‘Fake news do Pix’, preço de alimentos e mais: o que puxa a queda de popularidade de Lula?

Pesquisa Quaest mostra que presidente brasileiro começa a segunda metade do mandato com uma piora na avaliação do governo

Fontes do Palácio do Planalto veem o episódio da “fake news” do Pix como o principal fator que contribuiu para a queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu governo, conforme registrado na segunda-feira pela Quaest. A alta nos preços dos alimentos também é apontada como um dos motivos para o mau humor com Brasília.

A pesquisa da empresa mostra que o trabalho de Lula é reprovado por 49% da população (ante 47% em dezembro) e aprovado por 47% (52% em dezembro). É a primeira vez que a reprovação ao presidente supera a aprovação desde o início de seu terceiro mandato, em janeiro de 2023.

Já a avaliação negativa do governo subiu de 34% para 37% desde dezembro, enquanto a positiva caiu de 33% para 31%.

Os pesquisadores da Quaest foram às ruas entre 23 e 26 de janeiro, em um contexto difícil para o governo. As últimas semanas foram marcadas por más notícias na economia e declarações recentes de autoridades do primeiro escalão, que tiveram repercussão negativa no mercado e nas redes sociais.

Lula e o Pix

Dentro do Palácio do Planalto, o sentimento é de que o episódio envolvendo o Pix, na semana retrasada, foi o que causou mais danos à imagem do governo.

O temor, amplamente disseminado nas redes sociais, de que o governo pretendia taxar transações acima de R$ 5 mil chegou a abalar a credibilidade do sistema de transferências bancárias mais utilizado pelos brasileiros.

No ano passado, o Pix registrou 63,5 bilhões de operações e atingiu o volume recorde de R$ 26,4 trilhões movimentados.

Para um desses interlocutores do Planalto, os números da pesquisa Quaest teriam sido ainda piores se as entrevistas tivessem ocorrido há uma semana.

Ainda assim, as fontes reconhecem que a “fake news” do Pix não explica sozinha a queda na popularidade do governo. Lula e seu entorno já vinham percebendo, há semanas, mudanças no humor da população devido ao aumento no preço dos alimentos.

Inflação dos alimentos

No dia 14 de janeiro, ao tomar posse como ministro da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), o publicitário Sidônio Palmeira declarou que a inflação dos alimentos e a desinformação nas redes sociais estavam entre os principais desafios na comunicação do governo.

Em uma reunião ministerial realizada na segunda-feira passada, dia 20, Lula determinou que sua equipe encontrasse soluções rápidas para baratear os alimentos. Após isso, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, protagonizou dois episódios que contribuíram para desgastar ainda mais o governo.

No primeiro, em 22 de janeiro, Rui afirmou que o governo buscava “intervenções” para reduzir os preços dos alimentos. O termo gerou ruídos no mercado, e alguns agentes passaram a interpretar que o Planalto poderia adotar medidas heterodoxas, como tabelamento de preços ou taxação de exportações.

O ministro foi obrigado a se explicar e pediu que se substituísse “intervenções” por “medidas” em sua fala.

O episódio mais recente ocorreu na última sexta-feira, quando Rui Costa anunciou que o governo reduziria a alíquota de importação de alimentos cujo preço estivesse mais baixo no mercado internacional.

Na ocasião, o ministro sugeriu que os brasileiros trocassem a laranja por outra fruta “mais barata”, já que o produto estava com o mesmo preço dentro e fora do país.

A declaração gerou ataques e críticas da oposição, encerrando um ciclo de más notícias para o governo pouco antes da divulgação da pesquisa Quaest.

Falhas de comunicação pesam na popularidade de Lula

Senadores da base do governo de Lula acreditam que a pesquisa Quaest, que mostra uma queda na popularidade do chefe do Executivo, é resultado das falhas de comunicação da gestão petista.

Provável líder do PSD no Senado a partir da próxima legislatura, Omar Aziz (AM) minimizou a queda na aprovação do presidente em seus principais redutos.

Ao Valor, ele disse que o resultado apresentado pela Quaest se deve “ao momento”, mais especificamente à falha de comunicação do governo durante a disseminação da informação falsa de que a Receita Federal passaria a taxar o Pix, quando na realidade a instrução normativa previa o aumento da fiscalização nas transações.

Aziz ainda vê espaço para a melhoria da aprovação do terceiro mandato de Lula, mas reconhece que o governo precisa melhorar a “interlocução com os segmentos”.

“Tudo é possível de ser mudado. O governo precisa fazer uma melhor interlocução com os segmentos.”, afirmou. “O pessoal do meio ambiente precisa sentar com o agro e discutir desenvolvimento sustentável, ao invés de fazer militância”, acrescentou, quando questionado sobre qual segmento o senador se referia.

Vice-líder do governo no Senado, Jorge Kajuru (GO) corrobora a avaliação de que o governo falha na comunicação, mas acredita numa melhora com a chegada de Sidônio Palmeira a Secretaria de Comunicação (Secom). Segundo ele, a comunicação dos parlamentares da base estará alinhada com o novo comando da Secom.

“O maior erro do governo Lula foi a comunicação. E agora com o Sidônio isso vai ser resolvido rapidamente. Isso vai mudar em 40 dias. Ele é um craque e mostrou isso na campanha do Lula. Agora mudou tudo. O Jaques Wagner é o grande padrinho do Sidônio e o Senado vai estar alinhado com a comunicação do governo”, declarou Kajuru.

‘Picanha e cerveja’

Líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), afirmou que as medidas do governo Lula estão desconexas dos anseios da população.

“As pessoas estão extremamente preocupadas com a perda do poder de compra e também com essa agenda desconexa do governo. Esse descolamento leva a essa rejeição que a população tem ao governo do PT, que tem uma pauta da década de 1980”, declarou.

“Os mais pobres estão sentindo que a promessa de picanha e da cerveja era mais uma mentira”, acrescentou Marinho.

Com informações do Valor Econômico

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