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Empresa de Warren Buffett vende ações da Apple e compra títulos do Tesouro de curto prazo. O que está por trás disso?
A Berkshire Hathaway, empresa de Warren Buffett, possui US$ 234,6 bilhões em títulos de curto prazo do Tesouro norte-americano, os chamados T-bills. Ao mesmo tempo, a empresa revelou que diminuiu a participação na Apple (AAPL34) pela metade. Os dados estão no relatório referente ao segundo trimestre deste ano, divulgado pela companhia no começo do mês.
Diante dessas informações, muitos investidores passaram a se questionar: o que está por trás da decisão de Warren Buffett? Confira o que dizem os especialistas consultados pela Inteligência Financeira.
Os últimos movimentos da Berkshire Hathaway
De acordo com os dados do segundo trimestre, a Berkshire Hathaway detém no momento mais T-bills do que o Federal Reserve (Fed, banco central americano). Considerando os ativos com vencimento fixo nos primeiros seis meses do ano, o Fed relatou possuir US$ 195,3 bilhões, diferença de US$ 39,3 bilhões a menos que a holding do bilionário.
Investimento mais seguro
Em maio, durante a conferência anual da companhia que controla, Warren Buffett chegou a classificar as T-bills do Fed como o “investimento mais seguro que existe”. Semelhantes aos títulos públicos do Tesouro Direto no Brasil, os treasuries americanos são valores mobiliários garantidos pelo governo dos EUA. A emissão de T-bills é feita pelo Departamento do Tesouro dos EUA com vencimentos entre quatro e 52 semanas. O valor mínimo para compra é de US$ 100.
Ainda que os retornos dos treasuries geralmente não sejam tão elevados quanto os dos ativos de renda variável, com a taxa de juros dos EUA na faixa de 5,25% a 5,5%, patamar dos juros considerado elevado, a renda fixa ganhou força por lá.
No entanto, o período de juros altos no país estaria com os dias contados. A expectativa de investidores e analistas de mercado é de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) comece uma sequência de cortes na próxima reunião do Fed, em setembro.
Apple
O relatório de lucros da Berkshire Hathaway revelou também que a empresa diminuiu a participação na Apple (AAPL34) pela metade, possuindo US$ 84,2 bilhões em ações. A fabricante do iPhone, no entanto, continua sendo o maior investimento do portfólio da holding de Buffett.
Assim, a reserva de caixa da companhia, de acordo com o documento divulgado, aumentou para US$ 276,9 bilhões no último trimestre. Trata-se de um recorde para a Berkshire Hathaway.
“Buffett cortou pela metade a posição na Apple. E você não consegue precisar exatamente essa metade. Você tem uma posição no início do ano e depois no outro trimestre, e como a ação acabou subindo muito, a aproximação que as pessoas estão fazendo é que ele vendeu metade. E o valor final do retorno desse investimento tem uma série de vetores, sendo um deles o fiscal. Então, ele argumentou também estar com medo de uma mudança na alíquota que ele deveria pagar para frente. Então, preferiu realizar esse retorno no passado”, avalia Ian Caó, sócio-fundador e CIO da Gama Investimentos..
“É muito difícil ser tão preciso em relação à função de reação de uma empresa como a Berkshire Hathaway, principalmente porque, dado o tamanho dela, as movimentações, dependendo de tipo de investidor, têm vários vetores de informação. Qual é a primeira reação? ‘Caramba, ele está vendendo ação e comprando título do Tesouro. Será que ele está vendo alguma coisa?’”, contextualiza o CIO da Gama.
De acordo com Caó, a mensagem que fica, diante das últimas movimentações divulgadas pela Berkshire Hathaway, “é que Warren Buffett está achando realmente que é um bom investimento você ficar com esse dinheiro todo em caixa, vis-à-vis o que se tem de múltiplo implícito nas ações”.
Volatilidade
O CIO da Gama também cita a questão da volatilidade. “E volatilidade vai acabar se refletindo em deslocamentos de preços que podem trazer oportunidade. Então, você está líquido, com um dinheiro ali parado, ágil, e você pode botar ele para funcionar rápido”, afirma o especialista.
Além disso, pontua Caó, este montante no Tesouro “é um dinheiro que, se tiver alguma confusão, algum movimento brusco de mercado por conta de todas essas dinâmicas – guerra, inflação, bancos centrais em momentos meio pivotais -, você vai ter ali essa reserva para poder alocar”.
Valuation
De acordo com o analista Matheus Popst, sócio da Arbor Capital, Warren Buffett gosta de tomar posições em empresas que ele considera de altíssima qualidade, mas também que tenham um valuation que ele consegue entender.
“O Warren Buffett, aos 93 anos, é extremamente sábio e sabe a limitação de um negócio de apenas uma pessoa. Então, ele costuma ser muito conservador tanto na qualidade das empresas que compra, mas também no preço. Se você fizer um estudo, verá que ele gosta pagar algo como 10x NOPAT (Net Operating Profits After Taxes), o que significa que, mesmo se a empresa não crescer, ele recebe o dinheiro dele de volta em 10 anos”, pontua Popst.
Essa estratégia, afirma o analista, talvez tenha sido exageradamente conservadora nas últimas duas décadas. Entretanto, mesmo assim, Buffett iguala a performance do S&P 500 nos últimos 20 anos e 10 anos.
Regra: não perder dinheiro
“Alguém pode argumentar que Warren Buffet igualou a performance sofrendo muito menos risco. De qualquer forma, uma pessoa de quase 94 anos, porém muito sabia, escolhe bem o que é capaz de comprar e não perder dinheiro. Como ele diz, a regra número um é não perder dinheiro (e a regra número dois é não esquecer a regra número um)”, pontua o sócio da Arbor.
Popst lembra que, no mercado atual e dado o tamanho da Berkshire, não há muitas oportunidades para colocar para trabalhar os mais de US$ 200 bilhões que ele hoje tem em caixa. “Se você pensar que ele quer uma posição mínima de US$ 20 bilhões e cada posição pode ser no máximo 10% do market cap de uma empresa, existem apenas 39 empresas com mais de US$ 200 bilhões nos EUA. E muito menos delas em torno de 10x lucro, perto do valuation super atrativo que o Buffett gosta”, pontua o analista.
Esperar anos por oportunidades
Além disso, Popst enfatiza que Warren Buffett é contra pagar dividendos, “pois são tributáveis”. Além disso, é contra recomprar a própria ação da Berkshire quando ele não a considera atrativa. “Então, ele não tem problema em sentar em cima do dinheiro e esperar anos por oportunidades. Ele fez isso em 1969. Ele fez isso em 1999”, recorda o especialista.
Conforme o analista, a Apple acabou virando basicamente 1/3 da Berkshire. E muito disso, diz Popst, foi expansão de múltiplo: enquanto Buffett comprou as ações a 10x lucro em 2016, vendeu metade delas neste ano a 30x lucro.
“Agora, é importante não tomar conclusões precipitadas. O Buffett tem US$ 607 bilhões de capital para gerir. Ninguém mais tem perto disso. Mesmo outros gestores gigantes vão ter no máximo 10% do capital do Warren Buffett. O Buffett tem 93 anos e reconhece suas próprias limitações. A maior parte de nós tem energia para entender negócios que talvez um senhor da idade dele não seja capaz”, conclui Popst.
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