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Análise: Em confronto com o STF, Bolsonaro estimula manifestações de rua entre julho e setembro
Após a convocação indireta feita por Jair Bolsonaro (PL), apoiadores do presidente e segmentos organizados que dão suporte ao seu governo iniciaram mobilização para retomar as manifestações de rua contra o Supremo Tribunal Federal (STF), a exemplo das ocorridas em 7 de setembro.
A senha foi dada pelo chefe do Executivo, que cobrou uma “reação” da população diante do que ele chama de abusos da Corte, convalidados na decisão tomada na última terça-feira que derrotou o ministro Nunes Marques e manteve a perda do mandato do deputado bolsonarista Fernando Francischini, acusado de propagar notícias falsas sobre a urna eletrônica na eleição de 2018.
O julgamento foi interpretado como uma espécie de recado do Judiciário aos políticos que usem as redes sociais para colocar em dúvida a lisura do processo eleitoral. Envolvido diretamente no caso, que ele considera simbólico, o presidente não se conformou com o revés e incitou seus correligionários a retomarem os protestos.
Antes, em entrevista, Bolsonaro já havia dado indicativos de que subiria o tom contra o Supremo ao revelar que fez um suposto acordo com o ministro Alexandre de Moraes após as manifestações do ano passado. O presidente chegou a dizer que o magistrado não teria cumprido “nenhum item” deste eventual acerto, colocando o responsável pelo TSE na eleição de outubro em saia-justa.
“Vem pra rua”
Líderes de grupos que apoiam Bolsonaro se reuniram na noite de terça (7) e definiram um calendário de manifestações entre julho e setembro, o que possivelmente resultará num grande ato novamente no Dia da Independência.
O primeiro ato será convocado para 31 de julho, com epicentro na avenida Paulista. A ideia é sair às ruas em pelo menos 200 cidades brasileiras, repetindo o ritual das roupas e bandeiras verde e amarelas e palavras de ordem contra o STF, a esquerda e “em favor da liberdade”.
A novidade é a tentativa de engajar lideranças evangélicas e católicas com a bandeira do combate à legalização do aborto.
Representantes de igrejas de várias denominações têm alertado os apoiadores do presidente sobre as dificuldades de convencer fiéis a participar de protestos, mas se comprometeram a promover marchas com uma agenda de costumes alinhada a Bolsonaro.
Os caminhoneiros, estreitamente associados às manifestações bolsonaristas desde 2018, também serão chamados a participar, embora exista uma divergência entre as lideranças do setor sobre o envolvimento na campanha eleitoral. Entidades importantes que agregam os transportadores autônomos têm relatado ao governo um esvaziamento da sua capilaridade, dadas as dificuldades que os profissionais estão enfrentando por causa da escalada do preço dos combustíveis e os efeitos da pandemia na logística.
Moraes na mira
Bolsonaro tem afirmado a operadores políticos que só ele é capaz de levar multidões às ruas, o que o ajuda a sustentar o discurso de questionamento ao resultado das pesquisas, que o colocam em desvantagem na corrida presidencial. A ideia do presidente, ao estimular novos protestos, é promover um contraponto aos principais institutos e seguir colocando interrogações sobre a segurança do sistema eleitoral.
Nas contas dos apoiadores do presidente, esse timing de protestos coincidirá com a posse de Moraes no TSE, o que tende a elevar a pressão popular contra a Corte no momento mais agudo da campanha pelo Planalto.
(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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