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Bolsonaro larga na frente na disputa pelas ruas; Lula vai apelar à economia
Nomes mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) deram a largada numa espécie de competição paralela em torno das manifestações de rua. Esse tipo de agenda volta com força a cinco meses do primeiro turno da eleição, depois de ter ficado fora do radar da maioria dos políticos por meses por conta da pandemia de Covid-19. Esses atos viraram um termômetro para largada da campanha e, por isso, os principais candidatos montam calendário de protestos até 7 de Setembro.
Além de travar a disputa nos levantamentos de intenção de voto, Lula e Bolsonaro brigam de forma aguerrida por quórum, alcance, barulho e até pelas cores dominantes dos protestos que vêm sendo organizados por apoiadores, muitos deles embasados em pautas controversas e difusas, como as do 1º de Maio.
As estratégias, porém, são distintas. O presidente quer mostrar que há respaldo popular ao seu governo, diferentemente do que apontam as pesquisas. Por outro lado, o petista tenta engajar no seu palanque segmentos que transcendam os limites das tradicionais cidadelas da esquerda, sobretudo os movimentos sociais, sindicais e de direitos humanos.
Na disputa pelos atos populares, Bolsonaro está ligeiramente à frente do principal concorrente, uma vez que mantém mobilizada sua base de apoio, um mérito político do bolsonarismo pelo permanente “estado de guerra”. Dessa forma, leva apoiadores às passeatas para abraçar causas que flertam com o autoritarismo, mas funcionam como faíscas de aglutinação de forças.
Ainda que apresentem bandeiras muitas vezes obtusas, os aliados de Bolsonaro se apropriaram de símbolos do patriotismo que colocam os rivais em desvantagem no quesito “alegorias” da passarela eleitoral. Esse combo de imagens ilustra a cobertura que hoje é mais decisiva no embate pela atenção do eleitorado: a do WhatsApp da família brasileira.
Embora as comparações sejam imprecisas do ponto de vista científico, não é preciso ser estatístico para concluir que Bolsonaro desbancou Lula no primeiro ato dessa série que deve ser recorrente até outubro.
Lula teve de driblar a falta de público no movimento das centrais sindicais, enquanto o presidente surfou na capilaridade das manifestações que chamou de “pró-liberdade de expressão”, mas que tinham como alvo preferencial o Supremo Tribunal Federal (STF). Para ministros e interlocutores de Bolsonaro, a estratégia do último domingo foi bem-sucedida.
Na campanha de Lula, a avaliação é de que há o desafio de romper a bolha da militância e do ativismo para levar às ruas os “eleitores comuns” – os votantes que colocam o ex-presidente na liderança de todas as pesquisas. Para colocar o plano em prática, a campanha vai apostar nas próximas caravanas à região Nordeste. Nelas, pretende instalar definitivamente o ex-presidente “no meio do povo”. O QG petista quer, assim, derrubar de vez narrativa bolsonarista de que Lula estaria distante da população depois de cumprir quase 600 dias de prisão.
Outra face da estratégia de Lula para maior engajamento de seu eleitorado é o envolvimento da classe artística, de influenciadores e de líderes do movimento estudantil. Com isso, espera que seja maior a participação dos jovens nos próximos protestos.
Outro pilar da campanha petista – e o mais preponderante – é priorizar aspectos econômicos e a deficiência do governo Bolsonaro em sua atuação na área. “Sempre que alguém que apoia o Bolsonaro falar do STF, vamos falar de inflação. É isso que interessa ao cidadão. Guerra ideológica é tática diversionista”, afirma uma fonte ouvida pelo JOTA.
Por outro lado, Bolsonaro tem estimulado a articulação de apoiadores para que se crie um calendário de atividades de rua, sempre a partir da avenida Paulista, em São Paulo. O grande momento, segundo o planejamento, seria em 7 de Setembro, dia da Independência, a menos de um mês do primeiro turno. Somado a isso, o presidente continuará com as apostas em vídeos de plateias inflamadas em aeroportos e na massificação das imagens de inaugurações e obras federais.
(Por Fabio Zambeli, colunista do JOTA)
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