O que é a ‘Operação London Bridge’?

Bandeiras a meio mastro, Parlamento fechado e músicas tristes no rádio estão no planejamento há anos detalhado; velório deve ocorrer daqui a dez dias

A morte da rainha Elizabeth II dá início a um protocolo pronto há anos e revisado periodicamente, com regras que devem ser seguidas à risca pela Coroa, pelo governo e até mesmo pela imprensa britânica. Batizado de “Operação London Bridge” (“Ponte de Londres”), o plano tem vários detalhes que especificam desde a etiqueta para as bandeiras até os pormenores do velório, que acontecerá na Abadia de Westminster daqui a dez dias.

Os documentos já previam a possibilidade de a monarca morrer em Balmoral, como ocorreu — a chamada “Operação Unicórnio”. Elizabeth passava cerca de três meses por ano na casa de veraneio na Escócia, motivo para necessidade dos preparativos.

Outros planos trabalhavam com a possibilidade de a rainha morrer em Londres, no exterior ou durante uma visita a outras províncias britânicas, de acordo com informações detalhadas pelo site Politico em 2021. A “Operação Unicórnio”, contudo, foi a posta em prática: incluía a suspensão imediata do Parlamento, medidas de contenção para visitantes e o que fazer com o corpo.

Em breve, o cortejo da monarca deve seguir de trem de Aberdeen, cidade próxima a Balmoral, para Edimburgo, onde será posto no Palácio de Holyroodhouse, sua residência oficial na Escócia. Haverá uma recepção na Catedral de Saint Giles, com o corpo presente, com a participação de líderes britânicos, integrantes da sociedade civil e outras autoridades.

O cronograma exato ainda não está claro, mas, dois dias após a morte, o caixão será posto no trem real, que viajará em baixa velocidade pela costa britânica até Londres, sendo saudado por uma guarda de honra a cada estação. Quando chegar à capital, irá direto para a Sala do Trono. Há ressalvas que dizem que, se o transporte por trem não for possível, poderá ser realizado por avião.

Minuto a minuto

O plano foi posto em prática antes mesmo da morte, começando quando o quadro da rainha parecia irreversível. O médico sênior da monarca, um gastroenterologista chamado professor Huw Thomas, esteve no comando nas últimas horas de sua vida: cuidou da paciente, controlou o acesso ao quarto dela e decidiu quais informações deveriam ser tornadas públicas.

Como ocorreu com chefes de Estado que a precederam, o Palácio de Buckingham emitiu boletins alertando que a saúde da soberana se deteriorava aos poucos. Entre eles, o divulgado na manhã desta quinta afirmando que os médicos de Elizabeth II estavam “preocupados” com sua saúde e a puseram sob supervisão.

A viagem de seus parentes a Balmoral, na Escócia, também serviu para preparar os britânicos para o impacto da notícia — grande parte deles nunca precisou diferenciar o país daquela que o representava há 70 anos. Durante seu reinado, Elizabeth II e a nação tornaram-se um só.

Após a confirmação da morte, Charles tornou-se rei depois de 73 anos de espera. Enquanto isso, o secretário particular da monarca, Edward Young, entrou em contato com a recém-empossada primeira-ministra, Liz Truss. A conservadora viajou a Balmoral na terça, onde teve uma audiência com a rainha — a fotografia das duas é a última divulgada de Elizabeth II em vida.

Novos tempos

Deputados e servidores públicos receberam um e-mail alertando da morte da rainha. Todas as autoridades do governo, contudo, foram proibidas de falar até que Truss se pronunciasse.

Em cerca de 10 minutos, as bandeiras foram postas a meio-pau e as redes sociais, adaptadas para a circunstâncias. Os planos divulgados pelo Politico, inclusive, temiam a ira pública se as flâmulas não fossem ajeitadas no cronograma.

