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Mujica anuncia que não fará mais tratamento para câncer e se despede de companheiros
O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica revelou nesta quarta-feira (9) que seu câncer no esôfago se espalhou para outros órgãos, marcando o que ele definiu como sua última entrevista.
Em tom comovente, Mujica anunciou que não realizará novos tratamentos e deixou uma mensagem de despedida aos colegas.
“Estou morrendo”, diz ele, com os olhos cheios de lágrimas, ao jornal local “Búsqueda”.
“O câncer no esôfago está colonizando meu fígado. Não consigo pará-lo. Por quê? Porque sou um idoso e tenho duas doenças crônicas”.
“Não posso fazer nem tratamento bioquímico nem cirurgia, porque meu corpo não aguentaria”.
Ex-presidente uruguaio não dará mais entrevistas
Durante a conversa em sua chácara em Rincón del Cerro, onde vive com sua esposa, Lucía Topolansky, Mujica anunciou que não fará mais entrevistas.
Além de confirmara intenção de não fazer mais tratamentos depois de passar por 32 sessões de radioterapia.
Disse que é a única coisa que pediu aos médicos foi que “não o fizessem sofrer à toa.”
“O que peço é que me deixem tranquilo. Que não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo já acabou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso”, disse.
Histórico de saúde de Mujica
Diagnosticado com câncer de esôfago em abril de 2024, o líder do Movimento de Participação Popular (MPP) passou por diferentes tratamentos e intervenções.
No final de dezembro, foi submetido a um procedimento para a colocação de um dispositivo que facilita sua alimentação e hidratação.
“Mais de uma vez a morte rondou minha cama, mas sempre segui em frente. Desta vez, parece que ela vem com a foice em punho”
“Vamos ver o que acontece. Enquanto puder, seguirei militando e cuidando das hortaliças”, disse.
Desejo de se dedicar ao trabalho na chácara em que mora
Definindo-se como “um velho no fim da vida”, Mujica, uma das figuras políticas mais importantes do país, expressou que “a única coisa” que quer, antes de se dedicar exclusivamente ao trabalho na chácara enquanto o corpo permitir, é se despedir publicamente de seus “compatriotas” e de sua “turma”.
“É fácil respeitar quem pensa como você, mas a essência da democracia é respeitar quem pensa diferente”, disse na sua despedida.
“Por isso, primeiro me despeço dos meus compatriotas. A eles, envio um abraço. Depois, dos meus companheiros e simpatizantes. O único que quero agora é me despedir”.
Valorização da democracia
Em outra parte da conversa, ele defende a democracia e diz que não a valorizava na juventude, época em que liderou, junto com outras pessoas, a guerrilha “Tupamara”, e que isso foi um erro.
“Não há nada como a democracia. Eu, jovem, não pensava assim, é verdade. Me enganei. Mas hoje defendo isso. Não é a sociedade perfeita, é a melhor possível”, afirma.
Mujica também refletiu sobre o futuro do MPP, após a vitória de Yamandú Orsi nas eleições presidenciais.
Ele afirmou sentir orgulho, pois isso lhe permite “partir tranquilo e agradecido”.
Contudo, rejeitou especulações sobre um papel no próximo governo, que assumirá em 1º de março.
“No dia seguinte à vitória, ele veio me visitar pela manhã. Desde então, não falei mais com ele”.
“Não tenho ideia, nem quero saber de nada, porque o pior que existe é formar um governo”, disse o ex-presidente.
Mujica defende preparação de uma nova geração de líderes
Sobre as lições que gostaria que ficassem quando ele já não estiver, Mujica se detém especialmente em uma.
Trata-se da necessidade de renovação e de que os líderes mais veteranos deem um passo para o lado a tempo.
“Minha turma tem que entender que o tempo é inexorável e que há um momento em que é necessário abrir a porta para outras gerações e não ficar atrapalhando”, afirmou Mujica.
“Minha única preocupação é que tenham uma atitude de renovação permanente, porque o que vem é muito diferente do que houve.”
Durante a entrevista, ele tentou se desvencilhar das perguntas sobre o passado, mas fez uma reflexão geral sobre sua vida.
“A vida é uma bela aventura e um milagre. Estamos muito concentrados na riqueza e não na felicidade. Estamos concentrados só em fazer coisas e, quando você percebe, a vida passou à toa.”
“Eu vivi muito bem. Minha vida é um pouco uma novela. A presidência é só uma bobagem, um capítulo a mais. Além disso, eu nem tinha me proposto a ser presidente. O jogo aconteceu assim”, completou.
Por fim, Mujica afirma: “Vou morrer aqui”, disse, referindo-se à sua chácara.
Ele mencionou uma árvore sequoia no local e sua cadela Manuela, enterrada ali.
Dessa maneira, acrescentou: “Estou cuidando dos papéis para que também me enterrem lá. E pronto”.
Com informações do Valor Econômico
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