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Análise: PT ‘vigia’ Alckmin e busca mais espaço no início da transição
Escalado para chefiar a equipe de transição para o novo governo Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin iniciou seu périplo por Brasília para abrir o processo de mudança de gestão sob a supervisão atenta do PT. O vice-presidente eleito, ex-tucano e hoje no PSB, participou de reuniões no Congresso, no Tribunal de Contas da União e no Planalto, mas foi mantido no raio de ação de expoentes petistas.
A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, o ex-ministro Aloizio Mercadante e o ex-governador Wellington Dias, também componentes do comitê transitório, além de senadores e deputados da sigla, trataram de acompanhar as agendas de Alckmin de perto e até direcionar as entrevistas concedidas por ele.
Fontes ouvidas pelo JOTA avaliam que o ex-governador paulista tende a ser eclipsado, na prática, por atores do PT que conhecem melhor a dinâmica da máquina federal e do Legislativo na capital federal. “Ele [Alckmin] terá que ser permanentemente validado por Lula, pois os outros integrantes da transição já foram ministros, conhecem com a palma da mão a burocracia de Brasília e têm agendas próprias para o processo de montagem do governo”, afirma esse interlocutor do QG lulista.
A escolha de Alckmin tinha o objetivo de sinalizar um caráter suprapartidário à equipe de transição, refletindo a expansão da aliança que deu sustentação à candidatura vitoriosa de Lula.
As demandas do partido do presidente eleito, contudo, começam a avançar no desenho do organograma do governo. O PT não abre mão de protagonismo na “cozinha” do Planalto e enxerga nos eventuais superpoderes de Alckmin um problema na configuração de forças no entorno de Lula.
O que se pretende neste momento entre os grão-petistas é evitar que o vice eleito vire uma espécie de “gerente” da nova administração, posição cobiçada pela sigla.
Gleisi, que assumiu a presidência petista no pior momento da legenda, tem hoje o comando da pauta mais ideológica do partido, e virou uma espécie de porta-voz do grupo que defende uma gestão mais à esquerda.
Nesta quinta-feira (3), ela veio a público contestar o pagamento de dividendos da Petrobras. “Passada a eleição, volta a sangria na Petrobras. Estão preparando a distribuição de R$ 50 bilhões em dividendos. Não concordamos com essa política que retira da empresa sua capacidade de investimento e só enriquece acionistas. A Petrobras tem de servir ao povo brasileiro”, escreveu nas redes sociais, para desespero do mercado e resgatando o debate sobre a função social da empresa, que já tem um candidato do partido para a presidência: o senador Jean Paulo Prates.
Já Mercadante, que coordenou o programa de governo, foi reabilitado por Lula na campanha pela capacidade de trabalho e pelo amplo conhecimento de tendências internas do PT e idiossincrasias de cada ala, acomodando-as na linha de frente da formulação estratégia da eleição.
Os dirigentes petistas escalados para atuar com Alckmin não escondem que, a despeito dos elogios pelo caráter aparentemente republicano ao rito até agora, a ideia de Lula é não deixar que a cooperação de atores do centrão, como o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, esconda o que chamam de “herança maldita” de Jair Bolsonaro que deve ser amplamente explorada pelo novo governo após a posse.
Fator Haddad
Interlocutores de Alckmin argumentam que ele, como novo aliado de Lula e experiente gestor, não procurará tirar os holofotes dos petistas e procurará ouvir mais do que falar durante o período de transição.
Ele conta com o respaldo de outro petista que saiu fortalecido na campanha: Fernando Haddad. Um dos responsáveis pela indicação alckmista para a chapa de Lula, o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo tem se alinhado a Alckmin para influenciar na montagem da equipe econômica e ajudando-o a driblar as resistências dentro do PT.
Haddad começou a montar a equipe que vai trabalhar na transição com o programa de educação, mas tem afirmado que não gostaria de ser ministro da pasta. Derrotado na corrida pelo governo paulista, mas tendo obtido uma votação recorde para o PT no estado, com mais de 44% dos votos válidos, Haddad tem crédito com Lula e é visto como antagonista interno ao grupo de Mercadante, em especial na formulação macroeconômica.
(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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