Galípolo: agro explica parte da alta do PIB 2023 quase 3 vezes acima e com desinflação

Diretor do BC ressaltou que pode haver outros fatores ainda não percebidos contribuindo para o crescimento econômico e a desaceleração da inflação

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que o forte desempenho do agronegócio ajuda a explicar por que o Brasil teve um crescimento três vezes maior que o inicialmente previsto no ano passado, acompanhado por desaceleração da inflação.

“O agro consome menos hiato. Contribui entregando mais produção, ajudando no processo de desinflação”, disse Galípolo durante palestra no evento Hora da Retomada, promovido pelo Money Report, em São Paulo.

Ele ressaltou, porém, que pode haver outros fatores ainda não percebidos contribuindo para o crescimento econômico e a desaceleração da inflação, e que explicariam a dificuldade em projetar o desempenho destas duas variáveis pelos especialistas.

“Existem fatores que são próprios do Brasil, mas acho que tem fatores globais que precisam ser levados em conta nessa dificuldade de explicação. Não são surpresas só decorrentes do fato de que existe discrepância entre o que se previa e ocorreu, mas discrepância na correlação entre variáveis”, afirmou.

As guerras, segundo Galípolo, podem ser um dos fatores que exerce um efeito ainda não inteiramente compreendido sobre a economia, assim como as tensões geopolíticas e seus efeitos secundários, como a alteração nas cadeias logísticas e produtivas.

“A questão da guerra pode ter efeito mais duradouro, como o reshoring. As tensões geopolíticas passaram a influenciar decisões de investimento”, afirmou

“Eu acho que nesse cenário de realocação das cadeias produtivas e de tensões geopolíticas, com as características que o Brasil tem e com o ciclo de política monetária nosso e dos países avançados, o Brasil tem bastante chance para se apresentar como um caso de eleição para recepção de boa parte desses recursos”, acrescentou Galípolo.

Coerência nas ações do BC colaborou para ancorar expectativas

O diretor de Política Monetária do Banco Central, considera que a coerência da instituição nas ações e sinalizações dadas ao mercado a respeito da trajetória da Selic ajudaram a ancorar as expectativas dos investidores em relação à economia.

Galípolo disse que o Banco Central ajudou a reduzir a volatilidade do mercado num momento de incertezas econômicas e geopolíticas, e que parte disso está relacionado ao uso do chamado forward guidance – a sinalização de potenciais decisões futuras do Comitê de Política Monetária, o Copom.

“Fica o desafio do ponto de vista do que pode acontecer, reforçando que acima do guidance está o data dependency. Tenho um guidance, mas digo que vai ocorrer se aquilo que está se imaginando se realizar”, disse Galípolo.

O diretor ressaltou que pode haver um custo quando for necessário fazer a “retirada do plural” na sinalização sobre os cortes de juros. Ele se referia especificamente ao trecho do comunicado do Copom em que o colegiado afirma que espera redução de juros “nas próximas reuniões”.

Segundo ele, este tipo de sinalização é de “altíssimo risco”, especialmente para bancos centrais de países emergentes, porque há a possibilidade de o Comitê de Política Monetária “ser pego no contrapé” por mudanças no cenário.

“O BC do Brasil foi corajoso de iniciar cortes em 0,50 ponto porcentual e, simultaneamente, assumir guidance que está lá. Se engajou em esporte de alto risco que até agora se pagou”, afirmou.

“A gente achou um ritmo de corte que permitiu ajustar o nível de contração da política monetária num cenário de desinflação, e simultaneamente num ritmo que dá tempo de a gente observar a velocidade de reação da economia nessas várias variáveis – como vai reagir a política monetária norte-americana, como as variáveis brasileiras vão reagir, o mercado de trabalho”, acrescentou.

Com informações do Estadão Conteúdo