Trump x China: como o Brasil pode ser impactado pela disputa entre EUA e os chineses
Durante a posse, Donald Trump disse que o período de declínio dos Estados Unidos acabou. Então, o novo presidente anunciou a saída de órgãos internacionais e sanções econômicas. Assim, se for mesmo deflagrada uma guerra comercial Trump x China, ela pode afetar a economia brasileira.
Nesse sentido, as possíveis sanções impostas por Trump à China incluem a ameaça de tarifas de até 60% sobre produtos daquele país. Assim, o crescimento econômico chinês pode desacelerar ainda mais. Com impactos sobre itens produzidos no Brasil. A percepção é de Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
“Essa desaceleração pode impactar as exportações brasileiras de minério de ferro, proteína animal e grãos para a Ásia”, diz o analista.
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, também avalia potencial desaceleração do crescimento econômico chinês com eventuais sanções.
Isso significaria um cenário oposto ao que o presidente Lula encontrou durante seus dois primeiros governos, com o mundo vivendo o boom das commodities, puxado pelo consumo chinês em ebulição e taxas de crescimentos em torno de 10% ao ano. Atualmente, a China cresce 5%.
“A China é o principal destino das exportações brasileiras de minério de ferro, proteína animal e grãos, setores que estão diretamente ligados ao desempenho da economia chinesa”. O destaque é de Monteiro.
“Caso a demanda interna da China seja enfraquecida por conta de uma desaceleração econômica, isso pode reduzir o apetite do país por commodities brasileiras, pressionando os preços internacionais e impactando diretamente nossa balança comercial”, acrescenta o executivo.
Outro lado
Por outro lado, Monteiro diz que pode haver pontos positivos para o País. “O Brasil também pode se beneficiar, já que a China pode buscar fornecedores alternativos para produtos como soja, milho e proteínas animais, setores que o Brasil é competitivo”.
André Matos, CEO da MA7 Negócios, também enxerga pontos positivos nesse cenário de acirramento das tensões entre China e Estados Unidos. Mas pondera que “o Brasil precisa estar preparado para agir com rapidez e estratégia” se quiser ocupar flancos deixados pelo atrito entre as economias gigantes.
A ideia é “aproveitar eventuais brechas no mercado global enquanto trabalha para diversificar sua base de parceiros comerciais, reduzindo a dependência de grandes economias como a chinesa”, avalia Matos.
Dependência dos Estados Unidos da China
Trump disse, em comentário sobre o Brasil, que o País e o mundo dependem dos Estados Unidos. É verdade. Mas a maior economia não resolve seus problemas sozinha.
“Existe uma relação de interdependência entre Estados Unidos e China, que é bem difícil de ser superada”. A análise é de Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital.
Por um lado, a China tem tentado fomentar o seu mercado interno para consumir mais os produtos que ela produz.
Por outro lado, os Estados Unidos têm fomentado e investido bastante para depender menos das importações chinesas.
Contudo, nenhuma das duas iniciativas têm alcançado o êxito esperado pelas nações envolvidas.
Moderação no embate Trump x China?
Por isso, pode haver alguma moderação de Trump com relação ao tema. “Um movimento de tarifa para a China certamente aumentaria a inflação nos Estados Unidos, e inflação e juros são elementos pouco populares”, diz Vasconcellos.
Em qualquer cenário, Vasconcellos avalia que o Brasil precisa “aumentar o número de parceiros comerciais” e encontrar “outros motores para a economia”.
“Por exemplo, a Índia está crescendo bastante e não tem sido muito citada em tarifas. Se eventualmente houver uma migração de produção da China para a Índia, talvez este país consiga absorver parte dessa demanda”, avalia.
Além disso, ele menciona a importância do acordo entre União Europeia e Mercosul, que por enquanto está travado.
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