O dólar vai cair? Para onde vai a moeda americana em 2024?

Pergunta simples que merece uma resposta ainda mais simples e direta: nem eu, nem a Avenue, nem ninguém sabe!

Chegamos à reta final de janeiro e hoje nosso artigo é sobre uma questão específica e seus diferentes cenários e projeções: para onde vai o dólar em 2024? Desde a resiliência da economia americana até a possibilidade de uma recessão, são vários indicadores e variáveis para levarmos em conta.

A seguir, confira essa e outras análises.

Previsões para a moeda americana em 2024

Nesta semana, abordarei um tema sempre presente quando falamos sobre investir no exterior: a questão do preço do dólar e as previsões para a moeda em 2024. Afinal, ao investir no exterior, você está comprando dólares, não é mesmo? Muitos entendem, erroneamente (irei explicar no texto), que essa é a variável mais importante ao investir no exterior.

Então, vamos direto ao ponto.

Para onde vai o dólar em 2024?

Pergunta simples que merece uma resposta ainda mais simples e direta: nem eu, nem a Avenue, nem ninguém sabe!

Essa é a verdade nua e crua.

Agora, o que existe são muitas projeções por parte de economistas, analistas sobre onde a relação dólar versus real pode estar em 2024… Cada uma dessas análises é carregada de diversos fatores que sustentem tal tese. Vou apresentar algumas aqui…

Dólar a R$ 4,92?

Usando o último boletim Focus (19/jan/2024) como referência, a média das projeções de economistas e analistas para o dólar em 2024 aponta para uma estabilidade da moeda em R$ 4,92 e para uma leve valorização em 2025.

O Boletim Focus é construído compilando as estimativas de diversos bancos, corretoras etc. É uma grande média de um número considerável de profissionais de mercado, e por isso, podemos dizer que esse é o consenso de mercado para a moeda em 2024.

No entanto, existem outras opiniões diversas… vejamos algumas:

Dólar a R$ 4,50?

Há algum tempo, o economista-chefe do IIF (sigla em inglês para Institute of International Finance) e ex-economista do FMI (Fundo Monetário Internacional), Robin Brooks, vem defendendo em seu perfil no X (ex-Twitter) que o valor justo para a moeda americana ante o Real seria de R$ 4,50. Ele inclusive ganhou fama no Brasil pela sua visão otimista com nossa moeda e defende tal patamar “justo” há alguns anos.

Dólar a R$ 1?

Mais recentemente, a entrevista com o CEO da gestora AZ Quest, Walter Maciel, também ganhou repercussão na mídia local (Brasil). O título, obviamente, chama a atenção e merece esclarecimento de que ele cita a possibilidade de o câmbio seguir essa trajetória e não que essa seja sua estimativa.

Diversas projeções de dólar…

Na verdade, ao final de cada ano temos diversos economistas e agentes de mercado realizando suas previsões. Bruno Serra (ex-diretor do Banco Central) comentou no podcast Money Markets que o dólar poderia atingir R$ 4,20 em 2024.

Mais uma vez, reforço que a resposta para a pergunta “para onde vai o dólar em 2024?” é a de que nem eu, nem a Avenue, nem ninguém sabe!

Fundamento e desempenho recente

A meu ver, de forma bastante resumida, diria que os principais argumentos que sustentam essas diferentes visões mais otimistas com a moeda brasileira seriam:

  • Força da balança comercial brasileira: com uma pauta muito forte de exportações do setor agrícola, o qual se beneficia de ganhos de produtividade dos últimos anos, sustentaria a entrada de mais dólares no país.
  • Avanços no desenvolvimento do pré-sal: isso elevaria significativamente as exportações de petróleo pelo Brasil, gerando assim uma entrada elevada de dólares no país.
  • Visão menos otimista com o crescimento da economia americana em 2024.
  • Redução de juros nos EUA: isso reduz a atratividade do investimento em dólares devido aos menores juros.

Tais pontos são, sem dúvida, bons argumentos com fundamentação em termos de cenário econômico. Além disso, um ponto comum aqui é que essas notícias, de uma valorização do Real e/ou queda do dólar, se preferirem, chamam atenção e mexem com a cabeça do investidor que pensa em começar a investir no exterior. Especialmente após dois anos (desde o início de 2022), quando o Real acabou se valorizando mais de 10% ante o dólar.

Mas será mesmo que o dólar vai cair?

Se, por um lado, existem, obviamente, bons fundamentos que sustentam essas teses mais otimistas com o real, por outro, penso que existem diversos contrapontos.

Foto e filme

Primeiramente, quando olhamos para um horizonte de investimento maior, por exemplo, de 10 anos, a realidade muda. Nos últimos 10 anos, a moeda americana se valorizou mais de 100% ante o real.

80% de desvalorização

Indo adiante, desde a formação do Plano Real, o qual completa 30 anos em 2024, vimos a moeda brasileira perder quase 80% do seu valor de compra. Se 30 anos atrás R$ 1 comprava US$ 1, atualmente R$ 1 compra apenas US$ 0,20.

