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Confiança do consumidor e impactos de alocação: sinal de alerta?
Em se tratando de indicadores econômicos, a semana que passou foi relativamente fraca… Assim, de mais relevante, tivemos mais um indicador de confiança do consumidor mais fraco do que o esperado. O sentimento do consumidor americano se encontra no menor nível em seis meses!
A meu ver, a justificativa/explicação para isso é simples: taxas de juros próximas às máximas. Em uma sociedade na qual o consumo representa quase 70% do PIB, o vetor juros exerce poder sobre as perspectivas de consumo de bens de valor mais elevado. Como comprar uma casa ou um carro com uma taxa de juros muito elevada, com a taxa mais alta em décadas?
Sinal de alerta?
Além da queda da confiança, o que chamou atenção na abertura desse índice foi que as expectativas inflacionárias tiveram uma leve alta… Sim, você não leu errado… uma alta! O consumidor americano vê que, além dos juros, existe outra ameaça que abala a sua confiança: a inflação! Ora, a inflação nada mais é do que a corrosão do poder de compra dos clientes, então é normal que isso abale sua confiança.
Como canta o Coldplay na música “The Scientist”: “Nobody said it was easy!”.
Essa notícia de expectativas inflacionárias não é algo agradável para o Fed, que segue lutando para controlar isso! Não por acaso, em seu mais recente discurso na quinta-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, deu um recado mais duro ao mercado… o de que ele e os dirigentes do Fed entendem que a batalha contra a inflação não está ganha e que mais aumentos de juros podem ser necessários.
E como reflexo, as curvas de juros, em especial a de 10 anos, interromperam as quedas que observamos na semana anterior.
Destaque para esta semana
Considerando essa má notícia da semana passada, o CPI (Índice de Preços ao Consumidor), divulgado na terça-feira (14), será analisado com afinco e detalhe pelo mercado. O lado positivo que vejo é que talvez o dado acima da mudança das expectativas inflacionárias tenha sido influenciado pela alta dos preços da gasolina nos últimos dois meses, devido às guerras recentes. No entanto, ao analisarmos a atividade do importante setor de serviços, temos visto ele recuar, e isso pode fazer diferença no indicador desta semana… vamos ver.
A luta contra a inflação não está ganha, mas, salvo choques externos, penso que esteja bem encaminhada. Obviamente, o Fed tem que ser diligente e controlar as elevadas expectativas do mercado. Parece mais uma questão de tempo, dado que vemos sinais de desaceleração na economia, que, aí sim, permitam conversarmos sobre uma mudança na condução da política monetária. Ainda é cedo, mas penso que estamos no caminho para ver isso acontecer em 2024.
E, nesse cenário, como ficam os investimentos em renda fixa?
Todos os dias, o mercado acorda e precifica as mais diversas coisas nos preços dos ativos.
A economia dá sinais de fraqueza… indicação de que os juros podem ceder… preços dos bonds se valorizam. Opa, expectativas de inflação estão altas… juros não cedem… preços dos bonds caem.
Nessa gangorra de emoções e percepções, o que segue válido, a meu ver, é que o investidor consegue hoje contratualizar retornos dos mais elevados nas últimas décadas ao investir em renda fixa nos EUA. “Se” ou “quando” ele pode vir a se beneficiar de uma marcação a mercado, ninguém sabe.
Novamente, como canta o Coldplay em sua música “In My Place”: “How long must you wait for it?”.
Ninguém sabe, mas por ora, o mercado estipula, sem muita convicção, que os juros começam a cair em junho de 2024.
De olho nisso, o que vi mais recentemente foi o mercado cada vez mais migrando para títulos mais longos. Buscar contratualizar essas taxas, elevadas em contexto histórico, por mais tempo… e isso para mim faz muito sentido hoje.
E, nesse cenário, como ficam os investimentos em renda variável?
Comentei na semana passada que, estatisticamente, sazonalmente ou apenas historicamente, entramos num momento que se mostrou positivo para a renda variável quando olhamos o passado. Nada garante que será assim desta vez, mas por ora o mercado americano segue o “novembro azul”… nada de vermelho nos índices por ora.
No entanto, a boa performance dos índices segue sendo totalmente derivada de uma boa performance das ações tech. Vivemos uma era, ou um momento no mercado, onde os “winners take all”… veja que grande parte do fluxo do mercado tem sido para ações de tecnologia.
Diferente do que o Coldplay canta, o mercado americano este ano não é um “sky full of stars”… podemos dizer que apenas uma grande estrela brilha até aqui: o setor de tecnologia, que segue recebendo fluxo por parte dos investidores.
“Magnificent 7”
E o otimismo com os resultados dessas empresas, ou melhor, das “Magnificent 7”, segue só aumentando. “Magnificent 7” é uma expressão criada pelo mercado e que se refere às ações de Apple, Microsoft, Google, Amazon, Nvidia, Meta e Tesla.
Apesar da boa performance, o ano de 2023 tem sido marcado por um período extremamente desafiador para aqueles que se propõem a escolher ativos. A vasta maioria dos retornos dos índices derivam de um punhado de ações, sendo que grande parte das ações do mercado não teve uma performance exuberante. O mercado é assim, assume algumas narrativas que passam a ser verdades absolutas por um tempo… até quando? Não faço ideia.
Olhando o mercado de forma ampla, ações fora do espectro de tecnologia, em geral, negociam a múltiplos abaixo da média do mercado (S&P500). Recentemente vimos que as small caps, por exemplo, atingiram mínimas ante o S&P500, da mesma forma que mercados mais sensíveis aos juros como o mercado de REITs. Essas podem ser opções para quem quer começar a estudar alternativas no mercado de ações.
Resultados
Na semana passada, fiz um resumo do que haviam sido os resultados até aqui. Em suma, o crescimento de lucro é pequeno e as receitas estão praticamente inalteradas ante o terceiro trimestre de 2022. Em geral, o que vimos até aqui foi que as empresas focaram no seu negócio internamente, buscando controlar custos e otimizar processos para conseguir melhorar sua lucratividade. Grande parte da melhora ou do aumento de lucro visto nesse trimestre deriva da melhoria de margens, ao invés de maiores vendas.
Apesar do fraco crescimento de receitas, a boa notícia é que grande parte das empresas está batendo as estimativas do mercado. Ainda assim, é verdade que não temos visto as ações repercutirem muito… a explicação reside naquela máxima do mercado de “expectativas versus realidade”.
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