Afinal, quando a Selic vai cair? Sete economistas analisam os recados do Copom

Aprovação do novo arcabouço fiscal e expectativas de inflação influenciam as decisões do Banco Central, mas há poucas pistas

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter os juros em 13,75% ao ano pela sexta vez consecutiva. O atual patamar é o mais alto desde novembro de 2016, quando a taxa estava em 14% ao ano.

O Banco Central voltou a falar em “paciência e serenidade” na condução da política monetária, mesma expressão que usou no comunicado da decisão de março. Mas quando deve começar a cortar os juros?

Sete economistas ouvidos pelo GLOBO identificam tom mais ameno em relação aos comunicados passados do Banco Central, com sinalização positiva em relação ao novo arcabouço fiscal proposto pelo Ministério da Fazenda.

Corte nos juros, contudo, não está sinalizado. Confira a visão deles a seguir:

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating

“O Banco Central não sinalizou de nenhuma forma corte, mas tem possibilidade de redução na próxima reunião, que ocorrerá dia 21 de junho. A nossa expectativa é que a próxima decisão será pautada por uma atividade econômica em ritmo mais lento, a convergência da inflação prospectiva para o centro da meta em ritmo mais adequado, além de menores ruídos da política fiscal doméstica e do cenário internacional. Dessa forma, a Austin Rating projeta que o colegiado votará pela redução da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, estabelecendo o novo valor em 13,25% ao ano.”

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter

“No comunicado, o Copom também manteve o tom de cautela da decisão passada, ressaltando a preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação, principalmente as mais longas, e o custo maior no processo de desinflação nesse cenário. A expectativa do BC ainda é de manter a taxa mais restritiva por um período prolongado, até a consolidação da desinflação e ancoragem das expectativas. Um dos destaques no comunicado foi a mudança nas premissas do BC com melhora no câmbio, queda do petróleo e bandeira verde e, ainda assim, sem impacto nas projeções do IPCA, mantidas em 5,8% em 3,6% para 2023 e 2024.”

Marcelo Fonseca, economista-chefe do Opportunity Total

“O Copom confirmou as expectativas de que não há condições para redução da taxa de juros no horizonte próximo, enfatizando a necessidade de “paciência e serenidade” com a condução da política monetária. Outro ponto relevante é o fato do Copom ter reconhecido a redução das incertezas com a apresentação do novo arcabouço fiscal, mas que não há relação mecânica entre a convergência da inflação e a aprovação do arcabouço. Ou seja, o Copom deixa claro ser necessário que as expectativas de inflação sejam positivamente impactadas pelo novo arcabouço para que este tenha um impacto na definição da Selic.”

Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital

“Ainda é um comunicado duro, seguindo a tradição das últimas reuniões. O balanço, no entanto, é que houve uma mudança tímida no Comunicado, que começa a deixar a porta um pouco aberta para um movimento de queda de juros. O BC mantém aquele trecho o Copom não hesita em tomar o ciclo de ajustes caso o processo de desinflação não transcorra como esperado. Porém, é ressaltado que esse é uma cenário menos provável. Ou seja, subir juros é menos provável.”

André Perfeito, economista

“A leitura do comunicado sugere que o colegiado não deve cortar os juros na reunião de junho, mas apenas no segundo semestre. Alguns pontos chamaram a atenção como a perspectiva que a aprovação do arcabouço fiscal não gera automaticamente corte de juros, o que no mais é óbvio, mas contrasta com elogios iniciais à proposta do Ministério da Fazenda.”

Vitor Martello, economista-chefe da Parcitas Investimentos

“Entendo que formaliza uma confiança no Ministério da Fazenda (em relação ao fiscal). Por outro lado, o BC não está otimista com o processo de desinflação. Há resiliência na atividade e um grau de desancoragem elevado das expectativas de inflação. A sinalização é que não pretendem subir e reduzir os juros tão cedo.”

Werther Vervloet, economista da Ace Capital

“No comunicado, ao mesmo tempo que o Copom segue indicando preocupação com a inflação corrente ainda elevada, expectativas desancoradas e incertezas com o desenho final do arcabouço fiscal, é possível perceber que houve mudança de tom, ainda que marginal, no sentido de indicar que está havendo evolução em relação a esses temas.”

Por Renan Monteiro

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