguatemi e da Multiplan, que se beneficiam da inflação crescente por causa do impacto positivo nos aluguéis.
Como a receita de aluguel, que representa em torno de 70% a 80% da receita total das companhias, é atrelada ao IGP-DI, índice geral de preços da FGV, e ao IGP-M, conhecido como a “inflação do aluguel”, explicam os analistas, os investidores enxergam essas empresas como um porto seguro em momentos de alta de preços.
Cenário para os bancos com o aumento dos juros
No caso do segmento financeiro, os ganhos são muito motivados pela necessidade de aumento de juros nesses momentos para conter a pressão inflacionária.
“A combinação da exposição dos grandes bancos aos juros e às suas resilientes e rentáveis performances financeiras leva os investidores a ver suas ações como um porto seguro”, diz a equipe, que faz uma ressalva para o caso do Santander. “O Santander tem a menor liquidez de negociação entre os bancos, o que pode amplificar a volatilidade no preço das ações”.