Verde, de Stuhlberger, alerta para sinais de ‘crise de crédito’ na economia brasileira

Gestora destaca em carta mensal que 'os prêmios de risco dos ativos brasileiros seguem bastante altos'

O mercado brasileiro, em meio a um ambiente global mais complexo, segue focado no “barulho gerado pelo novo governo”, segundo escreve o time de gestão da Verde Asset, liderado por Luis Stuhlberger e Luiz Parreiras, em sua carta mensal aos investidores.

“Mesmo medidas corretas da perspectiva fiscal, como a reoneração dos combustíveis, conseguem ser acompanhadas de graus excessivos de ruído desnecessário e contraproducente, neste caso a taxação das exportações de petróleo e os reiterados ataques ao Banco Central”, afirma a Verde. “Há sinais de um incipiente ‘credit crunch’ [crise de crédito] atingindo a economia brasileira, cujo enfrentamento requer boas políticas públicas e não bravatas. Não por acaso os prêmios de risco dos ativos brasileiros seguem bastante altos”.

Na comunicação aos cotistas, a gestora relata que o “tom construtivo dos mercados desenvolvidos em janeiro foi substituído por um choque de realidade em fevereiro, em que a economia americana mais uma vez surpreendeu, contra o consenso que ao fim do ano passado projetava entrar em recessão em pouco tempo, e deu mais sinais de pujança e mais resiliência do que outros países maduros”.

Dados de emprego, renda e consumo divulgados ao longo do mês superaram as expectativas, e levaram a uma importante mudança de percepção dos agentes financeiros. Se antes, o cenário vinha sendo pautado pela tese da desaceleração, desinflação, e um possível pivô do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na direção dos cortes de juros — o que empurrou o dólar para baixo em relação a outras moedas, levou os índices de ações para cima e os spreads de crédito cederem —, fevereiro contou outra história. A moeda americana se fortaleceu, especialmente contra as divisas do G-10, as taxas de juros dos países desenvolvidos subiram e as bolsas devolveram “parte da exuberância do início do ano”.

Exemplo dessa movimentação é que as taxas futuras de juros para o fim de 2024 subiram “incríveis” 89 pontos básicos, de 3,12% para 4,01%.

Para a Verde, “a renovada alta de juros, combinada à pujança de curto prazo demonstrada pelas economias desenvolvidas — sem esquecer do processo de reaceleração da China —, ainda não foram devidamente refletidas em todos os ativos de risco”.

Desempenho e estratégia da gestora

Com esse pano de fundo, o fundo Verde fechou fevereiro praticamente no zero a zero, com ganho de 0,04%. No ano, acumula valorização de 2,78%, ante 2,05% do CDI.

A gestora descreve ter tido ganhos nas posições de renda fixa, com destaque para a parcela comprada em inflação implícita no Brasil, opções na curva de juros americanos de curto prazo, e uma nova posição comprada em implícita nos Estados Unidos. O livro de moedas apresentou resultados marginais na posição vendida em euro. Já as perdas vieram da exposição em ações no Brasil, e em em commodities, particularmente ouro, que devolveu no mês passado a valorização observada em janeiro.

O fundo manteve exposição na bolsa brasileira, e voltou a montar estratégias de hedge na bolsa americana. A posição comprada em inflação implícita no Brasil foi mantida, mas a casa zerou o risco tomado em juros na Europa. A Verde também iniciou posições tomadas em juros e compradas em inflação nos EUA. A gestão segue comprada em ouro e petróleo, mas encerrou a posição vendida no euro contra compra de real. As posições em crédito high yield global e crédito local foram mantidas.

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