Balanços de empresas: saiba como identificar 8 itens que podem afetar seus investimentos

Especialistas te ajudam a decifrar os resultados das companhias de capital aberto e avaliar boas oportunidades

Roberto Setúbal, copresidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco, contou durante o Macro Vision, evento anual do Itaú BBA, da sua experiência ao se deparar com um balanço da empresa de 1958. À época, as agências do banco eram citadas uma a uma e seus resultados eram detalhados. De lá para cá muita coisa mudou, mas não a importância dos investidores saberem ler os balanços de empresas, especialmente para aqueles que investem em bolsa.

Se hoje em dia os balanços se modernizaram e estão disponíveis na internet, isso não significa que já seja uma leitura simples a qualquer um. Mesmo investidores mais escolados precisam muitas vezes de uma ajuda entender os resultados. Para te ajudar na tarefa, a Inteligência Financeira faz uma cobertura ativa da agenda de resultados, te apresentando os principais balanços das empresas, de maneira contextualizada.

Agora, se você também quer saber o que olhar na hora de dar uma espiada no resultado daquela empresa em que você aposta, reunimos 8 recomendações para que você possa identificar os principais pontos de cada balanço.

Para tanto, conversamos com João Daronco, analista da Suno Research; e Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos.

Como ler balanços de empresas?

Primeiramente, é preciso entender que entre todas as empresas de capital aberto há setores muito diferentes entre si e, portanto, o que será mais importante em um, não necessariamente será no outro.

Por outro lado, há uma estrutura que se repete em muitos balanços e algumas técnicas comuns que te ajudam a entender melhor a empresa, tanto para investir quanto para avaliar uma eventual oportunidade.

“Balanço é muito caso a caso, não existe uma fórmula mágica. No entanto, há alguns pontos para olhar”, explica Felipe Moura, que ressalta a importância de o investidor se envolver nessa divulgação. “Comprando uma ação você está virando sócio daquela empresa. É importante estar participando”, defende.

Os balanços, assim como os links para conferências com gestores, são disponibilizados no site de relações com investidores das empresas de capital aberto.

1. Leia (e ouça) o que a empresa tem a dizer

O balanço é um momento em que a companhia presta esclarecimentos ao mercado e aos acionistas. Os comentários da administração, que em geral estão no release principal de resultados, trazem não só os principais números, mas observações sobre o que aconteceu na empresa no trimestre.

Portanto, é uma forma do investidor ter acesso a um olhar de dentro. Da mesma forma, se você ainda não conhece o setor, ali estarão listados os principais indicadores que dizem respeito àquela companhia.

No entanto, João Daronco recomenda que se tenha algum pé atrás com a interpretação que for feita. “É um documento da empresa, então o investidor precisa ser um pouco mais cético, porque a empresa sempre vai puxar para o lado dela”, explica.

Junto com a leitura dos resultados, a dica é participar das conferências que acontecem na sequência da divulgação. Nesses encontros virtuais, os executivos da empresa reapresentam os dados e o olhar que trazem sobre eles. “Para o investidor iniciante, ler o release de resultados e acompanhar a conference call já representa 80% do que ele precisaria saber”, diz Daronco.

2. Conheça os fatores não recorrentes

Nas mensagens da administração, vai ser sinalizado se você teve um item não recorrente que afetou o resultado da empresa. Portanto, se aconteceu algo extraordinário que impactou o resultado da empresa.

Dessa maneira, você vai conseguir identificar o que é reflexo da situação da empresa e vai continuar e o que é passageiro. “Às vezes a empresa vai ter um resultado muito alto, você vai ver e é porque vendeu algum ativo. Isso não vai acontecer todo trimestre”, afirma Felipe Moura.

Aqui, a ideia é que você tenha em mente, ao buscar pelos números citados na sequência, ter sempre uma referência de histórico. Nos próprios balanços, as empresas vão citar os números do trimestre anterior e do mesmo período do último ano. É essencial, para entender se um resultado é bom ou ruim, ver se o ritmo da empresa é de crescimento, desaceleração ou queda, por exemplo.

