Trump pode manter sanções de Biden contra o petróleo da Rússia
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deu um golpe significativo contra o petróleo russo duas semanas antes de deixar o cargo. A questão agora é se o presidente eleito Donald Trump manterá a decisão de manter sanções maiores contras exportações de petróleo da Rússia.
Nesse sentido, os mercados estão especulando que Trump pode realmente manter as medidas de Biden.
O preço do petróleo Brent subiu 5% desde que os EUA anunciaram as últimas sanções contra a Rússia em 10 de janeiro.
“Essas são as sanções mais significativas que vimos” desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, diz Edward Fishman, ex-oficial de sanções dos EUA e agora membro do Centro de Políticas Globais de Energia da Universidade de Columbia.
O novo pacote impõe “sanções a cerca de metade da “frota secreta” de petroleiros que Moscou reuniu para contornar o limite de preço de US$ 60 por barril.
Esse teto foi imposto no início de 2023 por países das sete principais economias ricas (G7).
As medidas americanas também miram a terceira e quarta maiores petrolíferas russas, Surgutneftegas e Gazprom Neft, além de suas duas principais seguradoras.
Qualquer cliente dessas entidades seria excluído de transações financeiras em dólar. Atualmente, o Brent é negociado a cerca de US$ 81 por barril.
Aplicada à risca, a decisão de Biden abrange mais de 40% das exportações marítimas de petróleo da Rússia, segundo Matt Wright, analista de transporte marítimo da consultoria logística Kpler.
Isso significa cerca de dois milhões de barris por dia, ou 2% do fornecimento global.
China e Índia estão acatando sanções dos EUA contra Rússia
Os principais clientes da frota secreta, Índia e China, estão sinalizando que irão acatar a ameaça dos EUA.
O Shandong Port Group da China, um dos principais portos para importações de petróleo, anunciou que proibirá qualquer embarcação sancionada.
“Fiquei surpreso ao ver o anúncio de Shandong”, diz Wright. “É significativo.”
Trump poderia anular a ação de Biden pelo mesmo motivo pelo qual Biden nunca a tomou antes: manter os preços da gasolina baixos.
Mas o novo presidente também tem razões para não fazer isso.
Trump poderia usar as sanções de Biden como moeda de troca contra o presidente Vladimir Putin antes de negociações para acabar com a guerra na Ucrânia.
O indicado de Trump para secretário do Tesouro, Scott Bessent, declarou na audiência de confirmação no Senado que está “100% a favor de elevar as sanções a níveis que levem a Federação Russa à mesa de negociações”.
Mas a eficácia das medidas depende de quão entusiasticamente elas são aplicadas, disse Craig Kennedy, do Centro Davis de Estudos Russos de Harvard.
“O que conta são as conversas diplomáticas discretas sobre se isso está em conformidade ou não”, diz acrescentou ele.
Sanções podem beneficiar Arábia Saudita
A inflação nos EUA caiu e a produção doméstica de petróleo aumentou em cerca de dois milhões de barris por dia desde 2022, acrescenta Joseph Webster, membro sênior do Atlantic Council.
Trump pode ver as restrições à Rússia como estímulo para os produtores dos EUA, ou como um presente para seu tradicional aliado, a Arábia Saudita.
O novo governo pode tentar retomar o acordo de normalização de relações entre o governo saudita e Israel.
Assim, a ação no mercado de petróleo pode ajudar no movimento.
Os sauditas têm cerca de três milhões de barris por dia de capacidade ociosa para produção de petróleo, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).
“Trump tem incentivos para tirar parte do petróleo russo do mercado, para que a Arábia Saudita adicione algumas centenas de milhares de barris”, disse Webster.
O presidente eleito provavelmente adotará um curso moderado e manterá suas opções abertas, concorda Bob Yawger, estrategista de futuros de energia da Mizuho Americas.
Mas “ele não precisa seguir a decisão de Biden agressivamente”, diz ele.
Os evasores das sanções russas continuam inovadores, acrescenta, transferindo petróleo da frota secreta para embarcações “legítimas” no meio do oceano, entre outras táticas.
Ainda assim, o risco extra e os transtornos causados pelas novas sanções devem, pelo menos, ampliar os descontos que a Rússia tem que aceitar para vender seu petróleo, de US$ 6 para US$ 10 por barril, prevê Yawger.
Assim, com o orçamento militar de Putin (oficialmente) programado para aumentar 25% este ano, essa redução na receita pode ser prejudicial.
Com informações do jornal Valor Econômico
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