Diferencial de inflação

Uma teoria bastante simples e intuitiva para entender a variabilidade de taxas de câmbio é a da Paridade do Poder de Compra (Purchase Power Parity Theory). De forma resumida e simples, ela nos ensina que dois produtos semelhantes deveriam custar a mesma coisa em diferentes países, e que a taxa de câmbio seria apenas uma conversão entre as moedas.

Ok, e a taxa de câmbio?

Com o passar do tempo, as diferentes taxas de inflação experimentadas pelos países corroem o poder de compra de cada uma das moedas analisadas. Então, países que experimentam uma taxa de inflação maior veem sua moeda perder poder de compra e, consequentemente, para comprar os mesmos produtos, você precisa de mais unidades daquela moeda.

Vejamos um exemplo. Supondo que, num dado momento, uma caixa de molho de tomate custe 1 unidade monetária nas moedas X e Y. Após 5 anos, o país X experimentou uma taxa de inflação de 100%, e o país Y, de 20%.

Portanto, você precisa de 2 unidades monetárias do país X para comprar a mesma caixa de molho de tomate; ao passo que você precisa de 1,20 unidades monetárias do país Y. Dado esse cenário inflacionário, a taxa de câmbio entre ambos os países não seria mais 1, mas sim 2,00/1,20, ou seja, 1,67. Isso quer dizer que agora você precisa de 1,67 unidades monetárias da moeda do país X para comprar 1 unidade monetária do país Y.

Olhando o histórico entre Brasil e EUA, vimos que foi exatamente isso que aconteceu nos últimos 30 anos. À medida que a inflação brasileira foi consistentemente maior que a inflação americana, observamos o Real perder poder de compra, e os brasileiros precisaram de mais “reais” para comprar US$ 1.

Olhando adiante, o que essa teoria sugere é que a valorização do real frente ao dólar de forma consistente passa por vermos uma taxa de inflação no Brasil menor que a inflação americana, de forma consistente e sustentada.

Risco e diversificação

Penso que não preciso discorrer muito aqui. Por mais que existam previsões positivas acerca de nossa economia, a verdade é que algo que nunca podemos ignorar é que o Brasil, em contexto internacional, é considerado um local de investimento de risco.

Temos uma economia suscetível a diversas crises internas e externas, e nossa moeda reflete isso. Não sei quando teremos uma nova crise em contexto global ou ainda alguma crise interna. No entanto, o resultado tende a ser aquilo que já vimos no passado, ou seja, um impacto direto em nossa moeda.

E se houver recessão nos EUA ou no mundo?

Seguindo o que comentei acima, da percepção do real como uma moeda de risco, o que aconteceu em todas as últimas graves crises mais recentes? Ativos de risco sofrem. O real como um ativo de risco não é diferente.

Em outros momentos de crise, vimos o dólar se valorizar frente ao real. Mesmo em 2008, quando tivemos uma grande crise no setor imobiliário americano, essa tônica se repetiu. Será que, em havendo uma nova grave e grande crise, tal padrão não se repetiria?

Mas o contraponto mais importante para essas previsões está abaixo…

A nulidade dessas previsões

Em relação a todas essas previsões, minha visão é de que sua utilidade de fato é praticamente nula. A meu ver, as frases abaixo nos ensinam muito mais sobre as previsões de câmbio do que as previsões em si. Leia e reflita:

“A única função das previsões econômicas é fazer a astrologia parecer respeitável” – John Kenneth Galbraith

“A melhor previsão para a cotação de uma moeda hoje, seria o seu preço ontem.” – Kenneth Rogoff

“O câmbio foi feito por Deus para humilhar os economistas.” – Edmar Bacha

Em resumo, mesmo o consenso de previsões dos bancos e profissionais mais preparados do Brasil erra consistentemente as previsões de câmbio.

O que realmente importa

Sendo assim, tenho total convicção de que você, investidor, não deveria se preocupar com o patamar de câmbio no próximo mês ou mesmo ao final de 2024.

Penso que muito mais importante do que a cotação do dólar é o que você faz com os dólares que tem.

Digo isso porque, ao investir, você expõe seus dólares a uma potencial taxa de retorno, seja ela através de investimentos em renda fixa ou renda variável. Essa taxa de retorno dos seus investimentos pode ser muito maior ou mais relevante do que o percentual de desvalorização do dólar – vide, por exemplo, a forte alta observada na bolsa (índice S&P500) nos últimos 12 meses, por exemplo.

Mas, acima de tudo, quando investimos, devemos ter uma mentalidade de foco no longo prazo. E como mostrei mais acima, quando olhamos o “filme” (dólar nos últimos 13 anos) e não apenas a “foto” (últimos 2 anos), vimos que a performance do dólar foi muito superior à moeda brasileira. Nada garante que será assim daqui para frente, mas podemos dizer que o investidor que dolarizou parte do seu patrimônio não tem motivos para se arrepender.

E aí, está caro ou barato?

