Petrobras (PETR3; PETR4) quer construir parques eólicos offshore; por que o mercado não gostou?

Ações da companhia despencaram logo após o anúncio

A Petrobras (PETR3; PETR4) está sinalizando esforços para acelerar a transição energética em sua agenda ESG.

Sob comando de Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, a estatal está prospectando estudos para construir sete parques eólicos offshore. Ou seja, instalações com turbinas eólicas localizadas em alto-mar que aproveitam o vento do oceano.

Entre as companhias nacionais de petróleo (NOCs, na sigla em inglês), a mudança pode evitar que a Petrobras rume ao fracasso na transição energética, já consolidada ou em progresso entre pares internacionais. Para o mercado, no entanto, o anúncio dos parques eólicos offshore não agradou tanto.

Petrobras (PETR3, PETR4) quer criar 7 parques eólicos

Segundo a carta de intenções assinada pela Petrobras, os sete projetos de parques eólicos teriam capacidade de gerar 14,5 GW. A potência que supera da usina hidrelétrica Itaipu Binacional, segunda maior do mundo.

O acordo é fruto de um termo de cooperação assinado com a Equinor já em 2018, para estudo de viabilização de dois parques eólicos offshore na fronteira interestadual litorânea de Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Com o novo acordo, a Equinor deve apoiar estudos realizados pela Petrobras para mais cinco parques distribuídos em outros quatro estados:

  • Piauí (com o parque Mangara)
  • Ceará (com o parque Ibitucatu);
  • Fronteira litorânea entre o Rio Grande do Norte e Ceará (a instalação se chamará Colibri)
  • Rio Grande do Sul (com dois parques eólicos: Atobá e Ibituassu)

Os projetos de estudo têm vigência até 2028, de acordo com a Petrobras. Assim, a companhia segue seu plano estratégico do quadriênio 2023-2027, que prevê o aprofundamento de estudos no ramo de energia eólica offshore.

Por que PETR3 e PETR4 caíram após o anúncio?

O anúncio de estudo dos sete parques eólicos offshore foi mal recebido pelo mercado brasileiro. Um dia após a assinatura da carta de intenções para o estudo dos projetos, as ações preferenciais (PETR4) da Petrobras caíram 3,31%, enquanto as ordinárias (PETR3) amargou queda de 3,03%. As ações estiveram entre as maiores baixas do Ibovespa naquele dia.

A reação do mercado levou Jean Paul Prates a gravar um comunicado em vídeo. Na gravação, o presidente diz que o acordo com a Equinor “gerou indevidamente a noção de que a Petrobras estaria alocando capital nesses processos estudos de parques eólicos”. Prates também explicou que os estudos são desenhos de blocos marítimos em “fase inicial”.

“Não faz sentido somar os megawatts que nós anunciamos no total dos sete projetos e achar que vamos fazer esse aporte todo de uma vez. É como achar que a Petrobras investe em blocos inscritos em uma licitação a partir do valor de todos eles”, disse Prates.

Investidor teme Petrobras menos rentável

O temor do investidor, na análise de um técnico do setor sob condição de anonimato, é de que os projetos eólicos seriam só a ponta do iceberg. O receio é de que a estatal passe, na gestão Prates, a investir em projetos de alto investimento — chamado Capex — e pouco retorno, deixando a empresa menos lucrativa.

Na visão do analista, outro motivo para que o investidor fique com um pé atrás quando ouve falar da Petrobras estudando parques eólicos é a comparação com projetos anteriores. O agente do mercado financeiro, nesse sentido, tende a pesar na balança o investimento e o rendimento de projetos de extração como o pré-sal, que dão mais retorno financeiro à Petrobras no longo prazo.

As ações, obviamente, sofrem impacto porque o investidor, especialmente o pessoa física, tenta fugir de uma previsão de “tempo ruim” à frente.

Em relatório divulgado no início de março, o BTG Pactual ressaltou que os dividendos pagos pela na esteira dos resultados do 4º trimestre, com yield de 11% ao investidor, estariam ‘dando adeus’.

