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Análise: Bolsonaro leva ‘guerra santa’ para o centro do 2º turno
Jair Bolsonaro conseguiu levar a agenda de costumes ao centro do debate na corrida presidencial. Informações falsas como a propagada pela ex-ministra Damares Alves em um culto religioso, sobre supostas violações de crianças no Pará, foram potencializadas ao eleitor diante de um novo elemento na disputa: a capilaridade regional oferecida por operadores políticos do centrão, até então distantes da associação com o presidente da República no primeiro turno.
O principal sintoma da ofensiva se traduz na agenda paralela da primeira-dama Michelle Bolsonaro, que em duas semanas percorreu todas as capitais das regiões Norte e Nordeste amparada por cabos eleitorais de integrantes dos partidos alinhados ao Planalto. A tentativa de reduzir a rejeição do eleitorado feminino se dá sobre temas relacionados a ideologia de gênero, legalização do aborto e fechamento de igrejas. A cartilha não é nova e nem verdadeira, mas tem potencial de influenciar o voto de fiéis de mais baixa renda até então simpatizantes do ex-presidente Lula, mas distante da contaminação por esse tipo de conteúdo compartilhado de forma mais abrangente nas redes sociais e em grandes centros urbanos, de acordo com estrategistas da campanha bolsonarista.
Embora o cenário entre os dois candidatos seja de estabilidade na distância registrada por diferentes institutos de pesquisa, a rejeição do petista vem crescendo mesmo com o sucesso de articulações ao centro, como o apoio da senadora Simone Tebet (MDB). O mundo político em Brasília ainda trabalha com cenário de favoritismo de Lula, mas tem adotado cada vez mais cautela em meio aos sinais que entendem serem mais vantajosos a Bolsonaro, a exemplo do desempenho no debate do último domingo (16).
No início da disputa, o PT prometia desprezar do radar de prioridades qualquer tema que não estivesse conectado aos problemas reais do país. Na reta final, o partido parece ter mordido a isca do adversário, mesmo ciente de que joga na defensiva. É dentro da lógica de contenção de danos que uma ala da campanha renovou a expectativa de obter o aval de Lula para divulgar uma carta aos evangélicos. Se o plano der certo, o documento de compromissos viria a público antes de uma agenda com lideranças evangélicas, costurada para ocorrer no Rio de Janeiro, berço eleitoral do bolsonarismo, no final desta semana.
Em duas semanas, é a terceira vez que integrantes do partido citam a intenção, número que revela por si só a incerteza dentro da campanha sobre a eficácia de eventual ação.
Da mesma forma, a estratégia digital petista segue insuficiente para frear a máquina de disseminação de informações, impulsionada por pastores, que vem arrebanhado o voto de fiéis sensíveis à falsa agenda colocada por Bolsonaro.
Quando o conteúdo é freado por decisões do TSE, o estrago já foi feito. Com a rede de apoio do centrão para aumentar o alcance, só a urna vai mostrar o tamanho do dano. Até lá, o prejuízo só tende a aumentar com persistência em oferecer terreno no lugar em que Bolsonaro sempre esteve terrivelmente confortável.
(Por Bárbara Baião, analista de Congresso Nacional do JOTA em Brasília)
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