Primeira reunião do novo Copom terá missão de não frustrar mercado e evitar rusga com Lula
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) facilitou a vida dos analistas na reunião de dezembro. No apagar das luzes da gestão de Roberto Campos Neto, foram demarcadas altas de 1 ponto percentual em cada uma das duas próximas reuniões. Assim, a previsão da Selic para a próxima reunião é de 13,25%, chegando a 14,25% em março. O valor da taxa Selic hoje é de 12,25% ao ano.
Nesse sentido, as atenções para a reunião da próxima semana, que termina na quarta-feira (29), estarão voltadas para as sinalizações relacionadas às decisões seguintes. O novo presidente, Gabriel Galípolo, terá como missão encontrar a sintonia fina entre atender as expectativas do mercado, que prevê Selic de pelo menos 15%, sem ter contra si críticas do governo Lula, responsável pela indicação do novo mandatário do BC.
Vale lembrar que Campo Neto esteve na alça de mira de Lula e parte do governo por conta de sua política restritiva e proximidade com o governo anterior, de Jair Bolsonaro, que o indicou. Por outro lado, Galípolo foi secretário-executivo de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda antes de ser alçado à diretoria do BC.
JPMorgan: tom do Copom precisa ser ‘suficientemente agressivo’
O JPMorgan espera que o comunicado do Copom, a ser divulgado na próxima quarta-feira (29), seja “suficientemente agressivo para indicar que a porta está aberta para continuar a aumentar as taxas no segundo trimestre.”
O banco tem visão pessimista quanto ao cenário macroeconômico. Nesse sentido, diz que “a balança está mais inclinada para a necessidade de uma política monetária mais agressiva do que a perspectiva atual pressupõe”.
Selic perto de 15% permite ao Copom ‘esperar um pouco’
Com a taxa em 15%, segundo a última projeção do Focus, ou um pouco acima disso, o Banco Central “poderia optar por esperar um pouco mais para ver o impacto”, diz o JPMorgan, que prevê sinais dessa política restritiva aparecendo de maneira mais flagrante em junho, quando o BC deve interromper o ciclo de alta.
A taxa necessária para fazer com que a inflação chegue ao centro da meta de 3% no horizonte relevante é de 17,5% nas projeções de José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos. Contudo, ele diz que não vê o BC chegando a esse patamar.
“Achamos que, na verdade, o Banco Central vai se contentar com uma taxa de inflação mais elevada, acima da meta, para poder manter a taxa de juros em um nível mais baixo do que o necessário para levar a inflação para a meta”, avalia o economista.
Cuidados com uma política excessivamente restritiva
Nesse sentido, o JPMorgan crê que os juros cheguem a 15,25%. O mesmo patamar indicado pelo BTG Pactual e acima da média do mercado.
Contudo, os bancos avaliam que uma politica mais restritiva do que essa prevista teria efeitos deletérios.
“O nível de restrição monetária e esta desaceleração prevista para o crescimento do PIB são os dois principais fatores que nos impede de esperar uma taxa terminal ainda superior a 15,25%”, diz o JP.
Além disso, elevações da taxa acima do guidance dado pelo BC em dezembro colocaria a nova direção em rota de colisão com o governo, que indicou o novo presidente e membros mais novos da diretoria.
Para chegar a esse patamar, o BTG prevê duas altas adicionais de 50pb nas reuniões de maio
e junho.
Mas há ainda quem acredite que o ciclo de alta não para por aí. Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo, destaca os dados prévios de inflação de janeiro, divulgados nesta sexta-feira, que vieram acima do esperado.
Assim, “vamos estudar se (a inflação) aumenta esse ciclo (de alta de juros). Provavelmente, vai ter que aumentar pelo menos 50 pontos”, avalia. Nesse sentido, a Selic iria para perto de 16% no segundo semestre.
Correção do guidance para baixo é possível?
Por outro lado, os agentes do mercado não consideram uma mudança no guidance para patamares menores que os indicados. Principalmente depois das falas do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo. Ele afirmou que a “barra é alta para fazer qualquer tipo de mudança no guidance”. A mensagem foi reiterada recentemente pelo diretor Diogo Guillen.
Nesse sentido, uma elevação abaixo da contratada poderia causar mal-estar no mercado. E esse incomodo estaria relacionado à capacidade de o novo BC perseguir a meta de inflação. A percepção é de Cláudia Moreno, economista do C6 Bank.
“No horizonte relevante (18 meses para frente), o BC segue projetando inflação acima do centro da meta, de 3%. Ou seja, não há motivo para o banco achar que deve subir menos de 15%”, avalia a economista.
Trump pode entrar na pauta do Copom
Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, espera que o Banco Central aprofunde sua análise sobre os riscos inflacionários no comunicado, condições de crédito e o cenário fiscal.
Além disso, prevê que o comitê “compartilhe a sua visão sobre a posse de Donald Trump”. Assim, ela espera “que sejam considerados os potenciais impactos desse contexto no balanço de riscos”.
Novas altas da Selic em maio e junho
O BC deve seguir subindo juros nas próximas reuniões do Copom em maio e junho. Assim, deve haver elevação adicional de 0,50 p.p. em maio. Contudo, há uma dúvida para junho, se a alta desacelerará para 0,25 p.p., para 15%, ou se manterá o passo até os 15,25%, como projetam JP e BTG.
“Contemplando o impacto da piora nas condições financeiras, os indicadores de atividade econômica já sinalizam alguma perda de tração no último trimestre de 2024, o que tende a estreitar o hiato positivo do produto”. A avaliação é de Everton Gonçalves, diretor de Economia, Regulação e Produtos da ABBC (Associação Brasileira de Bancos).
Com relação aos tons dos comunicados que se seguirão, Gonçalves diz que o BC deve buscar já preparar o mercado para a recalibragem da política monetária para o segundo semestre. “Seria uma forma de reduzir os prêmios de risco dos ativos locais e mitigar os impactos (dos juros altos) na atividade econômica”, sinaliza.
Leia a seguir