3. Veja o demonstrativo do resultado

Aqui você vai buscar se informar sobre o principal: se a empresa está fazendo dinheiro ou não. As margens do resultado da companhia podem ser consultadas na demonstração de resultado do exercício.

Em alguns balanços, pode vir com a sigla “DRE” ou como “demonstração de resultado”. Aqui, você verá os principais indicadores financeiros da companhia, como a receita operacional líquida, as margens brutas e líquidas e, claro, o lucro líquido. Reportagem da Inteligência Financeira te ajuda a entender esses e outros termos presentes nos balanços de empresas.

4. Verifique a saúde financeira no balanço patrimonial de uma empresa

João Daronco recomenda um olhar atento para o balanço patrimonial de uma empresa, que detalha o status atual do patrimônio da empresa e as suas variações no período analisado.

“Ali, você vai poder ver como está a saúde financeira da empresa, se ela está muito endividada, como estão os contratos com os fornecedores e a estrutura de capital da companhia”, exemplifica o analista da Suno. Olhando para o histórico, um endividamento crescente, por exemplo, pode ser um mal sinal.

5. Veja qual destino a empresa está dando aos recursos que arrecada

Outro item que pode ser uma mão na roda dos investidores é a demonstração do fluxo de caixa, também conhecida pela sigla DFC.

“Você vai ver para quais fins a empresa está gerando caixa. Como a empresa está usando seus recursos para investir em um novo projeto, para pagar dividendos ou reduzir o seu endividamento, por exemplo”, diz João Daronco.

6. Compare os balanços de empresas de um mesmo setor

Uma outra forma potente de interpretar o balanço de uma empresa é comparando os indicadores com os de outras companhias do mesmo segmento. Não apenas comparando os números principais, mas com um olhar atento aos indicadores daquele setor específico.

Por exemplo, no setor financeiro. Felipe Moura explica que a inadimplência é um desafio para todos os bancos, que buscam reduzi-la ao máximo. Portanto, ao comparar o resultado de diferentes empresas do segmento, você pode ver quanto cada uma foi capaz de alcançar esse objetivo.

Dessa maneira, voltamos a um dos primeiros itens. Na carteira do gestor, estarão indicados os principais itens relacionados àquele negócio.

Moura cita tópicos a se observar de mais dois setores. Primeiramente, nas commodities a produção, o volume de vendas e o preço praticado. Em seguida, no varejo as SSS, as “same store sales”, ou vendas nas mesmas lojas, e o número de lojas, se subiu, se caiu.

“Se você tem o resultado de uma empresa e não tem a comparação relativa, você perde a referência. A empresa pode estar mal, mas o mercado em que ela está muito mal. Logo, a empresa está bem na comparação com as concorrentes”, diz o sócio da Finacap.

7. Estude e tenha foco

João Daronco recomenda que o investidor, especialmente o iniciante, estude bastante, mas não busque abraçar todos os setores de uma vez.

“Quanto mais você acompanha, melhor. Mas é melhor também focar em poucos setores, quem quer entender de tudo não entende de nada. É importante ler bastante para entender o setor e compreender a linguagem utilizada”, diz.

8. Na dúvida, busque o RI das empresas

Felipe Moura comenta que muitos investidores pessoa física não costumam utilizar um serviço que os grandes investidores têm como hábito. Trata-se do serviço de relações com investidores (RI) que as proprias empresas de capital aberta prestam aos seus acionistas, mesmo aos pequenos.

Portanto, o analista explica que o investidor pode sempre buscar os canais de atendimento, disponíveis nos sites de RI que todas as companhias são obrigadas a manter. Por lá, podem, por exemplo, solicitar reuniões com os profissionais das empresas para tirar dúvidas sobre os resultados e obter mais informações.