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Análise: Reedição do Lula ‘paz e amor’ obriga Bolsonaro a agir contra antecipação do voto útil
O núcleo político do Palácio do Planalto entrou em alerta com a a adaptação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao personagem “Paz & Amor” no ato de lançamento de sua candidatura à Presidência – com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) de vice na chapa.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) vinha celebrando a conduta do rival nos quatro primeiros meses do ano por entender que a radicalização da retórica do petista diminuía a margem de crescimento dele e o afastava do eleitorado mais moderado. O “centrão”, em especial, aposta que esses eleitores vão decidir a disputa presidencial.
Ministros, presidentes de partidos aliados de Bolsonaro e assessores da campanha ouvidos pelo JOTA têm um diagnóstico consensual de que Lula, enquadrado no figurino de pacificador e lendo discursos milimetricamente calculados, terá chance maior de se sustentar num patamar de favoritismo para formar maioria no segundo turno.
Chamou a atenção desses interlocutores o tom quase ecumênico do evento do último sábado (7/5), com mensagens religiosas subliminares até nas peças publicitárias, e a tentativa de caracterização de “movimento suprapartidário”, com potencial para arrastar artistas, influenciadores, meio acadêmico e parcela do PIB, além de acenar para atores internacionais relevantes para uma eventual governabilidade.
“Foi uma mudança evidente. Ele [Lula] vinha cometendo uma sequência de deslizes nas suas falas e entrevistas. Claramente, está se mexendo para entrar no figuro que os marqueteiros desejam. O improviso acaba levando a um tom mais ideológico, quase sindical. Empacotado como líder político, quase um estadista, ele diminui a resistência”, avalia um expoente do “centrão” consultado pelo JOTA.
O tom moderado reflete também os primeiros resultados da reformulação na estrutura de comunicação do ex-presidente, agora comandada pela dupla Rui Falcão (ex-presidente petista) e Edinho Silva (ex-ministro da Secretaria de Comunicação).
A repercussão das falas de Lula nas redes e a cobertura da mídia internacional é monitorada atentamente pelos integrantes do governo, e a avaliação inicial é de que o tom adotado pelo ex-presidente foi bem recebido, inclusive fora das bolhas da esquerda.
“Passou uma mensagem forte, de que até adversários como o Alckmin estão se juntando porque existe uma guerra do bem contra o mal. Exatamente o que Bolsonaro vem falando de forma exaustiva, mas explorando o risco PT. Parece uma jogada para apressar o voto útil e isso exige reação”, resume uma fonte do Planalto ao JOTA.
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A estratégia bolsonarista, então, é contemplar a imagem internacional da gestão do presidente e usar a primeira-dama Michelle para potencializar a exposição do presidente junto ao eleitorado feminino e evangélico.
“Lula está obviamente explorando o seu casamento com a socióloga Janja Silva como um mecanismo para torná-lo mais bem aceito. Colocar amor na campanha sempre funciona, em especial com dois candidatos favoritos tão rejeitados pelo eleitorado. Bolsonaro tem que fazer um contraponto, pois o barulho excessivo atrapalha quem precisa fazer maioria”, analisa um dos estrategistas de Bolsonaro.
Faz parte ainda dos planos traçados pelos bolsonaristas explorar as contradições que envolvem a aliança entre Lula e Alckmin, dois antigos e históricos rivais. Existe, entretanto, uma visão de que a estratégia tem alcance limitado e só convence os ‘convertidos’, ou seja, a base que já está integrada ao projeto bolsonarista.
(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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