O que fazer com os investimentos com a Selic em 13,75% ao ano pela quinta vez?
Renda fixa pós-fixada continua sendo a melhor pedida, até para os mais arrojados
Quando os juros estão subindo, é fácil saber o que fazer com seu dinheiro. A recomendação dos especialistas é que o investidor fique em investimentos de renda fixa pós-fixado, para acompanhar a curva para cima.
Mas e quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central mantém, pela quinta vez, a Selic no mesmo patamar, de 13,75% ao ano? O que fazer?
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Neste caso, os investidores devem buscar todas as pistas para entender se o ciclo está em um ponto de inflexão para uma descida ou se seguirá em alta. O consenso é de que, por ora, a taxas devem se manter nos dois dígitos por um bom tempo, mas não devem subir ainda mais (será?).
Onde investir?
Se realmente tivermos chegado ao topo da faixa de juros, os investimentos prefixados começam a ficar mais interessantes. Isso porque a partir deste ponto, o próximo movimento, embora demore para acontecer, deve ser de descida.
Assim, seria estratégico travar as aplicações em uma taxa atrativa antes que ela comece a cair.
O que o BC deve fazer daqui para frente?
Para Fernando Siqueira, chefe da área de análise da Guide Investimentos, com toda a pressão dos calotes e restruturação de empresas, o Banco Central deve pegar mais leve nas taxas.
Para ele, o momento é de olhar para prefixados de curto prazo.
“O ciclo de juros no Brasil normalmente demora de três a quatro anos para se completar. Por isso, se o vencimento for dentro deste prazo, o investidor poderá reinvestir o dinheiro novamente em taxas altas. Se for curtíssimo prazo, ele terá de fazer o reinvestimentos a taxas mais baixas”, afirma.
Se de um lado, a crise de crédito que vem prejudicando os bancos no exterior, e dificultando a vida das empresas aqui, pressiona as autoridades monetárias a maneirar nos juros, de outro, a inflação que persiste faz a balança pender para o outro lado.
Embora o índice de preços esteja mais controlado no Brasil, ele ainda segue acima da meta de 3% ao ano. A previsão é de que chegue a 5,95% até o final deste ano.
Por que escolher títulos indexados à inflação?
Para Ricardo Aragon, sócio-fundador da Matriz Capital, os títulos indexados pelo IPCA estão bastante interessantes no momento e oferecerem uma espécie de dupla proteção.
“Essas aplicações são as mais interessantes no momento agora. Mesmo que haja um viés de alta de juros, o IPCA deve valorizar mais, porque os juros altos vêm para justamente frear a inflação acima da meta. Por outro lado, se houver um corte de juros, o investidor vai ter, na mão, um título valorizado pela marcação a mercado. O Tesouro IPCA do tesouro 2045+ bateu coma mais 6,5%, no carrego. Ou seja, alta rentabilidade”, argumenta.
O especialista de portfólio da Santander Asset, Clayton Calixto, pontua que os títulos tiveram queda no retorno recente, com a alta das taxas de juros até o patamar atual. Mas ainda assim são uma ótima forma de manter os ganhos reais, sem perder poder de compra.
O que deve acontecer com a inflação?
Sim, é monótono. Mas investimentos que simplesmente acompanham a taxa básica de juros ainda são a pedida do momento. Isso porque a Selic (e portanto, o CDI) está bastante atrativa e, por este motivo, não vale tanto a pena se aventurar no risco.
Os gestores e analistas destacam ainda que a inflação continua pressionando, o que inviabiliza que o Banco Central faça cortes significativos na Selic no curto prazo.
Por isso, diante uma perspectiva de manutenção da taxa alta ou de um eventual aumento no caso de descontrole da inflação, o ideal é manter uma parte do patrimônio atrelado à Selic.
Por que escolher investimentos atrelados ao CDI?
“Neste ano, o acumulado do índice prefixado da Anbima (IFRM) supera o CDI.
Mas o CDI continua imbatível. Num período de 12 meses, ele passa todos os indicadores da Anbima.
A manutenção dos investimentos atrelados ao CDI vale a pena a uma taxa elevada. Não vale a pena o investidor partir para algo de maior risco”, afirma Calixto, do Santander. O especialista aconselha buscar, além do tradicional Tesouro Selic, partir para fundos DI.
Acumulado IFRM X CDI em 2023:
- IFRM: 3,14%
- CDI: 2,73%
Ainda falando de renda fixa, o crédito privado ainda está num momento de baixa, por causa da ressaca causa pela crise das Americanas e Light. Com receio de calote, os investidores tem debandado desses papéis.
“Era um investimento que vinha se mostrando bom nos últimos dois anos, muito atrativo. As turbulências do curto prazo ainda afetam o humor do investidor. Precisa olhar mais no detalhe quais as companhias compõem o fundo. Precisa de um apetite maior”, diz Calixto, do Santander.
Por que evitar a renda variável?
Com algumas exceções, que precisam ser muito bem analisadas, o cenário ainda é desfavorável para investir em ações.
Diante de risco fiscal, ainda indefinido sem o novo arcabouço, pressões inflacionárias, juros correndo as margens das empresas e recessão global ainda no radar, a aversão ao risco reina.
“O mercado de ações vai ser algo para depois. Ainda estamos considerando que vai demorar um pouco mais para voltar. Olhamos nomes mais defensivos que podem se beneficiar com juros caindo. Commodities está numa situação difícil. O setor de shopping tende a se beneficiar. Gostamos de Multiplan, Totvs e Weg é sensível a juros. O Assaí, apesar de uma dívida mais alta, é um negocio defensivo”, afirma Siqueira, da Guide.
A recomendação para quem tem apetite a risco e deseja se expor à bolsa seria ficar em ações boas pagadoras de dividendos, como aquelas do setor de distribuição de energia. Mas evitar os bancos, por enquanto. A menos que o apetite a risco seja realmente alto e o investidor veja uma oportunidade para melhor do setor no médio e longo prazo.
Existe um fato relevante importante, que é a crise bancária causada pelos juros altos. Na bolsa, o setor bancário vem caindo muito. “Os calotes acabam afetando os bancos, porque emprestam para essas empresas e colocam títulos em fundos”, diz Aragon, da Matriz Capital.
Dólar
Tanto o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, como o Banco Central Europeu (BCE) seguiram com o plano de aumentar as taxas básicas de juros para conter a inflação, apesar da crise bancária vista nos casos do Credit Suisse e do Silicon Valley Bank (SVB).
Justamente por causa da dificuldades das instituições financeiras, as autoridades podem encurtar o período de aumento das taxas, pesar um pouco mais leve.
Isso significaria que a janela de juros fartos da renda fixa internacional pode se fechar em breve. Por isso, o momento é propício para diversificar na renda fixa em dólar.
“A renda fixa está dando uma excelente oportunidade. Indexador global é prefixado. Os EUA estão chegando no teto do patamar de juros. Além de ganhar com as taxas do prefixado, ganha com a dolarização também”, afirma Aragon.
Na medida em que o ciclo de juros no Brasil fica estabilizado, com tendência de queda à vista ou simplesmente pare de subir enquanto os juros lá fora estão historicamente altos, o país perde um pouco de atratividade para o estrangeiro. Dessa forma, o fluxo de dólar tende a cair, o que faz com que a moeda se valorize ante o real.
Dessa forma, a exposição cambial na renda fixa pode ser uma oportunidade de se proteger do risco Brasil e da perda de valor da nossa moeda.
“Hoje já temos um fundo para varejo que opera no mercado de juros lá fora. O Santander renda Fixa Global tem aportes a partir de R$ 100”, diz Calixto.