Tesouro Direto: maioria dos títulos encerra janeiro no negativo; veja onde investir

Investidor deve saber que quanto maior a taxa, menor é o preço da papel

Os títulos públicos pisaram com o pé esquerdo em 2023.

Em janeiro, a maior parte dos papéis fechou no negativo no quesito rentabilidade, dando continuidade a uma sequência de quatro quedas consecutivas e refletindo os últimos acontecimentos políticos desde a posse do novo governo.

Sob esse panorama, as atenções no início deste ano se voltaram às políticas a serem adotadas e ao plano do novo Governo Federal, que poderão afetar as expectativas sobre a economia e, consequentemente, a trajetória dos juros e da inflação.

O que os analistas recomendam sobre o Tesouro Direto?

De olho nisso, a sugestão dos analistas continua sendo de alocação no Tesouro IPCA+ 2035.

“Se os ventos domésticos se provarem favoráveis para os ativos de risco, ou seja, menor ruído pós-eleição, inflação convergindo à meta e promessas de responsabilidade fiscal em 2023, podemos ver um menor prêmio de risco para os títulos públicos reais, favorecendo a marcação a mercado deles”, orienta o analista do Santander, Ricardo Peretti.

Ainda segundo ele, caso a percepção de risco piore e o dólar volte a se valorizar, a proteção contra a inflação do título recomendado exercerá sua função.

Os acontecimentos de janeiro deram um gostinho do que vem pela frente.

As decisões tomadas pelos ministérios foi o que orientou o mercado nesse mês, com destaque para o desmembramento do atual Ministério da Economia em três: Fazenda, chefiado por Fernando Haddad; Desenvolvimento, Indústria e Comércio, tendo como ministro Geraldo Alckmin; e Planejamento, encabeçado por Simone Tebet.

Com relação às estatais, o senador Jean-Paul Prates foi indicado para a presidência da Petrobras, enquanto Tarciana Medeiros foi nomeada presidente do Banco do Brasil.

No exterior, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) não prevê cortes de juros em 2023.

De acordo com a autoridade monetária, de fato, dados mais recentes de inflação mostram algum alívio. No entanto, mesmo assim, mais altas nos juros serão necessárias. As conclusões são da última reunião de dirigentes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), e foram divulgadas em ata no dia 4 de janeiro.

Quais títulos públicos deram lucro?

Sob esse cenário, os títulos que se salvaram no primeiro mês do ano foram os papéis do Tesouro Prefixado 2025; Tesouro Selic com vencimentos em 2025 e 2027; e o Tesouro IPCA+ 2026. Estes papéis, no entanto, foram substituídos por novos prazos. São eles: Tesouro Prefixado 2026; Tesouro Selic 2026 e 2029; e Tesouro IPCA+ 2029.

Vale lembrar que, tanto nos papéis prefixados quanto naqueles indexados ao IPCA, quanto maior a taxa, menor o preço.

Quando as taxas sobem, portanto, apesar de ser uma boa notícia para quem vai investir — já que assegura rentabilidade maior se mantiver a aplicação até o vencimento —, o valor de mercado dos papéis diminui, o que implica em perda temporária para quem possui os títulos na carteira.

Quais papéis mais valorizaram?

Em janeiro, os papéis de longo prazo foram os que mais sofreram em rentabilidade. Os títulos prefixados com vencimento em 2029 e 2033 amargaram perda de menos de 1%, sendo o último a maior queda entre a classe. O título de curto prazo, com vencimento em 2025, avançou 1,07% nesse mês.

Como tem ocorrido nos últimos meses, entre os papéis disponíveis para aplicação do pequeno investidor, os títulos atrelados à Selic fecharam o mês no patamar positivo (em termos nominais, sem considerar a inflação).

Os retornos dos títulos com vencimentos em 2025 e 2027 foram de 1,12% e 1,14%, respectivamente.

A maior queda entre os atrelados à inflação ficou com o papel com vencimento em 2045, pelo terceiro mês consecutivo, que perdeu mais de 6% em janeiro.

O ativo encerrou o mês com aplicação mínima de R$ 39,73, oferecendo retorno real de 6,50%.

A marcação a mercado pode trazer muita volatilidade ao investimento em Tesouro Direto. Tanto para o lado do bem, ampliando seu retorno potencial, quanto para o lado negativo, abrindo espaço para prejuízos.

No entanto, essa oscilação só atinge os investidores que resgatam os investimentos antes do fim do prazo “combinado” com o governo.

Se levar o título até o seu vencimento, o retorno acordado na hora da compra está garantido.

O que esperar do Tesouro Direto para fevereiro?

No próximo mês, quando as casas legislativas voltam a funcionar a todo vapor em Brasília, o que deve se destacar são as pautas que aguardam votação no Congresso.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a reforma tributária é um dos passos para a reindustrialização do país, juntamente com ações para destravar o crédito e na “agenda regulatória, no sentido amplo”.

“Sou entusiasta da agenda de reindustrialização. Acredito que questão climática pode nos oferecer caminho de desenvolvimento muito interessante”.

Nos Estados Unidos, a atenção em fevereiro começa desde o dia 1, amanhã, quando o banco central americano vai divulgar mais uma decisão monetária.

Qual título público comprar?

Os papéis do Tesouro Prefixado e IPCA+, ambos com vencimento 2026, seguem sendo os mais favoráveis entre os de curto prazo, de acordo com a visão dos analistas.

O analista Igor Seixas, da Inove Investimentos, lembra que, quanto mais longo o vencimento, mais sensíveis eles serão às mudanças de expectativas.

“Mas claro, o risco sempre é para os dois lados, não apenas pode passar por impactos negativos ao longo do tempo, como também pode haver boas surpresas boas nesse processo”, diz.

O Tesouro Selic é o menos propenso à possibilidade de variar negativamente (apesar de não ser impossível), porém ele também não é tão propenso a ter rentabilidades acima da média.

No caso do Tesouro IPCA, a classe garante (ao investidor que permanecer até o final) um determinado retorno acima da inflação. Mas vale lembrar que: caso a inflação diminua, o ganho total do investimento também diminui.

Se o investidor tiver apetite, apesar das incertezas, os economistas do Santander recomendam os títulos do Tesouro IPCA+ 2035.

“A sugestão é alocação no Tesouro IPCA+, com proteção à inflação, mas com um alongamento no prazo, optando pelo vencimento de 2035. Se os ventos domésticos se provarem favoráveis para os ativos de risco (menor ruído político e fiscal, inflação convergindo à meta e promessas de responsabilidade fiscal em 2023), podemos ver um menor prêmio de risco para os títulos públicos reais”, diz o banco em relatório.