Conheça os fundos multimercados e long short que mais renderam no primeiro trimestre

Boa parte da rentabilidade dos últimos 12 meses veio no começo de 2022

Título isento rouba a cena e fundos de investimento perdem R$ 163 bilhões. - Ilustração: Inteligência Financeira

Bolsa de Valores (B3) recuperando parte das perdas do ano passado, dólar desvalorizado frente ao real, commodities recuando com o início da guerra na Europa e instabilidade dos juros. Este é o cenário que os fundos multimercados e os do tipo long short, que são comprados e vendidos ao mesmo tempo em ativos, viram no fim de março ao olhar o primeiro trimestre que enfrentaram em 2022.

Com isso, é esperado que alguns não tenham ido bem, que errem nas decisões e se enganem com as estratégias adotadas. Assim como outros se destacam pelo bom desempenho e chamam a atenção dos investidores.

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Em média, 70% da rentabilidade dos fundos multimercados nos últimos 12 meses foi conseguida no primeiro trimestre de 2022. Os principais fatores que contribuíram para esses números foram a alta do Ibovespa, de mais de 14%, e a queda de 15% do dólar no mesmo período. Entre os melhores long short, o desempenho foi mais disperso: os cinco primeiros superaram o CDI e os cinco últimos perderam para o índice de referência. Destes, os melhores chegaram a render três vezes mais do que o CDI e os piores ficaram com rentabilidade negativa. Os dados são de um estudo feito pelo economista e blogueiro do Valor Investe, Marcelo d’Agosto, a partir de dados da plataforma Morningstar.

Segundo o levantamento, os 10 melhores fundos multimercados do período tiveram um desempenho quase 10 vezes maior do que o índice de referência, uma vez que a média de rentabilidade do Top 10 foi de 22,33%.

Já os 10 fundos mais rentáveis do tipo long short entregaram 2,2% de retorno em média, abaixo do CDI no trimestre, de 2,4%. A rentabilidade menor tem relação com seu risco: os long shorts são menos voláteis porque podem usar a parcela “vendida” do portfólio, que aposta na queda dos ativos, para se proteger. No líquido ganham menos, mas também oscilam menos.

Vencedores

Os fundos multimercados acabam se dando bem em cenários incertos, uma vez que podem fazer várias investimentos em diferentes tipos de ativos. Encabeçando a lista, está o fundo Chess Alpha FIC FIM, da gestora Chess Capital, que rendeu 64,5% no período. O décimo e último lugar, o XP Macro Plus, da XP, valorizou quase 13%.

Os dois, apesar de estarem em extremidades opostas na lista, têm algo em comum: operam ativamente em busca de oportunidades em diversos mercados – câmbio, juros, Bolsa, commodities – no Brasil e no exterior. A estratégia fez com que os fundos superassem os percalços dos últimos meses e aproveitassem oportunidades em outras economias que seguem ritmos diferentes daqui.

“Mas o nosso principal acerto foi ter mantido as posições otimistas no Brasil (ações e moeda), apesar do mau desempenho no 2º semestre do ano passado. Sofremos em 2021 devido à queda forte da bolsa e à alta do dólar. Essa recuperação já era esperada”, conta o presidente da Chess Capital, Vicente Zuffo. O fundo tem posições em petróleo, varejo, bancos, utilidades públicas e uma pequena parte em serviços domésticos.

Do lado da XP, a aposta na alta de juros nos EUA foi o ponto principal para que o fundo tivesse um bom desempenho no primeiro trimestre do ano, quando o Federal Reserve (o Fed, banco central americano) anunciou o aumento dos juros no país. “Nesse período, tivemos ‘vendidos’ [apostando na queda] em [mercado] futuro de bolsa americana, comprados [apostando na alta] em inflação no Brasil, eventualmente comprados em NTN-B (Tesouro Direto indexado à inflação), e em Petrobras. Além disso, temos posições que apostam na alta de juros do México e Chile”, conta Bruno Marques, um dos co-gestores do XP Macro.

No primeiro trimestre do ano, o Ibovespa havia acumulado valorização de 14,48%. Ao longo dos meses de 2022, o índice subiu 6,98% em janeiro, 0,89% em fevereiro, e 6,06% em março. Já os títulos Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA+ tiveram retorno de 1,35% e 2,87%, conforme divulgado pelo IRFM e IMA-B, respectivamente. Os indicadores são calculados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e medem o desempenho de uma carteira teórica composta pelos papéis emitidos pelo Tesouro Nacional, que, por sua vez, refletem as incertezas macroeconômicas pela qual o país passa.

Índices nos EUA

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o S&P 500 caiu 4,9%, o índice Dow Jones perdeu 4,6% e o índice de tecnologia Nasdaq recuou 9,1%. As quedas das ações estrangeiras foram somadas à desvalorização de 15% do dólar em relação ao real.

