Haddad pede voto de confiança a banqueiros

Ministro promete nova regra fiscal “crível e exequível”

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pediu um voto de confiança aos banqueiros na condução da política econômica e da questão fiscal ao visitar ontem a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em São Paulo.

De acordo com o relato de participantes, Haddad afirmou que houve muito ruído nesse primeiro mês de governo, disse que grande parte do diagnóstico dos problemas está concluída e reiterou que pretende mandar ao Congresso até o fim de abril a proposta do novo arcabouço fiscal.

Haddad não detalhou como serão as novas regras para os gastos públicos, mas disse que a equipe econômica está buscando um desenho que possa se mostrar “crível e exequível”, de acordo com um executivo que esteve no encontro.

Secretário de Haddad promete plano fiscal ‘consistente e exequível’

Também ontem, o secretário de Política Econômica de Haddad, Guilherme Mello, repetiu parcialmente as palavras do chefe ao afirmar à CNN Brasil que o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária deixarão claro que o plano de ajuste “é consistente, sólido e crível”.

Depois, em um evento do Credit Suisse, Mello sinalizou que o gasto público é um dos instrumentos possíveis para uma nova regra que ancore a trajetória da dívida. “O governo tem algum controle sobre o nível de receita, mas tem mais controle sobre o nível de gasto”, disse à plateia de investidores.

O café da manhã promovido pela Febraban reuniu os três ministros da área econômica – além de Haddad, participaram Simone Tebet, do Planejamento, e Esther Dweck, da Gestão e Inovação Pública -, o titular da Agricultura, Carlos Fávaro e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. O encontro começou às 9h e se estendeu até cerca de 12h.

Time coeso

Na visão de uma fonte do setor, a visita dos ministros em conjunto mostra uma postura de coesão da equipe econômica e disposição do governo a dialogar com o setor privado. De acordo com esse interlocutor, os ministros disseram que pretendem discutir em conjunto uma proposta para a questão fiscal para então levá-la aos demais integrantes do governo. Também sinalizaram que estão cientes da urgência do assunto e que o governo não vai se afastar da pauta social, mas atuará com responsabilidade.

Dirigentes e presidentes dos maiores bancos do país aproveitaram a ocasião para cobrar previsibilidade nos rumos da economia e segurança jurídica, disse ao Valor outra fonte que esteve no encontro. A presença de uma equipe de peso do primeiro escalão do governo tornou a reunião do Conselho Consultivo da Febraban uma das mais concorridas dos últimos anos. Consultivo da Febraban uma das mais concorridas dos últimos anos. Um membro do conselho disse que o encontro foi o que teve maior quórum em três anos.

Chamou a atenção de um participante a ênfase que Mercadante deu à retomada do Fundo Amazônia. Ele e Fávaro também abordaram a importância de se ter uma agenda ambiental com a União Europeia e comentaram aspectos da transição energética do Brasil e os potenciais do mercado de carbono. “A questão da sustentabilidade ambiental está na boca dos ministros”, disse a fonte.

Haddad reitera importância da aprovação da reforma tributária no Congresso

Já Haddad reiterou a importância de se aprovar a reforma tributária no Congresso. Na saída do encontro, que foi fechado para a imprensa, o ministro disse a jornalistas que a agenda discutida com o setor financeiro foi a mesma debatida com o setor produtivo no início da semana, quando Haddad esteve na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Além de reforçar que até abril o presidente Lula deve validar uma nova regra fiscal para ser encaminhada ao Congresso, Haddad citou “a questão do crédito”, que “entrou na ordem do dia”, segundo ele, e a reforma tributária. “Pode ser votada, Congresso está maduro”, afirmou. Questionado sobre a possibilidade de redução da carga tributária, um pleito apresentado pela indústria na Fiesp, Haddad disse que “a reforma tributária prevê exatamente isso, prevê redução da carga tributária para a indústria”.

O ministro da Fazenda disse também que, desde o dia 1º de janeiro, não discutiu mais a desoneração de combustíveis, em referência à isenção de impostos sobre a gasolina e o álcool, que Lula prorrogou até o fim de fevereiro.

“Porque a decisão foi tomada ali pelo presidente da República, que obviamente pode revisitar a matéria. Mas, até o presente momento, não houve da parte dele nenhuma convocação ao Ministério da Fazenda”, afirmou.

Com reportagem de Talita Moreira, Anaïs Fernandes, Rafael Walendorff e Estevão Taiar — do Valor Econômico de São Paulo e Brasília

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