BDR de tecnologia: o que esperar do ativo para os próximos meses?

Veja a recomendação de especialistas sobre os certificados

O índice Nasdaq Composite, que mede o desempenho das principais ações de tecnologia dos Estados Unidos, levou um tombo na quarta-feira (21), logo depois do anúncio da elevação dos juros nos Estados Unidos.

Mas o desempenho das ações que compõem esse índice já vem em queda há algum tempo.

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O primeiro pregão do ano começou com o índice perto dos 15 mil pontos. Já na manhã desta quinta-feira (22), depois do terceiro aumento seguido de juros nos EUA, o índice estava em 11.200 pontos.

E até o final do ano, o Fed anunciou que deve apertar ainda mais a política monetária, o que tende a afastar os investidores da bolsa e mexer especialmente com setores intensivos em capital, como o de tecnologia.

Diante desse cenário, a dúvida é se há alguma chance de os certificados de ações estrangeiras vendidos no Brasil, os BDRs, das empresas de tecnologia recuperarem patamares interessantes.

O que dizem os analistas

Para os analistas ouvidos pela Inteligência Financeira, há grandes chances de o setor de tecnologia voltar a ser protagonista, mas o acumulado de perdas parece distante do fim.

“O fato é que as quedas se intensificaram neste momento pós-pandemia em função da inflação que eleva os custos das empresas, além da alta de juros, que dificulta o crescimento”, diz Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos.

“O mercado projeta uma recessão na economia norte-americana e, consequentemente, empresas ligadas à tecnologia são as mais afetadas por um crescimento negativo da economia”, completa Boragini. Ele antecipa que as mais novas no mercado devem sofrer mais.

“Essa política monetária mais dura vem colocando pressão sobre a capacidade de as empresas de tecnologia acessarem o mercado de capitais, podendo levar a uma revisão para baixo dos múltiplos de empresas de tecnologia, especialmente as que estiverem mais no início de seu ciclo”, diz Lima.

Como os juros dos EUA afetam os BDRs

Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos, diz que os BDRs das empresas americanas de tecnologia “vão continuar sofrendo” pelo menos até fevereiro de 2023, quando as taxas de juros devem chegar ao seu auge.

O impacto do cenário macro para o setor de tecnologia tem sido mais cruel do que se poderia imaginar, avalia Cruz.

Mas, diante de juros acima do esperado e com a inflação ainda resistente, o setor de tecnologia acaba sofrendo bastante. “Isso acaba dificultando o financiamento das empresas”, afirma Cruz.

Para o analista, as grandes companhias do setor devem ter um resultado melhor porque dependem menos de crédito, mas, para as menores, “vai ser um cenário desafiador” avalia.

Alexandre Milen, fundador da Harami Research, avalia que mesmo as empresas maiores continuarão sofrendo, com a renda fixa capturando principalmente o capital de quem investia nas gigantes do setor.

“Como as ações do segmento de tecnologia têm um maior peso na bolsa de tecnologia e também são as ações mais procuradas lá fora e aqui no Brasil, através das BDRs, na nossa visão, ela vai sofrer um forte impacto com esse aumento da taxa de juros”, diz, Milen.

O impacto do dólar nos BDRs

Milen prevê que a trajetória do dólar nos próximos meses deve piorar ainda mais o desempenho dos BDRs, diretamente atrelados à moeda americana.

“Na nossa visão, o dólar, tanto no Brasil quanto no exterior, deve apresentar uma queda junto com a queda das ações de tecnologia, no geral, pelo menos, até o final do ano”, avalia.

O dólar pode vir a cair abaixo dos R$ 5, o que ajudaria a diminuir a atratividade dos BDRs, que se tornam mais interessantes quando a trajetória do dólar é ascendente.

Foco nos fundamentos das empresas

Para Maurício Lima, superintendente de produtos da Western Asset, as empresas de tecnologia se beneficiaram do baixo custo de capital dos últimos anos, tanto por conta do acesso a financiamentos baratos quanto da valorização de suas ações.

Num ambiente de juros altos, como o atual, os desafios se avolumam e o investidor deve se debruçar sobre os fundamentos de cada empresa para identificar oportunidades.

“Nesse ambiente, a gestão ativa, através da escolha de nomes específicos para comporem o portfólio será fundamental e cada vez mais importante para evitar empresas que enfrentarão desafios e escolher empresas bem-posicionadas para enfrentar esse cenário adverso”, arremata Lima.

Um ambiente mais promissor para as empresas de maneira geral deve aparecer somente a partir de meados de 2023, com o arrefecimento do ciclo de aperto monetário.

BDRs mais promissores

Em contraposição, as empresas com balanços sólidos, baixa alavancagem e mercados consumidores resilientes podem ser boas opções para os investidores.

“Essas empresas podem, inclusive, aproveitar sua posição mais forte frente à concorrência para aumentar sua participação de mercado”, acrescenta o executivo da Western.

Ele explica ainda que há a possibilidade de, diante do recuo do mercado acionário nessas últimas semanas, a recuperação de algumas empresas pode ser acelerada nos próximos meses.

“Pode haver bons pontos de entrada em posições de empresas de boa qualidade que podem apresentar bons retornos no longo”, avalia.

Boragini diz que as ações e seus recibos tiveram fortes correções nos últimos meses, e, por isso, vale monitorar o mercado a procura de empresas que já chegaram ao seu patamar máximo de desvalorização. “O setor pode apresentar algumas oportunidades de investimento”, completa.

Para Milen, três ativos se enquadram nessa classe, e podem ser boas opções contra a maré ruim do setor:

  • Netflix (NFLX34),
  • Uber (U1B34),
  • Tesla (TSLA34).

A empresa de Elon Musk deve se beneficiar do avanço do mercado de carros elétricos e da sua produção em Xangai.

“Esse é um fato bem importante que pode fazer com que essa empresa específica de tecnologia tenha um aumento e uma valorização no curto e no médio prazo”, avalia.

Sobre a Uber, ele ressalta que tem se mostrado resiliente no mercado, mesmo diante de fatores importantes, como o recente ataque hacker, que não abalou consideravelmente a confiança do mercado na empresa”, afirma.

No caso da Netflix, o destaque fica por conta do novo plano de anúncios como um grande gerador de novas receitas. “Existe uma ótima oportunidade e possibilidade das ações valorizarem por conta desses anúncios pagos na plataforma”, diz o especialista.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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