Os números da economia americana foram os balizadores do fundo ASA Hedge, da Asa Investments, que conquistou um lugar no meio do Top 10 e cujo retorno foi de 17,22% no trimestre. “A rentabilidade foi fruto, principalmente, das nossas posições ‘tomadas’ [esperando a alta] nas taxas de juros americanas. Há praticamente um ano estamos convencidos de que a trajetória ajustada no mercado não condiz com a mudança de fundamentos, cíclicos e estruturais, do processo formador da inflação”, conta o gestor de juros do ASA Hedge, Filippe Santa Fé.

Outro destaque foram as commodities negociadas no mercado internacional. No caso do petróleo, o Brent fechou o trimestre com ganhos acumulados de 34,62%, enquanto o WTI subiu 33,33% no período, recebendo impulso de temores sobre a escassez de oferta global da commodity, que foi ampliada pelas incertezas geradas pela invasão da Ucrânia no fim de fevereiro.

As empresas ligadas às commodities animaram os gestores do fundo long short Ibiuna L&S STLS FIC FIM, da Ibiuna Investimentos. Em primeiro lugar entre os 10 melhores desempenhos, o retorno do fundo no trimestre chegou a 6,83%. “A gente percebeu que as empresas estavam com valores (“valuation”) bastante atrativos e era um cenário construtivo para a maioria delas. Logicamente que não contávamos com uma guerra, mas antes disso víamos um cenário bem melhor, que chamava atenção”, diz André Lion, sócio e gestor da área de ações da Ibiuna.

Maiores altas

Entre as ações da carteira que mais contribuíram para o resultado agora estão a empresa de seguros BB Seguridade, que ganhou 28,05% no primeiro trimestre do ano; Petrobras, cuja ação subiu 14,79% (PETR3) e 17,57% (PETR4) nos três primeiros meses do ano; a Auren Energia, na contramão, recuando 25,8%; a empresa farmacêutica Hypera Pharma (37,87%); e a Locamerica (16,06%).

Em segundo lugar na lista de mais bem colocados no primeiro trimestre está o fundo long short BTG Absoluto LS, gerido pela BTG Pactual, com retorno de 4,97%. A estratégia do fundo é investir em três macrorregiões: Brasil, México e EUA. “Nos beneficiamos muito de uma visão que desenvolvemos na virada do ano em relação ao ciclo das commodities. Boa parte delas apresentava um balanço de oferta e demanda bem apertado e isso na nossa visão iria continuar. Não prevíamos a guerra, claro, mas a gente já esperava esses resultados”, explica o gestor de carteira da BTG Pactual Asset Management, Laercio Henrique Junior. O fundo tem posição exposta às commodities, principalmente em óleo, metais e celulose.

Riscos e perspectivas

A equipe de gestão do fundo SPX Raptor, cujo retorno foi de 25,25% no primeiro trimestre, acredita que a inflação global é o fator mais preocupante na gestão. A carta de março explica o comportamento de seu multimercado (que aparece em terceiro lugar no Top 10). Nela, citam os efeitos da pandemia da covid-19 e do conflito entre Rússia e Ucrânia. “Nós vemos uma intensificação da situação inflacionária global. Um ano atrás, não tínhamos nenhuma economia desenvolvida com inflação acima de 5%; em fevereiro desse ano, ainda antes do conflito, metade dessas economias já possuía taxas de inflação nesses patamares. Com as repercussões do conflito, nós já vemos leituras de inflação ainda mais altas”.

Nos Estados Unidos, o fundo tem posições mais defensivas em relação a ativos cíclicos. Assim como mantém exposição na Europa e China. Em relação à Bolsa brasileira, as posições de venda são em tecnologia e compradas no setor de transporte e consumo doméstico. Com relação às commodities, tem posições compradas em metais industriais, preciosos, energia e crédito de carbono.

Ano eleitoral preocupa

O ano eleitoral, por sua vez, tem preocupado menos os gestores. Pelo menos por enquanto. “Estamos dando pouco peso para a eleição brasileira em nosso portfólio. A maior convicção do fundo, expressa em sua alocação, ainda é com a assimetria das taxas de juros americanas”, afirma o gestor de juros da ASA Hedge.

Pensando de forma semelhante, o gestor da Chess Capital garante que ainda estão sendo avaliados os possíveis desdobramentos eleitorais. “Iremos adaptar a carteira de acordo, se julgarmos necessário”. Para Zuffo, o dólar pode cair mais nos próximos meses, em resposta à balança comercial forte, o que geraria uma conta corrente quase zerada para o Brasil. Apesar disso, ele é otimista quanto ao próximo trimestre de 2022. “Temos um panorama fiscal muito melhor que o esperado um tempo atrás, commodities nos valores máximos da década, certa estabilidade geopolítica e juro atrativo”, explica.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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