Como funciona a liquidez de um ETF?

É verdade que ETFs não têm liquidez? Não é bem assim - então veja como fazer a medição

Quando falamos sobre ações ou instrumentos negociados na bolsa de valores, é comum utilizar como referência da sua liquidez o volume financeiro negociado nos últimos dias. Isto é, a chamada liquidez de tela. O indicador usado para isso no mercado é o ADTV (Average Daily Traded Volume). Ele serve consequentemente para avaliar a possibilidade de entrar e sair de posições.

Dessa forma, o ADTV acaba por ser um termômetro para investidores sobre qual tamanho (de posições) que estes podem movimentar em determinado dia. E, além disso, o quanto de movimentações conseguem fazer sem impactar de forma significativa o preço dos instrumentos que estão negociando.

ETFs não têm liquidez?

Por vezes, aliás, recebo comentários sobre a vontade de investir em determinado ETF (Exchange Traded Fund), mas que existe certa cautela… Pois o mesmo “não tem liquidez“. Mas quando falamos sobre ETFs, a chamada liquidez de tela é a melhor forma para medirmos a liquidez?

A resposta é: “não”. Isso porque os ETFs são diferentes quando se trata de liquidez. Afinal, eles têm uma estrutura aberta a qual gera a possibilidade de estes aumentarem ou diminuírem de tamanho conforme demanda dos investidores.

Isso é relevante, pois os diferencia de outros instrumentos que negociam em ambiente de bolsa (por exemplo, fundos imobiliários, FI-Infra etc.) com estoque definido. E que, além disso, por vezes apresentam valores expressivos de ágio ou deságio em relação ao seu valor justo onde a liquidez de tela é importante.

Enquanto os produtos listados “fechados” não conseguem crescer ou diminuir de tamanho sem uma oferta pública, um ETF tem o chamado mercado primário. Ou seja, onde suas cotas podem ser criadas e destruídas com base na demanda dos investidores diariamente.

Dessa forma, os investidores podem negociar os ETFs em quantidades que superam em muito a sua média histórica de negociação ou até mesmo seu estoque corrente de cotas emitidas.

Por que ficar de olho nas cotas dos ETFs

Mas como esse mercado primário pode ajudar na liquidez dos ETFs? As chamadas carteiras para criação e destruição de cotas dos ETFs são divulgadas diariamente pelos gestores… Sendo que o preço dos ativos que as compõem é público.

Os investidores, então, através dos Agentes Autorizados, podem criar e destruir cotas dos ETFs diariamente utilizando o mercado primário. Assim, permitindo que a oferta da quantidade de cotas seja alterada para acomodar aumento ou diminuição da posição dos investidores em determinado momento. O valor da cota dos ETFs está diretamente ligado ao valor dos ativos dentro de sua carteira.

Por exemplo, vamos imaginar que eu tenho uma carteira cuja quantidade de ativos, composição e preços são públicos. E esta carteira pode ser criada e destruída nas proporções anunciadas diariamente. Portanto, está criada a possibilidade de arbitragem.

Os arbitradores vão criar cotas e vendê-las em mercado sempre que conseguirem fazê-lo tendo algum lucro. E irão comprar cotas e destruí-las sempre que conseguirem comprar abaixo do preço justo. Mas, dessa forma, como medir a liquidez dos ETFs?

Como medir a liquidez de um ETF

A liquidez de um ETF não está limitada à média histórica da negociação das suas cotas em bolsa… Mas sim na liquidez dos ativos que compõem a carteira de troca.

O limite para o Formador de Mercado e outros Arbitradores acessarem o mercado primário dos ETFS e continuar arbitrando o valor das cotas contra a cesta de ativos que as compõem é, assim, a liquidez dos ativos da cesta (e que assim compõe o ETF).

Na prática então, quando falamos, por exemplo, qual a liquidez potencial de um ETF de Ibovespa, estamos falando da liquidez das ações que compõe a carteira deste ETF. E não no histórico de negociação de cotas dos ETFs no mercado secundário. Aliás, a mesma linha de raciocínio vale para os ETFs de Renda Fixa compostos por títulos de renda fixa do governo federal.

A dinâmica dos mercados primário e secundário dos ETFs e sua possibilidade de arbitragem o transformam em um veículo perfeito para negociação eficiente, prática e de baixo custo.

Tudo isso funciona, pois, além desse mecanismo, existe a figura do formador de mercado que está ao longo do dia fornecendo os chamados preço de compra e venda para você, investidor.

Assim, ao olhar um ETF e não ver negócios de tela, busque saber quem é o seu gestor e se existe um formador de mercado, pois sendo ambos capacitados sua liquidez estará preservada.

Com Alexandre Frade, Senior Portfolio Manager na Itau Asset