“Acreditamos que tanto o estatuto da empresa quanto a lei das estatais estão em alto risco, com fortes indícios de que o governo pretende usar a Petrobras para incentivar maiores investimentos no país, subsidiar preços de combustíveis e promover a diversificação acelerada em segmentos renováveis”, escreveram aos investidores os analistas Pedro Soares, Thiago Duarte e Bruno Lima, do BTG. A recomendação do banco para os papéis da Petrobras é neutra.

Projetos não devem prejudicar caixa, diz analista

Gabriel Roisenberg, vice-presidente da consultoria de energia Rystad Energy no Brasil, explica que o estudo para parques eólicos não deve drenar o caixa da Petrobras no curto prazo. Para ele, o cenário mundial de inflação energética provocado pela Guerra da Ucrânia prioriza o estudo de projetos de longo prazo focados em fontes alternativas.

“Eu não vejo que os projetos seriam capazes de drenar o caixa da Petrobras. Estamos na fase zero do projeto, e quando ele for melhor definido, o mercado terá uma visão mais clara dos investimentos e da viabilidade”, diz Roisenberg, ao também frisar que a petroleira tenta balancear demandas de curto e longo prazo.

Confira a entrevista completa com Gabriel Roisenberg, VP da Rystad Energy do Brasil:

Há vantagens e desvantagens em parques eólicos offshore

De acordo com um levantamento da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), o custo de investimentos para erguer um parque eólico offshore custa o dobro de uma mesma instalação concluída em solo brasileiro, o onshore. Enquanto parques onshore devem drenar os cofres da Petrobras em algo em torno de R$ 4.500/kW, os offshores podem custar de R$ 8.700/kW a R$ 15.600/kW.

Além disso, o custo de manutenção na operação de um parque eólico offshore pode chegar ao triplo de um par onshore.

Para Armando Cavanha, pesquisador da PUC-SP e ex-conselheiro da Petrobras, a companhia deve investir em ambos se quiser concluir sua transição energética.

O projeto deve tornar a Petrobras mais valiosa, desde que a empresa não abandone o segmento de óleo e gás. Para o ex-conselheiro da estatal, o nível de investimentos da Petrobras deve ser de 85% a 90% em óleo ou gás, alocando o resto na transição energética.

O especialista listou algumas vantagens do modelo offshore para um parque eólico terrestre:

  • Vantagens
    • Geração maior de energia por real investido
    • Turbinas maiores
    • Mais ventos e menor intermitências (intervalo entre correntes de ventos)
  • Desvantagens
    • Manutenção e reparos são mais caros
    • Geram menos empregos que turbinas onshore

Petrobras pode valer mais após estudos

Cavanha defende que a agenda renovável seja prioridade da companhia porque o objetivo de gestões anteriores, amortizar a dívida de R$ 60 bilhões, foi concluído.

“Acho que a Petrobras fica mais atrativa como companhia [com os projetos de parques eólicos]. O movimento representa uma diversidade na matriz da empresa, e vai valer mais quando complementar com as energias renováveis.”

Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), define a participação da Petrobras como importante para o setor de energia eólica como um todo. Criticando gestões passadas pela falta de entrada neste setor, Elbia explica que o primeiro passo da Petrobras deve aquecer o resto do setor.

Dentro dos projetos em fase de licenciamento ambiental no IBAMA, dados da EPE apontam que, somados, os parques eólicos tem potencial para gerar 136 GW.

Ou seja, quase dez vezes mais do que os sete campos prospectados pela Petrobras.

“O potencial dos sete parques em estudo é grande, porque o consumo de energia no Brasil cresce em média de 6 GW por ano”, comenta Elbia.

A Petrobras está dentro do cronograma para a transição energética e a carreira de grandes projetos na área será absorvida pelo mercado lentamente, diz a presidente executiva da ABEEólica.

Leia a seguir

Leia a seguir