O que esperar do futebol em 2024

No campo dos negócios, certamente teremos um crescimento no número de SAFs, o que não significa uma invasão estrangeira no futebol brasileiro
Pontos-chave:
  • Com a tendência de queda nas taxas de juros no mundo, investimentos que não geravam retorno com juros altos tendem a ganhar alguma atratividade. A regra básica da diversificação de ativos pode trazer mais investidores para o mundo do futebol

Começando a temporada 2024 do futebol brasileiro, nada mais óbvio que debater as expectativas para o ano. Num ambiente global como é a indústria, isso precisa estar alinhado com o que se passa em outras ligas mundo a fora. Afinal, os efeitos de um gol na França, ou uma defesa espetacular na Itália, tem impactos no futebol de todo o mundo, gostemos ou não disso.

O ano de 2024 tem tudo para ser bastante movimentado no Brasil, o que não significa necessariamente algo positivo. Dependerá muito do que os dirigentes resolvam fazer a partir dessa movimentação.

No campo dos negócios, certamente teremos um crescimento no número de SAFs, o que não significa uma invasão estrangeira no futebol brasileiro, mas sim u maior entendimento dos riscos e oportunidades por parte de brasileiros. Com a tendência de queda nas taxas de juros no mundo, investimentos que não geravam retorno com juros altos tendem a ganhar alguma atratividade. Por mais que ainda não haja mercado de negociação de clubes no Brasil, e mesmo com preços altamente salgados pedidos pelas SAFs, ainda assim a regra básica da diversificação de ativos pode trazer mais interessados ao mundo do futebol.

Continuo não acreditando no retorno do investimento em clubes brasileiros feitos sob o ambiente e cenário atual, e tenho dificuldades em visualizar melhoras substanciais, mas no preço certo e com o ativo justo, é possível tentar negócios no Brasil. Agora, não creio na possibilidade de venda de participação minoritária, mantendo poder e decisão nas mãos das associações.

Sobre o ambiente de negócios, teremos eleições na CBF. Após uma gestão que entendo muito ruim, em função do tratamento dado à Seleção e o excesso de prestígio às federações estaduais. Temos, portanto, a possibilidade de encontrarmos um rumo para o futebol brasileiro.

Os candidatos têm boa presença na construção da liga de clubes, muito envolvidos com a Libra. Talvez seja o empurrão necessário para que os clubes se entendam e façam a construção e gestão das Séries A e B.

Obviamente que há um obstáculo a ser ultrapassado, que é a diferença na relação entre LFU (Liga Forte União) e General Atlantic, e Libra com Mubadala. Enquanto a Libra optou por manter 100% dos direitos de transmissão com os clubes, na LFU os clubes venderam 20% de seus direitos futuros por 50 anos. Como resolver essa questão é a chave para um acordo, porque independentemente do perfil de distribuição de recursos dos direitos de transmissão, os clubes da LFU já saem com 20% a menos. Isso pode significar entre R$ 15 milhões e R$ 25 milhões anuais, dependendo do modelo de distribuição do dinheiro. É muito, num ambiente altamente competitivo.

Entretanto, os clubes da LFU receberam valores por esta venda, e ainda receberão algo em 2024 e 2025. Isto significa que o mercado estará irrigado de dinheiro, e como clube com dinheiro não paga dívidas, mas contrata, é possível imaginar uma inflação nos valores de contratações e salários em 2024. Paulinho da Viola já dizia: “Dinheiro na mão é vendaval”.

O vento ficará mais forte se adicionarmos ao clima o aumento dos valores pagos pelos sites de apostas por patrocínio aos clubes. Flamengo, São Paulo, Corinthians, Fonte Nova são apenas alguns nomes com valores maiores que os contratos anteriores. Com a regulamentação do tema é bem provável que veremos uma nova bolha no futebol. Pagamento de dívidas? Equacionamento de fluxo de caixa? Que nada! Contratações, porque a glória é agora. Ainda mais para clubes que precisam apostar na conquista da Libertadores para chegar ao sonhado Mundial de Clubes de 2025, ou para aqueles cuja nova direção tem que se mostrar melhor que a anterior.

Ou seja, 2024 será ano de clubes reforçados, várias tentativas de “all in”, e início de um novo ciclo de problemas. O que, ao fim e ao cabo, significará que em 2025 é possível termos nova leva de SAFs para salvar clubes quebrados.

Dentro de campo ainda é cedo para previsões, justamente porque é necessário entendermos o que cada clube fará com o dinheiro que está entrando no caixa. Lembrando que os clubes com maiores receitas tendem a ser mais competitivos, porque podem gastar mais. Mas sempre haverá o clube que faz mais do que pode. Então, vamos aguardar.

Resumindo, no Brasil:

  • É possível um novo ciclo de SAFs nos clubes de Série A e B, mas não uma avalanche;
  • O novo presidente da CBF pode ser a chave para a constituição de uma liga de clubes;
  • Clubes precisam resolver temas financeiros para que a liga saia do papel;
  • Teremos um ano com mais dinheiro no futebol, e isso significa mais contratações e valores altos para atletas medianos;
  • 2024 será ano de bolha no futebol brasileiro, recheado de “all ins”;

E na Europa?

Há muitos desafios para algumas ligas, especialmente para a francesa, que ainda não tem um novo contrato de TV para a próxima temporada, e parece estar perdendo a aposta de elevar os valores da competição. Significa um mercado a menos para brasileiros, ainda que a algum tempo esteja mais voltado aos africanos.

Premier League seguirá forte, mas cada vez mais ocupada em evitar atrasos de salários e gastos excessivos. Everton foi punido, Nottingham Forrest está prestar a ser, ambos com dedução de pontos por atrasos e prejuízo além do limite. Vamos ver se atingirá os grandes, mas é também uma forma de restringir gastos.

Na Itália o governo cortou o incentivo fiscal que havia para atletas estrangeiros, reduzindo assim a possibilidade de chegada de jogadores de melhor nível. A tendência é seguirem com o modelo de contratação de jovens, especialmente dos balcãs e dos nórdicos.

Demais ligas tendem a se manter estáveis. Impactos para o Brasil? Por enquanto, nada de muito diferente do que temos visto, ou seja, contratações pontuais, por valores medianos em termos internacionais, com exceção dos atletas de alto destaque. E muitos atletas saindo de graça ou por valores irrisórios para ligas de entrada, como Portugal, Bélgica, Holanda, Rússia.

Que seja um bom ano para o futebol brasileiro!