Mais de 1 milhão de mulheres estão na Bolsa. Quem são essas investidoras?

Nunca tantas mulheres negociaram na B3. Mesmo assim, elas ainda são minoria no mercado
Pontos-chave:
  • As mulheres que estão na Bolsa investem em BDRs, ações e fundos imobiliários
  • Apenas 4 em cada 10 mulheres se sentem confiantes quando o assunto é investimento

Fernanda Grillo, de 27 anos, sempre ouvia seu pai falar sobre a Bolsa de Valores. Durante muito tempo, a jornalista não se interessou pelo tema e achava difícil o “economiquês” do mercado financeiro. Até que em 2019 decidiu estudar sobre o assunto e investir uma parte do patrimônio na Bolsa brasileira. Ela já tinha investimentos em renda fixa quando se aventurou pela primeira vez em um home broker. Na época, Fernanda era uma das 388 mil mulheres que investiam na B3

O número deu um salto e hoje mais de 1,1 milhão de mulheres estão na Bolsa. O montante é o maior da série histórica. Segundo a B3, existem mais de 4 milhões de investidores físicos na Bolsa – as mulheres, portanto, representam 27% do total. “O crescimento é fruto de um trabalho de educação financeira, mudanças de mentalidade e conscientização desse público”, explica Luciana Ikedo, assessora de investimentos e sócia da RV4 Investimentos.

Há 15 anos no mercado financeiro, ela acompanha essa mudança de perto. “Estamos passando por um processo de transformações de ideologias culturais e históricas. Até a década de 1960, as mulheres não tinham controle do próprio dinheiro. Essa evolução vem acontecendo aos poucos, e é importante que a gente fale sobre isso, mude a realidade e consiga trazer a mulher como protagonista da sua vida financeira”, ressalta.

Fonte: B3

Quem são essas mulheres?

De acordo com a B3, as mulheres que estão na Bolsa diversificam seus portfólios e investem em BDRs, ações e fundos imobiliários. A média do primeiro valor investido por elas é maior que a média dos homens. Enquanto eles investem cerca de R$ 303, elas investem R$ 418. “São mulheres que estudam, se dedicam a assumir o controle do próprio dinheiro e querem ter independência”, diz a assessora de investimentos Luciana Ikedo .

Fernanda decidiu entrar na Bolsa justamente para quebrar uma barreira e fazer o dinheiro trabalhar para ela. Antes disso, estudou muito. “Mexer com dinheiro sempre me deu medo, já que não temos uma cultura de conversar sobre finanças em casa. Colocar parte do meu patrimônio em uma aplicação que eu não conhecia me assustava. Então fui atrás de conteúdo”, conta. Ela não pagou nada para aprender sobre os investimentos em renda variável. Consumiu vídeos do YouTube, cursos online gratuitos e dicas de outras pessoas que já passaram pelo mesmo.

Hoje, além dos investimentos em Tesouro Direto e fundos de renda fixa, ela investe em ações e em criptomoedas. “Como fui atrás de muita informação, quando coloquei a mão na massa já estava preparada. Hoje domino alguns conceitos básicos e acho que o mais difícil é me manter atualizada e saber o momento certo de fazer um resgate, vender ou comprar”, conta.

Já a empreendedora Karla Morais, de 43 anos, teve seu primeiro contato com a Bolsa há cinco anos. Karla é formada em direito e é CEO da startup Koy. Decidiu investir em ações por influência de familiares que já tinham contato com os ativos. Além disso, queria ver o dinheiro render mais.

“Até pouco tempo, quando falávamos em investimento e rendimento, logo pensávamos na poupança. E isso tem mudado muito. Tem outras opções no mercado, e pensando nisso decidi investir na Bolsa com ajuda de um profissional especializado”, conta. Hoje Karla tem uma carteira de investimentos diversificada. No início, ela tinha receio e achava a Bolsa de Valores misteriosa. A empreendedora acredita que esse é o sentimento de muitas pessoas. No caso das mulheres, elas também acabam se intimidando pelo cenário majoritariamente masculino.

“Investir nos traz independência financeira. Não ter medo, se informar e ter o apoio de pessoas capacitadas faz toda a diferença nessa jornada.”

KARLA MORAIS, CEO DA STARTUP KOY E INVESTIDORA NA BOLSA

O caminho ainda é longo

Por mais que o crescimento das mulheres na Bolsa seja expressivo, elas ainda são minoria e há um caminho a ser percorrido. Aspectos sociais e culturais impedem que o número deslanche. “As mulheres têm uma renda menor, mesmo ocupando as mesmas posições que homens, e têm menos tempo para se dedicar aos investimentos. É uma mudança que ainda acontece de forma tímida. Muitas se sentem inseguras tendo o mesmo ou até mais conhecimento que os homens”, ressalta Luciana.

O estudo Women and Investing, feito pela empresa de investimentos americana Fidelity, mostrou que mulheres têm um retorno maior que os homens em suas aplicações. A companhia analisou 5,2 milhões de portfólios entre janeiro de 2011 e dezembro de 2020 e constatou que a carteira das mulheres teve um rendimento, em média, de 0,4 ponto porcentual ao ano superior ao dos homens. Pode parecer pouco, mas é alguma coisa.

O levantamento indicou que mulheres costumam fazer menos movimentações e são mais cautelosas na hora de investir. Por outro lado, o mesmo relatório trouxe dados sobre a falta de confiança das mulheres quando o assunto é investimentos. Apenas 4 em cada 10 delas disseram estar confortáveis com seu conhecimento sobre o tema.

Enquanto o mercado ainda evolui, a B3 traz dados interessantes. A faixa etária entre 36 e 45 anos concentra a maior diferença na participação masculina e feminina – são 813 mil homens e 289 mil mulheres. Por outro lado, esse número é menor à medida em que a idade também diminui. Dos 16 aos 25 anos, são 374 mil homens e 119 mil mulheres, enquanto entre os mais novos na Bolsa, até 15 anos, a diferença é ainda menor: 12 mil homens e 9 mil mulheres. “Estamos vendo uma nova geração diferente, com mais equidade de gênero e meninas sendo inseridas no mercado financeiro. Sem dúvidas isso nos traz boas perspectivas para o futuro”, ressalta Luciana.