Analistas recomendam exposição à bolsa americana em ‘cenário internacional permeado de incertezas’

Comitê do Itaú alterou exposição à bolsa americana para um nível acima do neutro, e reduziu a alocação na Europa

O comitê de investimentos do Itaú Unibanco destaca, nas recomendações de carteira, que o panorama internacional continua permeado de incertezas. “Com este cenário em mente, decidimos alterar nossa exposição à bolsa americana para um nível acima do neutro (+1). Ao mesmo tempo, reduzimos a alocação em bolsas europeias para um nível abaixo do neutro (-1). Dada a recente correção nos mercados em abril, enxergamos uma janela de oportunidade para comprar ações americanas, as quais continuam a ser sustentadas por fatores de longo prazo”, diz o relatório da equipe capitaneada pelo CIO (chief investment officer) Nicholas McCarthy.

Entre os fatores, o documento cita:

  • a onda de inovação de Inteligência Artificial;
  • receitas corporativas sólidas;
  • estruturas de capital resilientes após anos de financiamento a juros baixos;
  • e múltiplos de precificação que, embora acima da média de longo prazo, não aparentam estar demasiadamente esticados.

Além disso, o Itaú destaca a trajetória de inflação cadente nos Estados Unidos, “um fator positivo para ativos de risco”.

Bolsas europeias

Por outo lado, o relatório enfatiza que, “ainda que as bolsas europeias negociem a múltiplos de precificação em linha com sua média de longo prazo e devam se beneficiar de um quadro de desinflação gradual à frente, as expectativas de lucros das empresas para este ano continuam a ser reduzidas, o que deve levar a um crescimento de lucros abaixo de pares americanas”.

Além disso, um cenário de desaquecimento econômico no continente seria mais desafiador para as ações europeias, diz o documento. “Acreditamos, portanto, ser mais vantajoso aumentar a parcela de nossas carteiras alocada em bolsa americana no momento, acomodando o movimento com uma redução de ações europeias”, pontua o banco.

Mercados emergentes

Em relação às bolsas de mercados emergentes, o Itaú manteve a alocação um nível acima do neutro (+1). “Múltiplos descontados em relação às bolsas de mercados desenvolvidos, a baixa alocação dos investidores globais e estímulos governamentais na China fundamentam a posição. A eventual queda da inflação nos EUA em direção à meta do Fed deve ser um fator chave para os ativos de risco. E isso inclui as bolsas de emergentes”, diz o relatório.

No que diz respeito à bolsa japonesa, o comitê de investimentos do Itaú Unibanco permanece neutro, “ainda que o ritmo de recompras de ações continue a favorecer investidores, os efeitos incertos do abandono da política de taxas de juros negativa e a recente desvalorização do iene sugerem maior cautela no momento”.

Renda fixa

Na renda fixa, o banco salienta que, “após a surpresa nas leituras de inflação dos EUA, os títulos de 10 anos continuam a precificar crescimento econômico robusto, limitando o potencial de fechamento das taxas”. Assim, a recomendação é de alocação neutra em títulos do Tesouro americano.

Já na parte de crédito, o Itaú continua com a posição acima do neutro (+1) em títulos corporativos americanos com grau de investimento (investment grade). Isso porque, embora as taxas tenham se aproximado de sua média histórica recentemente, ainda apresentam um potencial de retorno atrativo em comparação com a taxa de dividendos da bolsa americana.

“Mantivemos alocação neutra em crédito sem grau de investimento (high yield), conforme o diferencial pressionado das taxas limita a atratividade dos preços baixos destes títulos (vale lembrar que preço e taxa apresentam relação inversa)”, afirma o relatório.

Por fim, o banco salienta que, nos mercados emergentes, o prêmio de risco reduzido frente a títulos de desenvolvidos segue como um importante fator por trás de da posição neutra.

Cenário da carteira internacional

Sobre o cenário para investimentos no exterior, o relatório da equipe de McCarthy pontua que “a combinação de atividade e inflação fortes nos EUA tem destoado das principais economias desenvolvidas. Isso posterga a expectativa para o início do ciclo de cortes de juros, que deve começar na Europa e depois nos Estados Unidos. Além disso, diz o documento, as incertezas em relação ao crescimento chinês e questões geopolíticas, por sua vez, permanecem no radar.

De acordo com o Itaú, a economia americana seguiu resiliente, com consumo ainda forte e dados robustos do mercado de trabalho. Na frente de preços, continua o banco, a inflação de março veio mais pressionada do que a esperado, com composição pior. Sendo assim, aumentam-se as incertezas quanto à trajetória de desinflação adiante.

“Ainda assim, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) descartou qualquer chance de aumento de juros. Acreditamos que a inflação vai continuar sua trajetória de queda, permitindo a redução de juros em algum momento no segundo semestre do ano. Isso deve ser positivo para o desempenho de ativos de risco”, reforça o relatório.

Europa e China

Na Europa, a economia segue mostrando melhora na margem, mas ainda em nível consistente com um crescimento baixo, segundo o documento. Além disso, a leitura de inflação de abril seguiu desacelerando, dando mais confiança ao Banco Central Europeu (BCE) quanto à convergência da inflação à meta. Nesse sentido, “o quadro de atividade fraca e uma trajetória de desinflação em estágio mais avançado indicam que o BCE deve liderar o ciclo de cortes de juros nos países desenvolvidos”.

Sobre a China, o Itaú destaca que o crescimento econômico surpreendeu no início do ano. Isso mostra um forte crescimento do setor manufatureiro, reflexo da política econômica chinesa de estímulo à manufatura e infraestrutura para compensar a fraqueza do setor imobiliário.

“Contudo, há incertezas quanto ao ritmo de crescimento à frente. Ainda aguardamos novos anúncios de estímulos fiscais e monetários ao longo dos próximos meses. Isso deve levar o crescimento chinês para algo ao redor de 5% neste ano. Ao mesmo tempo, a inflação no país continua bastante baixa, com o indicador de preços ao consumidor próximo a zero e deflação nos preços no atacado”, dizem os analistas do banco.