Corte maior da taxa Selic prevaleceu no último Copom dividido

Agora, a posição majoritária do mercado financeiro é de uma queda menor dos juros

Quando abriu o ciclo de cortes da taxa Selic, lá em agosto de 2023, o Copom estava dividido. Agora, na reunião de maio de 2024, a expectativa é de um novo dissenso na decisão do comitê de política monetária do Banco Central.

Antes de tudo, vale destacar que naquela ocasião prevaleceu a posição pela queda maior da Selic. Então, como irá votar a maioria desta vez?

Pelo levantamento da Inteligência Financeira, a aposta majoritária é de que o Copom deve baixar a taxa em apenas 0,25 ponto percentual, para 10,50%.

Mesmo assim, não será surpresa se o colegiado afrouxar os juros em mais 0,50 ponto percentual, para 10,25%.

Aumento de incertezas

Nesse sentido, desde que a Selic começou a cair neste atual ciclo de relaxamento, todas as reuniões do Copom tiveram decisões unânimes.

Ou seja, os integrantes do comitê concordaram que o ritmo era de cortes de 0,50 ponto percentual.

Porém, o cenário mudou desde o encontro de março.

Aliás, lá mesmo o colegiado indicou que passaria a ser mais cauteloso e dependente da evolução dos dados, antevendo um ajuste de rota.

Basicamente, conforme a XP Investimentos, o fluxo de notícias desde a última reunião do Copom foi mais preocupante para as perspectivas de inflação.

A plataforma de investimentos lembra que, em suas recentes declarações públicas, Roberto Campos Neto (presidente do BC), levantou discussão sobre de onde virá a desinflação adicional necessária para levar o IPCA à meta de 3%.

“É difícil encontrar a resposta avaliando os determinantes habituais da inflação: a demanda interna segue aquecida e a postura futura da política fiscal é incerta.”

“A taxa de câmbio enfraqueceu; e os preços internacionais das commodities subiram, assim como as expectativas de inflação de médio prazo.”

Sem unanimidade

Logo, ressalta a casa, é razoável esperar uma postura mais prevenida por parte do Copom. Em outras palavras, que o comitê reduza o ritmo da flexibilização monetária nesta semana, de 0,50 p.p. para 0,25 p.p..

“Entretanto, acreditamos que a decisão pode ter dissenso. O diretor Gabriel Galípolo, por exemplo, disse recentemente que as decisões não devem ser pautadas pela volatilidade de curto prazo (‘nem sempre a gente deveria se emocionar muito com essas flutuações de curto prazo’).”

“Acreditamos que ele – e outros membros – poderão optar por seguir o guidance fornecido em março e votar por um corte adicional de 0,50 p.p., principalmente porque o nível atual da Selic ainda é percebido por muitos como consideravelmente acima do neutro.”

Adicionalmente, a XP observa que, além disso, a inflação corrente está bem comportada e a taxa de câmbio recuou dos patamares estressados vistos nas últimas semanas.

“Em relação aos próximos passos do Copom, não esperamos qualquer sinalização explícita para o ritmo de corte e/ou para a taxa Selic terminal. A incerteza elevada não é compatível com um compromisso forte.”

“No entanto, esperamos uma sinalização de que o Comitê considera, por unanimidade, a necessidade de manter a política monetária restritiva, com o intuito de trazer a inflação à trajetória da meta.”

Reduzindo o ritmo

Para esta reunião do Copom, o Itaú Unibanco também considera que a discussão conta com um pano de fundo de incerteza mais elevada, que inspira cautela.

Do lado do contexto externo, o banco cita o adiamento e redução dos orçamentos de cortes de juros em economias desenvolvidas, ainda que com um noticiário ligeiramente mais benigno na margem.

Já na cena externa, a instituição destaca convergência da dinâmica das contas públicas que ficou mais tardia e mais incerta.

“A evolução dos dados também sugere a necessidade de uma postura mais cautelosa. Apesar de divulgações de inflação mais benignas na margem (com surpresas baixistas nos últimos IPCA e IPCA-15), as medidas de serviços subjacentes continuam elevadas.”

“Além disso, dados de desemprego e salários seguem indicando um mercado de trabalho apertado. A taxa de câmbio depreciou em relação à última reunião, com piora nos fundamentos fiscais doméstico e possibilidade de adiamento dos cortes de juros nos Estados Unidos.”

Por isso, com base nessas condições, o Itaú aposta que o comitê optará por uma redução do ritmo de corte de juros, para 0,25 ponto percentual, levando a taxa Selic para 10,50%.

“Tal escolha difere da sinalização utilizada na última reunião, que era consistente com mais uma redução de 50 p.p., mas não será de todo surpreendente, à luz das comunicações mais recentes de membros do comitê, e da magnitude das mudanças ocorridas desde então.”

“Para as próximas reuniões, esperamos que o Copom mantenha uma sinalização de dependência dos dados, reforçando que o aumento da incerteza requer cautela na condução da política monetária.”