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Com guerra em Israel, investidores buscam segurança no dólar, em Treasuries americanos e no ouro, diz especialista
Os efeitos da guerra entre o Estado de Israel e o grupo terrorista Hamas já repercutem entre os investidores, que, diante do quadro desolador, buscam se proteger de possíveis danos causados pelo conflito. A pedido da Inteligência Financeira, William Castro Alves, sócio e estrategista-chefe da corretora digital internacional Avenue e nosso colunista, avaliou o cenário.
Antes de entrar na análise propriamente dita, o especialista salientou que “não há palavras que descrevam o ponto de vista humano e humanitário”. “Não vou entrar nesse mérito, a guerra é uma questão realmente muito ruim para o ser humano. Ninguém ganha com isso, é uma situação muito complexa e triste”, pontua ele.
Em relação ao mercado e os seus impactos, Castro Alves destaca que há muitas questões em aberto, especialmente geopolíticas. “Num primeiro momento, o que a gente está vendo, obviamente, é o petróleo em alta. O dólar e o ouro valorizam. É algo normal, um movimento de aversão a risco”, afirma o especialista.
Na avaliação de Castro Alves, ativos de risco, neste momento, vão performar mal. “Bolsas, sobretudo de países emergentes, e as moedas desses lugares tendem a sofrer. Peso colombiano, chileno e mexicano e o real brasileiro tendem a ser impactados negativamente. Num primeiro momento, é essa a interpretação”, diz ele.
O que é o “fly to quality”
De acordo com o estrategista-chefe da Avenue, caracterizam o momento a volatilidade alta e o movimento de fly to quality, ou seja, o “voo para a qualidade”. Ele refere-se à busca coletiva por ativos mais seguros, algo que se observa em momentos de crise e incerteza econômica.
Em outras palavras, os investidores saem dos países emergentes e buscam segurança a partir de investimentos em dólar, em Treasuries americanos e, eventualmente, em ouro. Além disso, Alves cita outros dois ativos que também performam tradicionalmente bem em períodos de crise: o franco suíço e o yen japonês.
“Olhando no curto prazo, o risco gira em torno de se a guerra vai mais longe. Para conseguir entender isso, é preciso saber se haverá um link ou não com algum país maior e que não fique restrito somente a uma questão entre Israel e Palestina, que já é bastante grave, bastante séria em si, e que já faz preço”, avalia ele.
Castro Alves salienta que, “se houver de fato um link com algum outro país, como já aconteceu no passado, por trás desse movimento, de você linkar isso com o Irã ou com a Síria ou eventualmente com a Jordânia ou até com o Egito, aí sim se torna uma questão muito mais relevante, muito mais importante e muito mais perigosa para o cenário global”.
Crise do petróleo
O estrategista-chefe da Avenue lembra que o ataque do Hamas ocorre exatamente 50 anos depois da crise do petróleo, em 1973. “Se houver de fato um link com esses outros países, a gente teria um problema maior porque o mundo, de certa forma, veio fazendo uma certa vista grossa para as exportações do Irã, que subiram muito recentemente”, afirma ele.
Vale lembra que os EUA, em setembro, recuaram em algumas decisões destinadas a impedir as exportações de petróleo do Irã. A mudança de posicionamento ocorreu após ambos países conduzirem negociações que levaram à libertação de cinco americanos presos no Irã na segunda-feira (9).
Cenário complexo
Para entender a complexidade do cenário atual, Castro Alves cita também o conflito entre Rússia e Ucrânia, que retira ou cria embargos para o petróleo russo.
“Consequentemente, você tem que compensar esse petróleo russo de outros lados. O posicionamento de países como Irã, Egito Síria e Jordânia seria extremamente importante para dizer até onde pode ir uma escalada de preço de petróleo. Você pode flexibilizar isso abrindo mais as portas para o petróleo russo e venezuelano. No caso da Venezuela, entretanto, você tem pouco espaço para produzir mais e para entregar mais petróleo. No caso do russo, há a questão do conflito que lá existe”, pondera ele.
O especialista lembra ainda que as reservas de petróleo norte-americanas são muito baixas, o que torna um “momento delicado” para os Estados Unidos. “O normal seria os EUA eventualmente fecharem a torneira e não exportar mais petróleo para tentar controlar um pouco de preços. Lembrando que, se esses preços sobem, a gasolina vai ficar mais cara e afeta o poder de consumo. Consequentemente, isso tende a impactar até na eleição no ano que vem. São várias questões em aberto, que vão ser respondidas com a evolução dos próximos dias”, destaca ele.
Médio prazo
Olhando mais a médio prazo, Castro Alves salienta que há “alguns tetos para o preço de petróleo”: “Você tem capacidade de produção sobrando hoje em dia na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes. São países que conseguem eventualmente reduzir seus cortes de produção, se eventualmente o preço subir muito”.
Por fim, o estrategista-chefe da Avenue frisa que “o mundo está crescendo em uma velocidade menor, então, isso demanda menos petróleo”. “Você tem a competição de carros elétricos e fontes de energia alternativa, que também limitam um pouco essa demanda pelo petróleo. Quanto mais o preço do petróleo sobe, novas alternativas são criadas ou se tornam mais viáveis. E você ainda tem uma coalizão meio difícil na Opep atualmente para você conseguir manter todo mundo coordenado. Não é como na década de 1970”, finaliza o especialista.
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