Mas para quem ainda tem dúvidas, peço que reflita sobre o seguinte exemplo hipotético:

Se fosse dada a você a possibilidade de escolher entre dois baús cheios de dinheiro. Um com US$ 1 milhão e outro com R$ 4,920 milhões. E você só pudesse abrir um desses baús e pudesse assim usufruir desses recursos somente daqui a 5 anos! Qual baú você escolheria?

Se você escolheu o baú com dólares, pense que você mesmo já respondeu à pergunta se o dólar está caro ou barato!

E na economia

E para não deixar passar batido, tivemos indicadores importantes da economia americana na semana passada que merecem ser citados, pois nos ajudam a ler o cenário de investimentos nos EUA. Então vamos a eles.

PIB e PMI

Na semana passada, tivemos mais uma vez uma demonstração de força da economia americana, bem ao estilo da frase de Warren Buffett: “Never Bet Against America” (nunca aposte contra os EUA). A prévia do dado de PIB do quarto trimestre de 2023 se mostrou bem acima do esperado pelo mercado (+3,3% versus +2% esperado), reforçando a tese da resiliência da economia americana e do cenário de “no landing”, ou seja, aquele em que a economia desacelera pouco e ainda assim vemos a inflação cedendo.

Se em 2022 muitos acreditavam que a economia americana entraria em uma recessão, a realidade se mostrou bastante diferente, com o PIB crescendo 2,5% no agregado do ano.

PMI

E reforçando essa tese de resiliência da economia, o dado de PMI (Purchasing Managers’ Index) – que também funciona como um indicador que mede a atividade da economia – veio no mesmo tom, ou seja, mostrando a resiliência da economia. O PMI é um indicador importante porque guarda relação com o PIB, podendo ser um indicador antecedente de atividade econômica.

Além disso, sua leitura de preços também guarda estreita relação com a inflação percebida.

Ora, do PMI, tivemos outra boa notícia. Em suma, de acordo com a Markit em sua divulgação:

Output growth fastest for seven months at start of 2024, prices charged rise at slowest rate since May 2020.

(Crescimento da produção mais rápido em 7 meses no início de 2024, preços subindo sobem à taxa mais lenta desde maio de 2020.)

Ou seja, as empresas nos EUA sinalizaram uma recuperação mais forte na atividade neste início de ano, com o dado vindo acima do esperado pelo mercado. A expansão foi impulsionada pelos prestadores de serviços, mas houve em geral uma melhoria generalizada nas condições de negócios de acordo com a Markit, o que ajudou a impulsionar o indicador de confiança empresarial para o nível mais alto em 20 meses.

Além disso, no que diz respeito aos preços, os custos globais dos fatores de produção aumentaram ligeiramente, mas em seu ritmo mais suave neste início de ano, com as empresas aumentando seus preços no ritmo mais lento desde maio de 2020.

E a inflação?

E, na sexta-feira, tivemos o dado de inflação preferido do Fed, o PCE (Personal Consumption Expenditures). O índice se mostrou bem em linha com o esperado pelo mercado – +2,6% no ano para o índice cheio versus +2,6% de expectativas, e +2,9% para o núcleo ante +3,0% esperado.

Em suma, o dado seguiu mostrando que os preços seguem uma trajetória de desaceleração nos EUA. Se fizermos um exercício de anualizar os dados de inflação dos últimos 3 ou 6 meses, vemos que a inflação americana já estaria na meta do Fed – inflação de 3 meses anualizada em 1,5% e a de 6 meses em 1,9%.

Conclusão

A verdade é que, a despeito de todos os prognósticos mais conservadores sobre a atividade e o desenvolvimento da economia americana, os indicadores da semana passada só reforçaram aquele cenário mais otimista, ou seja, de continuidade dos níveis de atividade com uma inflação que caminha para a meta do Fed.

Os dados de crescimento surpreenderam para cima, e os dados de inflação continuam cedendo, criando as condições para o Fed começar a cortar as taxas de juro ainda neste ano. As apostas, de acordo com o CME tool watch, são de que os cortes possam começar em maio.

Temos visto um cenário que abre espaço para cortes de juros, mas com empresas e negócios continuando a performar, crescer, ou seja, um cenário que parece ser positivo para bonds (juros caindo geram o impacto positivo de marcação a mercado) e ativos de risco (resiliência da atividade).

Não por acaso, vimos a bolsa renovando máximas no início de 2024. Obviamente, que esse cenário positivo não se dará sem sobressaltos e solavancos naturais à economia, mas como se diz aqui na América: so far, so good.

Resultados

Corroborando o cenário positivo que comentei acima, a mensagem também tem sido positiva por parte das empresas. Até aqui, cerca de um quinto das companhias do S&P 500 divulgaram seus números, sendo que 74% superaram as estimativas do mercado.

Ainda é cedo para dizer que esta temporada de resultados está sendo melhor que o esperado, pois ainda temos resultados relevantes pela frente. Nesse sentido, esta semana promete! Temos um universo grande das maiores empresas americanas divulgando seus resultados.