Brasil é um dos países onde as mulheres estão mais confiantes para investir

Mas há barreiras, como a renda e a percepção de que investir é arriscado
Pontos-chave:
  • Foram ouvidas 8 mil mulheres em 16 países
  • 46% das brasileiras se sentem confiantes para investir
  • No resto do mundo, elas representam apenas 28% em média

O Brasil é o segundo país onde as mulheres estão mais confiantes na hora de investir: 46% das brasileiras entrevistadas em um estudo global se sentem confiantes em aplicar parte do dinheiro. No resto do mundo, elas representam apenas 28% em média. O Brasil fica atrás apenas da Índia, onde 47% das indianas se sentem confiantes em investir, indicando que os mercados emergentes com mais jovens têm nível de confiança mais alto.

Os dados são de um levantamento encomendado pela gestora de investimentos do banco BNY Mellon, a BNY Mellon Investment Management, à empresa Coleman Parkes Research. Foram ouvidas 8 mil mulheres em 16 países, metade formada por investidoras e metade ainda não. A gestora tem US$ 2,4 trilhões em ativos sob gestão.

O nível de confiança delas muda bastante conforme o país. Imediatamente abaixo do Brasil, estão os Estados Unidos (41%), a China (32%) e o Reino Unido (27%) empatado com a Austrália (27%). Já os países com os mais baixos níveis de confiança, nesta ordem, são o Japão (15%), a Suíça (18%) empatada com a Itália (18%) e a França (20%).

Por que as brasileiras se sentem mais confiantes?

A confiança das brasileiras é apoiada por um bom nível de compreensão, de acordo com a pesquisa: 53% das mulheres ouvidas pelo estudo acham que têm uma boa compreensão de investimentos e 31% se sentem bem informadas sobre como investir.

Embora o nível de confiança entre as brasileiras seja alto em comparação aos demais países, existem três barreiras principais aos investimentos delas, segundo o estudo: os obstáculos de renda e a percepção de que investir é arriscado, além da falta de confiança entre a maioria.

Menos medo, mais dinheiro

Com menos barreiras, se as mulheres do Brasil investissem na mesma proporção que os homens, haveria pelo menos mais US$ 52 bilhões em ativos sob gestão de pessoas físicas hoje, conforme o levantamento. Globalmente, o valor adicional seria de US$ 3 trilhões.

A baixa renda e a percepção de que é necessário ter bastante dinheiro para investir afasta as brasileiras de criar esse hábito. As mulheres do Brasil acham que necessitam de US$ 1.396 (atualmente, o equivalente a R$ 7.438) de renda ao mês antes de investir qualquer parte dela, enquanto as mulheres globais acham que precisam de US$ 4 mil (atualmente, o equivalente a R$ 21.312). O valor é inatingível pela maioria.

Além disso, a percepção de que investir é arriscado atrapalha: 34% das brasileiras dizem que investir em ações é muito arriscado para elas, enquanto 45% das mulheres globais acham o mesmo. Apenas 8% das brasileiras afirmam ter um nível alto ou muito alto de tolerância ao risco, contra 9% das mulheres do mundo.

Investimento com causa

O estudo ainda mostrou que as mulheres brasileiras são mais propensas a investir em causas nas quais acreditam do que os homens. Se as mulheres do Brasil investissem na mesma proporção que os homens, haveria um fluxo de US$ 30 bilhões de capital adicional em investimentos com impactos positivos.

Conforme o levantamento, 44% das brasileiras começariam a investir ou investiriam mais se o impacto da aplicação estivesse alinhado com seus valores pessoais, ante 55% das mulheres globais. Além disso, 41% das mulheres do Brasil começariam a investir ou investiriam mais se o fundo de investimento tivesse um objetivo claro para o bem, contra 53% das mulheres no mundo.

Indústria voltada para os homens

O estudo também entrevistou 100 gestores de ativos globais, representando empresas com US$ 60 trilhões em ativos sob gestão, juntas. Quase nove em cada dez gestores (86%) admitem que os clientes padrões são homens. Quase três quartos dos gestores (73%) acreditam que a indústria de investimentos seria capaz de envolver mais mulheres para investir se o próprio mercado tivesse mais gestoras de fundos do gênero feminino. Contudo, apenas 10% ou menos de seus gestores de fundos ou analistas de investimentos são mulheres.

Assim, é hora de criar um mundo de investimentos mais inclusivo e é papel da indústria envolver melhor as mulheres, defende a BNY Mellon Investment Management. A própria gestora do banco afirma que vai rever a sua abordagem e avaliar como pode melhorar o envolvimento com as mulheres e trabalhar com a indústria em geral.

“Como mulheres, todas temos diferentes obstáculos a superar para atingir nossas metas financeiras individuais. Algumas delas são influenciadas por dados demográficos e circunstâncias pessoais, mas algumas são resultado de como o setor de investimentos tradicionalmente se envolve com as mulheres”, afirma Anne-Marie McConnon, diretora global de experiência do cliente da empresa. “As mulheres jovens também estão interessadas em investir, mas precisam ser inspiradas a fazer isso”, diz.

Com reportagem do Valor Investe