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ANÁLISE: Prisão de ex-ministro desorganiza base fiel a Bolsonaro em momento crítico
A prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro tornou-se um fato político com potencial para desestabilizar a correlação de forças que dá sustentação ao governo de Jair Bolsonaro em setores considerados vitais para mantê-lo competitivo na corrida eleitoral.
Mais do que expor múltiplas desconfianças sobre o comprometimento ético da gestão bolsonarista, a ação da Polícia Federal e da Justiça Federal atinge o coração da sua vigorosa base evangélica, que já vinha apresentando fissuras desde a eclosão da crise no MEC.
No entendimento de interlocutores do QG de campanha de Bolsonaro, o episódio, fartamente documentado e explorado à exaustão nas redes e no noticiário, fragiliza o discurso de enfrentamento às urnas eletrônicas, que vinha ganhando tração com o engajamento dos militares e até da Polícia Federal, e afeta a unidade de uma parcela do eleitorado que segue fiel ao presidente.
A cidadela de Bolsonaro, que o mantém na casa dos 30-35% de aprovação e intenção de voto, vem sendo decisiva para evitar um precoce derretimento da candidatura, já abalada pela grave conjuntura econômica.
A disputa por espaços na Esplanada dos Ministérios vinha colocando em lados distintos a chamada “bancada da fé” no Legislativo e o núcleo de pastores ligados à primeira-dama Michelle Bolsonaro e à ex-ministra Damares Alves, que avançaram na estrutura do Executivo, ocupando posições nobres em diversas pastas, ao passo que congressistas aliados eram escanteados, inclusive em pastas cobiçadas, como a Educação.
Mais pragmáticos, os parlamentares com alguma ascendência sobre o voto evangélico resolveram seguir a retórica de Bolsonaro, buscando “isolar” o problema e evitando demonstrar apoio a Milton Ribeiro.
Foram os casos de Sóstenes Cavalcante (União-RJ) e Marco Feliciano (PL-SP), dois dos mais aguerridos pastores do núcleo político bolsonarista.
Expressões como “a lei vale para todos” e “que os culpados sejam punidos” foram a tônica nas argumentações de ambos, após tratativas prévias que envolveram toda a base aliada e o QG de campanha do presidente.
Um influente parlamentar da base evangélica disse ao JOTA que existe uma divisão no entendimento da bancada e uma convicção: “Os parlamentares acreditam que o Milton [Ribeiro] seja inocente. Mas ninguém coloca nem a mão e nem a cara no fogo pelos pastores que atuavam no MEC”, resume esse congressista, referindo-se sobretudo a Gilmar Santos, que circulava no Congresso com desenvoltura e discutia liberação de recursos com deputados e prefeitos.
Apesar de Bolsonaro ter evitado um posicionamento público de apoio ao ex-assessor, optando por uma fala de defesa da isonomia da PF, há apreensão no Planalto com os indícios colhidos pela investigação contra Ribeiro e também com o seu comportamento após a prisão, sobretudo os depoimentos que serão dados enquanto ele estiver sob custódia. Em mais de uma ocasião, Milton Ribeiro disse que atuava na pasta, abrindo espaço para os pastores acusados de tráfico de influência, a pedido de Bolsonaro.
Não por acaso, a primeira-dama, que era contra a exoneração de Ribeiro e foi vencida pela pressão do centrão, teve a reação mais enfática na defesa do ex-ministro. Michelle disse que acredita que “Deus provará a inocência do correligionário”.
Linha parecida adotou Silas Malafaia, líder pentecostal e assíduo frequentador do gabinete presidencial. Ele foi na contramão e corroborou a defesa feita por Michelle, classificando a prisão como “ato político”.
“Querer comparar corrupção do atual governo com o do governo do PT é piada”, disse Malafaia. “Foi ele [Ribeiro] quem denunciou os outros pastores”, completou o representante da Assembleia de Deus do Rio.
Bolsonaro tem adotado um circuito de eventos com evangélicos como palanque eleitoral em diversos estados. A próxima participação do presidente em templos está prevista para este sábado (25), em Balneário Camboriú (SC), reduto tradicional do bolsonarismo. Está prevista a participação de Bolsonaro em mais uma Marcha para Jesus. Haverá espaço para discursos do chefe do Executivo e apoiadores organizam uma motociata pela orla na sequência.
(Por Fábio Zambelli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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