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Debêntures da Americanas podem ser as mais afetadas pela crise; o que o investidor deve fazer?
Com a crise da Americanas, as ações da empresa voltaram a despencar na bolsa de valores nesta segunda-feira (16). Ainda assim, há uma classe de investidores que pode registrar perdas ainda maiores que aquelas apresentadas pelo ticker AMER3 na bolsa. Trata-se dos donos de debêntures da Americanas.
Para a especialista em finanças pessoais e colunista da IF Mara Luquet, “embora o tombo das ações da Americanas (AMER3) tenha sido enorme, não está aí o principal problema, porque os fundos de investimento, salvo exceções, não tinham grade concentração das ações da Americanas em suas carteiras. Além disso, os papéis não têm peso muito grande sobre o Ibovespa”, disse Mara durante a live da IF desta segunda (16).
De acordo com Mara, “o problema maior está nas debêntures e o impacto deve acontecer principalmente nos fundos de renda fixa e multimercado porque muitos deles têm debêntures da Americanas em carteira”, completou.
O que são debêntures?
Debêntures são títulos de renda fixa, no qual os investidores viram credores da empresa que emitiu esses papéis.
Os debenturistas, portanto, emprestam dinheiro para a empresa, diferentemente dos acionistas, que, ao comprar ações, viram sócios da companhia.
Vale a pena negociar as debêntures da Americanas agora?
Ainda sem um rumo definido e sobre como a empresa vai pagar, já existe investidores se desfazendo das debêntures para tentar aplacar as perdas com os títulos.
“Porém, investidores mais propensos ao risco estão comprando esses títulos já imaginando uma recuperação da empresa no futuro e uma valorização desses títulos. Tem corretoras, inclusive, já oferecendo esses títulos”, acrescentou Mara.
Comprar ou vender as debêntures da Americanas neste momento vai depender o perfil de cada investidor, disse Mara.
Por que isso é importante até para quem não tem debêntures?
A crise da Americanas é uma oportunidade de aprender como funciona o mercado em momentos de crise de uma empresa que está entre as maiores do seu setor.
Além disso, torna-se uma oportunidade para quem não tem os ativos da empresa passar a adquiri-los se a constatação for de que a empresa pode se recuperar.
“Esses títulos estressados, que caíram muito de preço, podem ser, sim, uma boa oportunidade de compra, mas é preciso saber se é realmente possível fazer essa aposta, porque o investidor vai entrar num mercado altamente especulativo. Não dá para investir um dinheiro que você não possa perder de jeito nenhum”, alerta Mara.
Quem deseja manter ou comprar os títulos para ganhar em uma eventual alta depois da crise, precisa estar atento ao noticiário, porque a tendência é que a evolução do caso na Justiça faça com que o preço dos ativos oscile bastante, e perceber os movimentos é essencial para identificar o melhor momento de entrar e sair de um investimento.
O que acontece se a empresa não conseguir pagar as dívidas?
Em geral, o que acontece com debenturistas de empresas que se mostram incapazes de pagar é uma negociação com a companhia para tentar reaver ao menos parte do dinheiro investido.
“É formado um comitê credor para começar a negociação e a repactuação e uma série de compromissos”, explicou Mara. Essas negociações são feitas durante eventos e assembleias com os credores e os representantes da empresa.
Entre os credores, além dos debenturistas, estão os bancos, que também emprestam dinheiro à empresa por meio de outras operações e que entram na briga para reaver o investimento.
Alguns bancos já estão se movimentando para tentar evitar prejuízos com relação ao crédito disponibilizado à Americanas.
É o caso do BTG, que recorreu à Justiça para anular uma liminar que protege a empresa por 30 dias contra vencimento antecipado de dívidas. Nesse período, a empresa poderia negociar as dívidas com seus credores.
Porém, o BTG deseja manter o acordo pactuado inicialmente, o que, segundo a Americanas, poderia complicar não só os pagamentos ao banco em questão, mas a outros bancos e credores.
Qual o tamanho do risco das debêntures?
As debêntures são títulos de renda fixa como o CDB, por exemplo, com a diferença de que, no caso das debêntures, o crédito é feito a uma empresa não financeira, enquanto o CDB trata especificamente de crédito bancário.
Apresentados pelo mercado como oportunidade de lucro com baixo risco, os títulos de renda fixa possuem diferentes níveis de risco e, dentro dessa categoria, as debêntures estão entras as opções mais arriscas, como disse o economista e analista de investimentos, Rafael Panonko.
“Renda fixa não é só olhar para a taxa do título, muitas pessoas acabam cometendo esse erro, de ver apenas qual título rende mais. Além de prazo, é preciso ver a classificação de risco da empresa”, explicou Panonko em vídeo gravado exclusivamente para a IF.
O especialista diz que um dos riscos da renda fixa é a instituição que emitiu o título vir a falir. “Existe uma análise de crédito do emissor, normalmente, isso é feito por uma equipe de análise, tem os relatórios, e é uma leitura relativamente simples”, afirmou o especialista.
Equipes de análise não identificaram risco de crédito
Porém, as equipes de análise não identificaram o alto risco das debêntures da Americanas, como foi o caso do Nubank, que passou a receber reclamações dos investidores de seus fundos por não ter identificado o tamanho do risco da Americanas.
O fundo “Nu Reserva Imediata” tinha cerca de 1% de seu patrimônio alocada em duas debêntures da Americanas. Com a crise, a carteira, que antes entregava ganhos equivalentes a 109% do CDI, passou a apresentar um retorno médio de 37% do CDI nos últimos 30 dias, segundo informações dadas pelo próprio Nubank e publicada pelo G1.
Depois de ser cobrado nas redes, o banco disse que os ativos de renda fixa podem variar de valor conforme a marcação dos preços, que varia conforme notícias e eventos de mercado”.
O banco ainda destacou que recentemente o mercado teve uma “variação atípica que impactou o rendimento de alguns investimentos”, mas sem dar mais detalhes.
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