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Análise: Governo Lula terá primeiro teste para valer de sua base no Congresso
Decisão sobre destino do ministro Juscelino Filho (Comunicações) e sobre CPI dos atos de 8 de janeiro são desafio para o Executivo
O governo Lula vai enfrentar nesta semana o seu primeiro teste para valer com a sua base no Congresso Nacional.
Primeiro, porque precisará resolver o destino do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, que enfrenta uma série de denúncias de uso de recursos públicos para fins pessoais já durante o exercício do cargo. E Juscelino não é um ministro qualquer. Ele é indicado pelo centrão, faz parte da cota do União Brasil, um dos partidos com bancada mais numerosa no Parlamento, o que o transforma num importante aliado do Executivo.
O presidente Lula disse que vai ouvir o ministro antes de decidir seu futuro. Mas uma eventual troca certamente trará consequências para a relação do Planalto com o bloco governista.
E há parlamentares importantes envolvidos no processo, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Davi Alcolumbre (União-AP), ambos tidos como relevantes na formação de maioria nas duas Casas.
O segundo item dessa pauta desafiadora para o governo no Congresso é a CPI dos atos de 8 de janeiro. A oposição já reuniu as assinaturas para abertura da comissão mista, que é vista pelos interlocutores de Lula como uma armadilha para desviar o foco político e dar palanque aos aliados de Jair Bolsonaro (PL) no Congresso, tumultuando a agenda de interesse do Planalto, especialmente a econômica.
A articulação política de Lula vai tentar convencer deputados e senadores a retirar assinaturas do pedido. E essa mobilização depende da participação de Lira, dos partidos de centro, como o próprio União Brasil, para ser bem-sucedida.
Além disso, será uma semana decisiva para medir a temperatura da disputa entre o comando do PT e a equipe econômica, que subiu bastante com a divergência do partido do presidente com o time de Fernando Haddad no debate sobre a reoneração dos combustíveis. E também com a troca de farpas da presidente petista Gleisi Hoffmann com o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira sobre as indicações da pasta para a Petrobras.
Até agora, Lula tem mantido alguma equidistância nesse embate, que é algo recorrente em governos do PT. Mas, com a proximidade da apresentação da nova regra fiscal e a discussão sobre a reforma tributária no Congresso, o presidente será chamado com mais frequência para arbitrar e buscar convergências.
E Jair Bolsonaro, que participou ativamente do principal congresso da extrema-direita norte-americana, recebendo afagos de Donald Trump, terá que se explicar de forma mais convincente sobre o chamado “escândalo das joias”, que envolve o ingresso supostamente ilegal de presentes recebidos pelo ex-presidente do governo da Arábia Saudita no apagar das luzes do seu mandato. Presentes esses que seriam destinados a Michelle Bolsonaro.
As implicações desse episódio, que ainda estão sob investigação, preocupam os operadores políticos de Bolsonaro, principal do PL, seu partido, que apostam na ex-primeira dama numa grande campanha de marketing para rodar o Brasil preparando terreno para o retorno do ex-presidente para liderar a oposição em abril.
Fabio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo
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