O site da família real foi alterado para uma página preta confirmando a morte, e os sites oficiais do governo ganharam um banner negro, mudando suas fotos de perfil. Tudo que não fosse urgente teve sua publicação suspensa, e retuítes só foram autorizados com autorização dos chefes de comunicação.

Há 70 anos, quando o pai de Elizabeth II, George VI, morreu, o Palácio de Buckingham usou a expressão “Hyde Park Corner” (“Esquina do Hyde Park”) para evitar que os telefonistas soubessem do que se tratava ao informar o premier, na época Winston Churchill, e outros chefes de Estado da Comunidade Britânica. Desta vez, a expressão adotada foi “London Bridge is Down” (“Ponte de Londres caiu”).

Outra mudança é a velocidade: em 1952, George VI foi encontrado por seu valete em Sandringham às 7h30. A BBC só transmitiu a notícia às 11h15, quase quatro horas depois. A rede também perdeu seu monopólio: antes, recebia primeiro a notícia. Agora, o Palácio de Buckingham divulgou a informação simultaneamente para todo o planeta.

O plano, a partir daí, lista as prioridades para as primeiras horas após a passagem da Coroa: na sexta, Charles terá uma audiência com Truss e fará um pronunciamento à nação e à Comunidade Britânica. Haverá uma cerimônia na Catedral de São Paulo, em Londres, com a participação da premier e de ministros. Pelo país, cidades deverão respeitar um minuto de silêncio e o Ministério de Defesa precisará organizar saudações de tiros.

Por dia

O plano chama o dia da morte de “Dia D”, identificando os dias seguintes como D+1, +2, +3, até o D+10, data do funeral. Charles será nomeado rei pelo Conselho de Ascensão em até 24 horas, com uma proclamação a ser lida no Palácio de Saint James e no Bolsa de Valores britânica. No D+1, haverá também uma sessão especial no Parlamento, de meio-dia (8h no Brasil) às 22h (18h no Brasil). Às 14h (10h no Brasil), os parlamentares prestarão juramento ao novo rei.

O governo britânico também anunciou que Truss e Charles terão uma audiência amanhã. Em seguida, o Gabinete do novo monarca confirmou que ele fará um pronunciamento à nação, seu primeiro como chefe de Estado.

No D+2, o corpo deve seguir para Buckingham, e será recebido em Londres por Truss e outras autoridades. No D+3, Charles receberá uma moção de condolências no Parlamento pela manhã, segundo as notícias antecipadas pelo Guardian, antes de começar sua turnê real.

Ele irá primeiro ao Parlamento escocês e à Catedral de Saint Giles, em Edimburgo. Depois seguirá para o Castelo de Hillsborough, na Irlanda do Norte. No dia seguinte, participará de um serviço na Catedral de Sant’Ana, em Belfast, enquanto preparativos para o funeral acontecerão em Londres.

No quinto dia, haverá uma procissão do Palácio de Buckingham até o Parlamento, seguida por uma cerimônia em Westminster, a sede do Legislativo. O corpo de Elizabeth II ficará lá por três dias, onde receberá visitas do público 23 horas por dia. Convidados VIP receberão convites com hora marcada.

Entre os dias seis e nove, Charles irá ao País de Gales, enquanto os detalhes finais do funeral são finalizados: recepção para autoridades estrangeiras, organização do trânsito, preparações para receberem turistas e temores com a sobrecarga dos serviços públicos.

O velório será realizado dez dias após a morte da monarca na Abadia de Westminster, em um dia de luto nacional. Haverá dois minutos de silêncio em todo o país. Em seguida, haverá um serviço na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor. A rainha será enterrada na mesma propriedade, na Capela Memorial Rei George IV.

A coroação formal de Charles, também preparada há anos, ainda deve levar um tempo: a de Elizabeth II, por exemplo, ocorreu em 2 de junho de 1953, mais de um ano após a morte de seu pai, em 6 de fevereiro de 1952. Não está claro se desta vez o intervalo será o mesmo desta vez.


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