Café a R$ 40 em 2025? Quebra de safra na Ásia, demanda europeia e crise climática explicam alta
O cafezinho pesou no bolso do consumidor em 2024. O IPCA mostrou que esse item representou uma das maiores altas no ano. E as perspectivas para 2025 não são as melhores. Ao menos para o início do ano, dizem especialistas.
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Para o curto prazo, a expectativa é de que o preço suba para o consumidor final. “Até dezembro muita coisa que tinha no supermercado havia sido comprada com preço de café mais barato”. A afirmação é de Vicente Zotti, sócio-diretor da Pine.
A expectativa agora é de nova disparada para o preço do café. “Hoje, as torrefações estão vendendo café em torno de R$52/R$55 o quilo, mas já tem indústria colocando a R$60/R$62”, acrescenta o consultor.
“Para o consumidor final, o preço novo (maior, impactado pelo ajustes de novembro e dezembro) vai continuar a chegar. Enquanto o estoque do supermercado girar, o próximo giro vai significar sempre preço novo. Então, eu acho que o consumidor ainda vai ter um repasse de preço maior”, alerta Zotti.
Assim, para o consumidor final, o pacote de 500 gramas de café tradicional ou extraforte no mercado pode vir a custar entre R$ 38 e R$ 40, segundo projeções da Pine.
Suno: estoques preocupam
Vitor Duarte, diretor de Investimentos da Suno Asset, faz uma afirmação bastante preocupante. Assim, segundo “não tem café no mundo hoje para ser consumido até o mês de junho”. E há previsão também de quebra de safra relevante neste ano.
Além disso, “o dólar subiu bastante e puxou bastante para cima as commodities como um todo”, complemente Duarte. Isso seguirá pesando sobre o preço do cafezinho.
Disparada em 2024 impacta preço do café agora
Os preços da commodity tiveram forte alta principalmente entre novembro e dezembro de 2024. Um dos motivos para a disparada foi a quebra de safra no Vietnã. O país asiático é o maior produtor do mundo de café robusta e o segundo maior produtor de café no geral. Assim, o Brasil concentrou ainda mais a venda da commodity.
Nesse sentido, vale mencionar que o Brasil detém mais de 45% do mercado de café global, segundo dados utilizados pela consultoria Pine e fornecidos à reportagem. O cenário se tornou ainda mais dramático após a deflagração de efeitos climáticos no País em 2024.
“Secas severas e altas temperaturas em regiões produtoras, como o Brasil, afetaram negativamente a produção, reduzindo a oferta global”, analisa Marcos Piellusch, professor da FIA Business School.
Além disso, houve aumento nos custos de produção e logísticos, e manutenção de uma forte demanda global.
O professor diz que, nesse cenário, o café destacou-se entre as commodities com maior valorização.
“O café arábica registrou um aumento de aproximadamente 70% nos preços, enquanto o robusta teve uma alta superior a 60%, consolidando o grão como uma das commodities mais valorizadas do ano”. menciona Piellusch.
Commodities que mais subiram de preço em 2024
Produto | Variação |
Cacau | 200% |
Café | Entre 60% e 70% |
Suco de laranja* | 41,5% |
Prata | 40% |
Ouro | 30% |
Questões externas
Além disso, a movimentação de alta do preço do café se relaciona com o fechamento do Canal de Suez, no Egito. A mídia informou, no começo de 2024, que o grupo de rebeldes houthis, do Iêmen, passou a atacar navios na região.
Assim, toda a logística foi desviada para o cabo da Boa Esperança, na África do Sul. “Isso fez com que o custo logístico para os cafés asiáticos – principalmente da Indonésia, Vietnã e Índia – tivesse elevação. Então, esse foi mais um motivo para (o mundo) concentrar (as compras) no Brasil”, diz Zotti.
Demanda europeia pelo café brasileiro em patamares recordes
Além disso, o café brasileiro subiu de preço porque a demanda da Europa, que já era muito forte, aumentou. Isso principalmente devido à nova lei da União Europeia, que promete reduzir a entrada de algumas commodities, inclusive o café, por questões relacionadas com critérios ambientais.
“Como os compradores não sabiam ao certo se a lei iria entrar ou não em vigor, eles se precaveram e compraram café. Como os estoques já estavam baixos, esse foi mais um motivo para a alta do café”, explica Zotti.
Para se ter uma ideia do tamanho do aumento da demanda da Europa, em 2024, a Alemanha ultrapassou os Estados Unidos como principal destino do café brasileiro. “Isso nunca havia acontecido em toda a história”, acrescenta o consultor.
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